Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O crime esbarra no jornalismo

Atuar na área de jornalismo já teve seus momentos críticos durante a ditadura, quando muitos profissionais eram forçados a calar por força da repressão dos militares. Quantos jornalistas perderam suas vidas na tentativa de informar e mudar o regime político em que vivíamos. Disso sei apenas por pesquisas em livros, pois daquela época não fiz parte.

Hoje a situação mudou, não temos mais ditadura que nos impeça de escrever e expressar nossas opiniões, sendo jornalistas ou não, nosso direito de reivindicar está garantido por lei.

Mas ainda enfrentamos obstáculos, mesmo que diferentes dos que vencemos antes. Eles nos calam e nos repreendem de forma igual ou superior de quando o país vivia sob as garras dos militares que matavam em nome da lei e da ordem.

Recentemente, recebemos a informação de que uma repórter, um fotógrafo e um motorista do jornal O Dia, do Rio de Janeiro, foram seqüestrados e mantidos em cárcere privado numa favela da zona oeste da cidade. A denúncia foi manchete da edição do jornal do domingo (1/6). Segundo informações da reportagem, os torturadores se diziam policiais. A equipe fazia uma reportagem na favela do Batan sobre as milícias – grupos paramilitares que dão proteção aos moradores em troca de dinheiro e do domínio da região.

Comum, mas vivo

Este é um dos exemplos de repressão ao trabalho dos jornalistas por parte de criminosos. Um caso que nos fez relembrar o assassinato de Tim Lopes, que trabalhava em uma reportagem sobre os bailes funk em favelas do Rio de Janeiro. Naquela época, a imprensa não fez seu papel e o caso caiu no esquecimento. Nem mesmo a brutalidade com a qual Tim Lopes foi morto serviu para que a mídia se empenhasse um pouco mais no caso.

É comum que os jornalistas não enfrentem o crime organizado, pois estamos à mercê da sorte quando tentamos ir contra o poder dos bandidos, seja no Rio ou em qualquer outro lugar.

No interior de São Paulo, todos sabemos qual é a rota do tráfico, muitos de nós talvez até saibamos quem são os verdadeiros chefes do narcotráfico do interior paulista, mas a necessidade de estar em segurança fala mais alto e preferimos apenas noticiar, onde, quando e a quantidade de drogas apreendidas. Os nomes dos poderosos do tráfico de entorpecentes não serão revelados por nós. Antes um jornalista comum e vivo, que um jornalista diferente e morto.

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Jornalista precário, Santo Antonio do Aracanguá, SP