Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Riscos do debate simplificado

Diante do noticiário que ao mesmo tempo celebra o aumento do consumo e alerta para o risco da inflação, o leitor pode estar se questionando o que, afinal, a imprensa quer dizer: que o brasileiro deve consumir menos ou que o aquecimento da economia faz bem ao país?


Ao pensar no assunto, é inevitável lembrar que a imprensa, de modo geral, tem interesse direto na manutenção do consumo elevado, pois sua principal receita vem da publicidade. E o anunciante precisa se diferenciar da concorrência, colocando seus produtos na mídia.


Mas os jornais não podem simplesmente ficar festejando um surto desenfreado de compras porque, afinal, além de ser um negócio, a imprensa tem supostamente o papel social de informar corretamente a sociedade, para que os cidadãos tomem decisões sensatas no dia-a-dia. Assim, faz sentido um determinado grau de contradição no noticiário sobre o assunto.


Mas esse contra-senso só se explica porque a imprensa ainda continua enxergando a economia com os olhos do passado.


Entusiasmo contido


A inclusão de milhões de famílias no mercado de consumo é um fenômeno global, associado ao desempenho das chamadas economias emergentes. De fato, muitos pobres, principalmente na Índia, na China e no Brasil, estão consumindo mais. Esse é um dos aspectos sociais do estado do mundo.


Mas existem também outras questões a serem consideradas no noticiário. Por exemplo, os níveis de produção agrícola e da indústria em geral subiram espetacularmente, o que tem provocado uma pressão adicional pela agregação de novas áreas de plantio.


Acontece que temos também o desafio ambiental. Como atender a essa nova demanda se considerarmos que as reservas do planeta estão dando sinais de esgotamento? E o que fazer quanto aos hábitos de desperdício das classes de renda média e alta?


Quando noticia o aumento do consumo, contendo seu entusiasmo pela conveniência de ser politicamente correta, a imprensa deixa de lado a questão ambiental. Como se vê, o mundo se tornou mais complexo. E o noticiário parece simplificado demais.