Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O que não é a matéria da Veja sobre as Farc e o PT

Responda depois de pensar bem, para não fazer juízos precipitados: como se deve chamar a matéria de capa da Veja desta semana?

A revista diz que supostos documentos da Agência Brasileira de Inteligência – supostos porque não os mostra e porque não identifica quem diz que existem – afirmam que a organização guerrilheira colombiana Farc teria prometido doar US$ 5 milhões a candidatos petistas nas eleições de 2002.

Teria porque a própria Veja ressalva não ter provas nem da promessa, nem de que tenha sido cumprida, depois de investigar o assunto durante cinco semanas.

Textualmente: ‘[a revista] não encontrou indícios sólidos de que os US$ 5 milhões tenham saído das Farc e chegado nos cofres do PT.’

Mesmo quando o indício é gasoso, o resultado é o mesmo. A Veja cita um relatório, a que teria tido acesso, de um agente da Abin que teria participado de uma reunião numa chácara pertencente a um sindicalista, a 40 quilômetros de Brasília, em abril de 2002.

Na suposta reunião, o suposto ‘embaixador’ das Farc no Brasil, padre Olivério Medina, teria dito que os dólares seriam entregues ao PT por intermédio de 300 empresários.

Procurado pela revista, o padre negou a história. E a Veja, além de confessar que a sua investigação ‘não avançou um milímetro nesse particular’, sugere que a suposta oferta do padre pode ter sido uma bravata.

Fontes do PT acusam a Veja de requentar uma denúncia. Verdade ou não, pode ser significativo a revista lembrar que no ano passado o deputado Alberto Fraga, do PTB do Distrito Federal, apresentou a mesma denúncia e também citou como fonte papéis da Abin. Ele pediu uma CPI sobre o caso, mas não teve apoio.

Então, por que publicar uma antimatéria dessas, ainda mais como capa?

Essa pergunta traz de volta aquela do início deste texto: como se deve chamar a matéria de capa da Veja desta semana?

Para jornalistas sérios, as respostas podem ser várias – algumas delas impublicáveis, talvez. Mas nunca será esta: jornalismo.



Para edificação da Veja – e de muitos mais

Dezenas de pessoas não ouviram dizer que Brian Nicholas matou três em um tribunal de Atlanta e fugiu. Viram.

Ainda assim, veja como o New York Times e o Washington Post, para ficar só nesses, noticiaram a sua prisão um dia depois:

O primeiro: ‘Polícia captura suspeito de Atlanta em matança em tribunal’.

O segundo: ‘Preso suspeito de dar tiros em Atlanta’.

E não, jamais, em hipótese alguma, ‘matador’ ou ‘atirador’ de Atlanta.

[Textos fechados às 15h30 de 13/3/05]