Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma pauta em parcelas

Os jornais informam, nesta terça-feira (12/4), que os operários do consórcio de empreiteiras decidiram voltar ao trabalho nas obras da hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira. A greve por melhores condições de trabalho havia começado no dia 15 de março, com um quebra-quebra que deixou veículos e instalações sem condições de uso. Manifestações semelhantes se espalharam por outras obras que fazem parte do Plano de Aceleração do Crescimento, apontadas como essenciais para recuperar a infraestrutura do País.


A sequência de fatos, que vem sendo acompanhada com atenção pela imprensa, com alguma repercussão no exterior, coloca na pauta a questão da sustentabilidade do modelo brasileiro de desenvolvimento. No entanto, o noticiário raramente junta as partes do tema, o que pode dificultar o entendimento da grande questão que está por trás dos protestos de operários em grandes obras.


O Brasil vem cumprindo regularmente seus compromissos na área ambiental, e embora ameaçado por mudanças no Código Florestal, o tema tem merecido cobertura mais frequente da mídia. Nesta terça-feira, por exemplo, o leitor fica sabendo que estamos bem munidos de estudos locais sobre mudanças climáticas, o que é considerado fundamental para os planos de desenvolvimento.


Quebra-cabeça


O que tem faltado na ação da imprensa é ligar os fatos.


Por exemplo, destrinchar esses estudos e analisar se e como as grandes obras de infraestrutura contribuem para os objetivos globais de redução de emissões de gases do efeito estufa. Pelo que foi divulgado nesta terça, há carência de pesquisas sobre a biodiversidade da Mata Atlântica, a caatinga e o semi-árido, e faltam estudos sobre a relação entre o Pantanal e as mudanças climáticas. A imprensa divulgou recentemente relatos sobre grandes enchentes na região, mas não houve a relação direta com o estado de emergência ambiental global.


Por outro lado, começam a aparecer nos jornais reportagens sobre outro aspecto dos questionamentos sobre a sustentabilidade do PAC, geralmente omitido pela imprensa e que veio à tona com as greves e depredações nas obras de hidrelétricas.


Conforme a Folha de S.Paulo publicou na segunda-feira, dia 11, os operários vivem em péssimas condições em canteiros de obras do projeto Minha Casa, Minha Vida. O alerta tem grande valor para prevenir novos conflitos e levar à correção de desmandos praticados em setores terceirizados.


Mas o assunto já desapareceu outra vez dos jornais.


 


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Observatório da Imprensa na TV


Como a mídia pode ajudar a controlar a corrupção policial?


Esse assunto frequentemente é coberto pela imprensa, mas não da forma sistemática como deveria.


No mês de fevereiro, o caso de envolvimento de policiais civis e militares do Rio de Janeiro com tráfico de drogas e milícias foi alvo de uma megaoperação da Polícia Federal e também da atenção da imprensa. Mas o tema da corrupção policial saiu de cena tão logo os fatos amornaram.


Em São Paulo, em 2009, denúncias de corrupção e de envolvimento em negociações com o grupo criminoso conhecido como PCC provocaram a exoneração do ex-secretário-adjunto de Segurança Pública, Lauro Malheiros Neto. Malheiros era braço direito do ex-secretário da Segurança Pública do Estado, Ronaldo Marzagão, que pediu demissão por causa do escândalo.


Na mesma leva caiu Maurício Lemes Freire, ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, que, posteriormente, tornou-se suspeito de encobrir fraude em um concurso para perito criminal de 2005. Esse é outro caso que foi esquecido pela imprensa.


Quando se discute segurança nas escolas, a partir do massacre em Realengo, é preciso ampliar o olhar, revelando as falhas do sistema cuja solução depende apenas de vontade política das autoridades e do engajamento da sociedade.


Nesta terça-feira, os repórteres Vera Araújo, do Globo, e Bruno Paes Manso, do Estadão, contracenam com o sociólogo Luiz Eduardo Soares. Eles discutem com Alberto Dines o que o jornalismo pode fazer para mudar este cenário.


A nova edição do Observatório da Imprensa vai ao ar às dez da noite pela TV Brasil, em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 181 da TVA.