Tuesday, 12 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Análise furada, cobertura preconceituosa

Gilberto Bastos enviou carta aberta ao jornalista Rubens Nóbrega, alegando que o jornal Correio da Paraíba de quinta-feira (5/6) publicou, na página A21, matéria cujo título é: ‘Ação contra rádios clandestinas: Polícia Federal dá exemplo de fiscalização’.

Cito parte da carta:

‘Na qualidade de radioamantes e membros da Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, do bairro Ernesto Geisel, em João Pessoa, ficamos constrangidos com o teor da matéria, que em determinado trecho diz: `as rádios clandestinas contribuem com o aumento da violência e da desestruturação social´.’

Na realidade, as rádios clandestinas contribuem para o aumento da desestruturação ideológica, política e econômica de um sistema de comunicação que é o maior inimigo da verdade e do povo brasileiro. Um sistema que manipula a informação para defender o interesse dos grandes capitalistas.

O pior inimigo do jornalismo: a imprensa, tal como ela existe hoje (Perseu Abramo):

‘A tendência poderá caminhar no sentido de vedar, ao empresário privado, a exploração desse setor de atividades. A comunicação, e principalmente a informação, passarão a ser objeto de exploração apenas por parte do Estado ou de instituições de direito público, sob controle público. A assunção, por parte do Estado, de toda a comunicação de massa e de toda a informação, também dependerá da conjuntura e da correlação de forças sociais. Para parte dominada da sociedade ela é tão indesejável quanto a propriedade privada dos meios de comunicação. As classes dominadas, portanto, tenderão a lutar pela transformação dos órgãos privados e estatais em órgãos públicos, sob formas e mecanismos que evidentemente ainda estão por ser engendrados e desenvolvidos. E finalmente, então, o jornalismo poderá se libertar do seu pior inimigo: a imprensa, tal como ela existe hoje’ (ver aqui)

Os presos e os libertos

Clandestinas ou não, há farta literatura sobre os benefícios que as RadCom trazem à sociedade, inversamente proporcional à campanha feita contra elas pela mídia mercenária e oligopolista, que jamais permitirá docilmente que os pobres tenham direito à expressão e à liberdade de imprensa, acessando aos meios de comunicação de massa.

Rubens Nóbrega não está só. Ele não aprendeu ainda a procurar a outra parte interessada no fato e publicar também o contraditório – no caso, a associação que congrega as rádios comunitárias.

Há algo que muitos jornalistas como ele não conseguem fazer: uma pesquisa sobre ‘Educomunicação’, Cicília Peruzzo e rádios ‘comunitárias’ (ver aqui). Destaco o livro Radiodifusão comunitária como fator de desenvolvimento local.

Suas faculdades de comunicação, bem como o sistema de ensino em geral, são feitos para gerar apopléticos, presos numa Matrix da qual poucos escapam. E os libertos dificilmente interessarão à linha de produção do sistema.

Prenstituição e autocensura

Lamentavelmente, como quase tudo se tornou mercadoria, a grande maioria dos jornalistas mais destacados também. (Os menos destacados, jornalistas ou não, podem dizer o que quiserem, contra ou a favor do sistema autofágico, que não conta.)

Na ‘ditadura da mídia mercantilista’ (Emir Sader), eles desempenham um papel fundamental. É a prenstituição. São pagos para não pensar e fazer apenas o que lhes é mandado, quando não praticando a autocensura ou se antecipando em premonizar o desejo de seus senhores.

Mais detalhes em ‘Prenstituição – Jornalistas na cama do Exército, como as prostitutas‘; ‘Cultura do Ludíbrio‘; ‘Jornalistas: Covardia ou Deficiência de Caráter?‘; ‘Rádios `piratas´: o que a Band esconde?‘; ‘Sistema Popular de Comunicação

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Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e membro do Conselho Consultor da Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (CMQV)