Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Emissora mineira prepara estréia no rádio digital

A rádio Itatiaia de Belo Horizonte foi fundada em 20 de janeiro de 1952 pelo jornalista mineiro Januário Carneiro. Com o tempo, ele expandiu suas atividades empresariais e formou o maior grupo de rádio de Minas e um dos maiores do Brasil. O grupo emprega cerca de 70 jornalistas, 30 dos quais especializados em esporte.

Além das estações AM e FM que possui na capital mineira, a Itatiaia detém outras seis concessões no estado: as rádios AM Ouro Preto, Triângulo, e as estações FM de Ipatinga, Juiz de Fora, Montes Claros e Sul de Minas.

A Itatiaia foi a primeira emissora mineira a contratar um canal de satélite da Embratel para ampliar o alcance de sua programação. Assim, foi possível criar a Rede Itasat, constituída pelas seis concessões próprias e por mais de 60 estações afiliadas. Sua cobertura abrange quase 800 dos 853 municípios mineiros, o correspondente a 92% do território do estado. A rádio ainda pode ser acessada pela internet, pela Sky (canal 411) e pela Net (canal 351). Também pode ser sintonizada nos telefones celulares que dispõem da tecnologia adequada.

Irmão do fundador, o atual diretor presidente do grupo, Emanuel Carneiro, começou a trabalhar na rádio em 1956, aos 13 anos, como office boy. Foi operador de som, plantonista esportivo, repórter, redator, programador musical, diretor artístico e diretor de operações. Assumiu o cargo atual com a morte de Januário Carneiro, em 1994. Emanuel concedeu esta entrevista na sede do grupo, no bairro Bonfim, em Belo Horizonte.

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Comete-se uma injustiça com o rádio

O que a Itatiaia espera de 2010?

Emanuel Carneiro – Tivemos um ano bom em 2009: nossa audiência atingiu patamares nunca alcançados. A perspectiva para 2010 é boa. É ano de eleição e de Copa do Mundo. Isso altera muito a nossa vida, o nosso cotidiano, a economia. No caso da Rádio Itatiaia, nossa vida é muito pautada pelo esporte. Se os clubes estiverem bem, se o Cruzeiro for bem na Libertadores, se o Atlético formar o time que está imaginando com o Wanderley Luxemburgo, poderemos contar com o crescimento da audiência e a vinda de patrocinadores. Eu estou otimista.

Segundo dados da Abert, o investimento do mercado publicitário no rádio cresceu cerca de 6% nos primeiros oito meses do ano de 2009. Você espera um bom investimento do mercado em rádio em 2010?

E.C. – O rádio ainda não tem o retorno de verbas publicitárias que merece. Eu não sei se o rádio é mal vendido, se é mal compreendido, se virou mídia alternativa… Não sei o que aconteceu ao longo dos anos que o rádio não se vendeu como devia. O rádio está precisando fazer marketing, ter presença maior junto aos grandes anunciantes. Muita coisa está se perdendo para a TV a cabo – que não tem nenhuma significação junto à grande massa, como tem o rádio. Mas é moda anunciar na TV a cabo. Eu às vezes me espanto com a verba publicitária destinada às TVs a cabo, que têm aí um décimo da audiência de uma rádio como a Itatiaia. Uma grande injustiça que se comete com o rádio é que se passa para o público a idéia de que rádio é coisa de pobre, coisa popular, sendo que, no caso da Itatiaia, nós podemos provar com números que temos uma audiência fantástica na classe A e B, junto ao público formador de opinião, junto ao público consumidor de alto poder aquisitivo, junto ao público que tem curso superior. O rádio precisa explicar melhor a audiência que ele atinge. O rádio continua sendo uma mídia muito forte, muito presente. Tem mais audiência que a televisão entre seis da manhã e sete da noite, antes do horário nobre.

Público da Itatiaia é muito qualificado

Muita gente fala que, historicamente, o perfil da economia mineira, concentrada nos setores primário e secundário, sempre gerou pouca necessidade de investimento em mídia. Já é possível notar alguma mudança na economia do estado com o conseqüente incremento do mercado publicitário?

E.C. – Em Belo Horizonte, há alguns anos tínhamos o Banco Nacional, o Banco da Lavoura, o Banco Mineiro do Oeste, o Banco do Comércio e Indústria, o Bemge, a Minas Caixa, o Credireal. Isso não existe mais. Tivemos também uma época de grandes anunciantes no comércio varejista: a Mesbla, a Ingleza Levi, a Pepsi, as Lojas Orlando, que foram para São Paulo. A Casa do Rádio acabou. Restou o ‘Ricardo Eletro’. Uma grande parte do nosso faturamento, uns 35 %, vem dos grandes anunciantes de São Paulo e da área federal, de Brasília. O mercado publicitário mineiro sofreu um grande baque a partir do episódio do ‘mensalão’, quando perdemos duas agências extraordinárias, a DNA e a SMP&B, que já tinham presença nacional. O mercado publicitário mineiro seria hoje o quinto ou sexto no Brasil. O primeiro lugar é de São Paulo; o segundo é do interior de SP; o terceiro é o Rio; depois vêm o Rio Grande do Sul, o Paraná, a Bahia… Isso decorre da natureza da nossa economia: as nossas grandes empresas – como a Usiminas, a Acesita, a Belgo, a Mannesmann, a Açominas… – não têm produto para anunciar para o público consumidor, elas fazem é revista especializada, relatórios anuais etc. Mas isso está mudando um pouco também. Essas empresas estão indo muito agora para o lado social, para a ecologia, para a solidariedade e isso tem que ser mostrado ao público. A Vale está fazendo isso. A Usiminas também. As coisas estão mudando um pouco. Mas o mercado mineiro tem muito para crescer. A notícia boa é que está surgindo uma geração nova de publicitários. Eu diria que a publicidade mineira está se preparando para dar um salto. Nós sempre geramos grandes talentos na publicidade. Além de minério e mineiros, Minas tem muita capacidade de produzir bons jornalistas e bons publicitários. As agências de Rio, SP e Brasília estão cheias de mineiros. Eu sou muito otimista.

