Tuesday, 07 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Quando vale a pena comprar jornal

Maus empregos e salários baixos são o principal problema das famílias beneficiadas pelos programas oficiais de ajuda. Setenta e nove por cento dos chefes dessas famílias têm alguma ocupação remunerada, mas não ganham o suficiente para as necessidades mínimas. Contando-se as crianças, jovens e outras pessoas empregadas, 52% dos integrantes dessas famílias trabalham.

Isso foi mostrado em pesquisa divulgada na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essas informações apareceram em todas as coberturas, mas a questão do emprego foi destacada especialmente no material da Gazeta Mercantil, produzido em São Paulo e no Rio por Luciana Collet e Sabrina Lorenzi. Foi um diferencial importante e uma bela contribuição para o debate sobre os programas de redução da pobreza.

Publicada na quinta-feira (23/3), essa foi uma das boas matérias de uma semana de boa safra no jornalismo econômico. No eixo Rio-São Paulo, os leitores de Economia receberam mercadoria de primeira em troca de seu dinheiro. É fácil destacar, dessa produção, pelo menos cinco exemplos de pautas criativas e de tratamento exaustivo de temas de peso.

Também na quinta-feira, o Estado de S.Paulo abriu o caderno ‘Economia e Negócios’ com uma boa história, assinada por Marcia de Chiara, sobre como a crise da agricultura afeta as cidades do interior do Centro-Sul. A cobertura foi complementada, na página 4, com matérias de Brasília, Porto Alegre e Coroados (SP). Mais informação viria no dia seguinte, com detalhes sobre a crise em Mato Grosso e declarações do governador Blairo Maggi sobre a possível declaração de estado de emergência. Ganhou vida, com esse material, a discussão sobre as perdas dos agricultores e sobre a movimentação do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, para conseguir a edição de uma MP do Bem para o setor.

Inadmissível, previsível

Das várias boas matérias publicadas pelo Valor Econômico durante a semana, a mais surpreendente foi a entrevista com o engenheiro Darc Costa, vice-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante a gestão de Carlos Lessa. Darc Costa aparece, nessa entrevista a Vera Saavedra Durão e Cláudia Schüffner, como privilegiado interlocutor – praticamente um guru – do presidente venezuelano Hugo Chávez e como um dos criadores do projeto do gasoduto Venezuela-Argentina (ele divide a autoria com o diretor da área de gás de Petrobrás, Ildo Sauer).

O material mais amplo sobre as hipóteses de substituição do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi apresentado, na sexta (24/3), pelo repórter Kennedy Alencar, na Folha de S.Paulo. Segundo a matéria, o mais cotado para a substituição, naquele momento, seria o presidente do BNDES, Guido Mantega, mas outros nomes de prestígio ainda estariam sendo examinados pelo presidente.

A matéria trouxe uma avaliação dos prós e contras de cada hipótese. Há uma inevitável dose de incerteza em reportagens desse tipo, mas o texto sem dúvida ajudou o leitor a formar um quadro mais amplo e mais claro das possibilidades de mudança na área da Fazenda.

Miriam Leitão mais uma vez valorizou seu espaço no Globo, com uma bela e indignada coluna sobre o cerco do governo ao caseiro Francenildo Costa, que acusou o ministro Palocci de freqüentar a casa da República de Ribeirão Preto, em Brasília. Ao mobilizar recursos do Estado para acuar um cidadão transformado em inimigo, as autoridades, comentou Miriam, fizeram algo ‘inadmissível na democracia, mas previsível no governo Lula’. A maior parte da coluna foi dedicada a mostrar, com um balanço de muitos desmandos, por que esse comportamento era previsível.

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Jornalista