Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Por que não se fez (direito) o que o NYT faria (torto)?

Tereza Cruvinel contou domingo no Globo que o noticiário sobre o jantar na sua casa para o presidente Lula e jornalistas, em fevereiro, levou ‘muitos leitores’ a lhe perguntar ‘se ele bebera muito’.

No sábado, Claudio Humberto contou no Dia que, duas semanas atrás, Miriam Leitão escrevera, também no Globo, que o presidente fez algo ‘perigoso’ em um jantar com a bancada do PTB. ‘Misturou uma dose de uísque com o improviso.’

Também no sábado, Mônica Bergamo contou na Folha que, em 4 de julho do ano passado, Lula ganhou, além de outros presentes, um espumante produzido por cooperativas brasileiras. Assim que a Agência Brasil colocou na internet as cenas da homenagem, uma funcionária da Secretaria de Comunicação do Governo, a do ministro Luiz Gushiken, mandou tirar do site a foto do presidente segurando a garrafa.

A foto acabou ficando. A razão para tirá-la, pelo visto, também. No registro da colunista: ‘Não ficava bem o próprio governo, argumentou [a funcionária], divulgar imagens que estimulariam os ‘boatos’ de que o presidente gosta de beber’.

Essas três histórias – publicadas depois que o Planalto desistiu de expulsar o correspondente Larry Rohter – justificam o que este leitor escreveu no Observatório, antes da imperdoável decisão autoritária, sobre as (compreensíveis) dificuldades da imprensa brasileira em tratar do que vai entrar para a história como os ‘hábitos sociais’ do presidente [veja remissão abaixo].

Lembrou-se neste espaço que, até a fatídica matéria do New York Times, a única reportagem que tocou no assunto – e só do ângulo da conveniência, ou não, para a saúde pública, de Lula aparecer na mídia com um copo de bebida – foi a de Fabiane Leite, na Folha de 5 de abril último.

E dessa reportagem se falou apenas porque um trecho dela – sobre o decreto do presidente que tornou a caipirinha ‘bebida nacional’ – está citado no 22º e último parágrafo do texto de Rohter.

Verdade singela

O que Tereza, Humberto e Mônica escreveram nesse último fim de semana não deixa dúvida que, apesar das óbvias circunstâncias atenuantes – a imprensa errou ao evitar um tema que já estava na boca do povo, nas agulhadas dos jornalistas e nos cuidados de servidores planaltinos – ‘o que, quando, quanto e com quais conseqüências o presidente bebe’, para repetir o que aqui se escreveu na edição anterior.

Rohter foi crucificado, entre outros motivos, porque o título de seu trabalho diz que os tragos do presidente são ‘preocupação nacional’.

Pelo menos os jornalistas que participaram da crucifixão tinham a obrigação de saber que repórteres não titulam as suas matérias. Se o título está errado – ou contém o que parece ser um exagero – a culpa não é do correspondente. Mesmo porque no seu texto não há nenhuma ‘preocupação nacional’.

Mas o mero fato de leitores (preocupados?) escreverem a uma colunista para saber ‘se ele bebera muito’ durante um jantar com jornalistas, ou o caso, de meio ano antes, da zelosa funcionária (esta sim, preocupada) que queria tirar do ar uma foto de Lula com uma garrafa de bebida, prova que aí estava uma legítima pauta jornalística.

Bateram duro em Rohter porque ele disse que se especula se as não raras gafes de Lula podem ter relação com o seu consumo de álcool. Possivelmente, não – e ele não demonstrou o contrário. Mas, antes do americano, a brasileira Miriam Leitão já considerara ‘perigoso’, por escrito, que o presidente tivesse misturado ‘uísque com o improviso’.

Isso implorava por uma apuração – até para se ter idéia se o que Lula sorve influi no que ele diz ou faz e, portanto, se aí mora um perigo.

Nas irrepreensíveis palavras da advogada Taís Gasparian, na Folha de 13/5:

‘O assunto escolhido pelo jornal estrangeiro não se refere a um aspecto pessoal da vida do presidente que não tenha interferência com o exercício da função pública. (…) Certamente interessa aos cidadãos ter mais informações sobre o assunto, tal como saber se se trata de consumo moderado, normal, ou se há algo mais. Até que se tenha um diagnóstico definitivo sobre a questão, é direito e mesmo dever dos jornais a busca pela informação verdadeira e a sua divulgação.’

Arrombada a porta, é fácil, naturalmente, criticar a omissão da mídia brasileira em relação à eventual importância dos ‘hábitos sociais’ de Lula.

Acontece que, salvo engano, a nenhum da legião de jornalistas que desancaram Rohter ocorreu reconhecer uma singela verdade: ‘Azar o nosso. Quem mandou a gente não ter feito direito o que o ele acabou fazendo torto?’



Cafajestada

A senadora Heloísa Helena (ex-PT) aparecer no Congresso de saia, blusa e salto alto, em vez dos habituais camiseta e jeans, é notícia e vale uma foto.

Não vale três fotos, como o Estado de S.Paulo publicou na sexta-feira. Mas isso não é tudo.

A primeira foto mostra a senadora andando. A segunda a mostra sentada, de pernas cruzadas. A terceira, em que ela aparece ainda sentada, mas com as pernas descruzadas, expõe, de frente, o vértice da calcinha.

Pior do que uma indecência, foi uma cafajestada. [Textos fechados às 16h04 de 17/5]