Entre as rádios FM de Belo Horizonte, a Itatiaia não lidera o ranking de audiência. Subir nesse ranking é uma preocupação da rádio?

E.C. – No AM, a Itatiaia tem quase a metade da audiência. No FM, é a terceira colocada. Somando AM e FM, estamos em primeiro lugar em número de ouvintes de rádio em Belo Horizonte. No espaço de um mês, a Itatiaia atinge dois milhões de ouvintes diferentes na região metropolitana de Belo Horizonte. A diferença é que o público da Itatiaia é muito qualificado. Ela tem uma grande massa de ouvintes e, somado a isso, tem muita credibilidade junto ao público formador de opinião, junto às autoridades. O que a Itatiaia põe no ar repercute muito. A opinião dela pesa. É diferente comparar a nossa posição com a audiência de uma rádio que toca música sertaneja o dia inteiro: o que ela fala entra num ouvido e sai pelo outro.

Sistema escolhido fará os ajustes necessários

O que se pode esperar do rádio digital?

E.C. – Implantou-se a rádio digital nos EUA. Criou-se lá um sistema. Os donos desse sistema, o Iboc (In-Band On-Channel), fizeram experiência no Brasil e todo mundo chegou à conclusão de que ele era o único sistema viável. Para o AM, o resultado da implantação do digital não foi o que eles esperavam, embora eu ache que o AM será o grande beneficiário do rádio digital porque vai ter um som de FM. Depois apareceu o sistema europeu e seus idealizadores pediram que o governo brasileiro fizesse também com ele as experiências necessárias. Quando o ministro das Comunicações, Hélio Costa, estava com a idéia já formada de que o melhor sistema seria o americano, permitiu experiências com o modelo europeu, o chamado DRM (Digital Rádio Mundiale, e ficou impressionado com as soluções que esse sistema apresentou. Então, neste momento o DRM está fazendo experiências no Brasil. Agora, no começo de fevereiro, a Itatiaia vai ser o canal da experiência do sistema em Belo Horizonte, tanto no AM como no FM. Aquilo que o Iboc fez, o DRM vai fazer. O Hélio Costa gostaria de definir o modelo do rádio digital antes de se desincompatibilizar do Ministério das Comunicações. Os dois sistemas são muito bons. Eu preferiria o sistema americano porque ele já está funcionando. Tem centenas de emissoras operando com base nele. Já há inúmeros fabricantes do sistema americano. A nossa tradição é acompanhar o mesmo rádio que se faz nos EUA. O Brasil tem o segundo maior rádio comercial do mundo, apenas atrás dos EUA. Então o receptor que fosse comprado lá serviria aqui no Brasil. O DRM exigiria um outro tipo de receptor. Então, o rádio digital no Brasil só virá quando houver uma definição oficial do sistema. A partir daí, o fabricante surgirá no processo para que ele abasteça o mercado de receptores. Isso é negocio para dois, três anos…

A crítica que se faz ao Iboc é que ele não é tão bom para as ondas curtas…

E.C. – É, o DRM é forte para ondas curtas. Eu tenho a impressão de que, ao longo do caminho, o sistema escolhido fará os ajustes necessários para funcionar bem e ser capaz de corrigir as deficiências, onde elas existirem.

Som perfeito, de alta qualidade

Quando houver a implantação da rádio digital, se for possível, a Itatiaia pensa em implantar a multiprogramação, os outros canais?…

E.C. – Isso é um ponto forte do rádio digital. Nós tínhamos uma emissora de FM, que era musical: ‘FM Itatiaia, música e informação da melhor qualidade’. Num determinado momento, chegamos à conclusão de que a programação da Itatiaia AM precisava estar também em FM. Aí, desativamos a emissora musical há cerca de 10 anos e hoje apresentamos a mesma programação em AM e FM. Mas houve um protesto muito grande dos ouvintes quando acabamos com a FM Itatiaia porque a rádio era muito boa. Então, a primeira idéia seria, no segundo canal, trazer de volta a FM Itatiaia. É um compromisso que a gente tem. Música, variedades… No terceiro canal faríamos um canal só de esporte ou só de jornalismo.

A internet é importante para o seu negócio hoje?

E.C. – Hoje é impressionante a resposta que obtemos do mineiro que mora fora de Belo Horizonte ou fora do Brasil. Em dia de jogos importantes, em que o torcedor pode ouvir a Itatiaia pela internet, temos problemas de acesso ao site. Agora, ele está sendo todo reformulado. O novo portal vai ser muito mais interativo, mais moderno, de acordo com que a internet pede. Ela exige que o veículo seja diferente todo dia, que crie atrações, principalmente junto ao público jovem. E é o público jovem que está exigindo da Itatiaia um carinho especial porque nós não queremos ficar envelhecidos. A internet é uma maneira de interagir com esse universo. O resultado tem sido muito bom até aqui. Temos 3 milhões de acessos por mês.

A Itatiaia está na Sky, canal 411, e na Net, canal 451. Pode ser ouvida na internet e nos celulares. Que resultado isso tem apresentado?

E.C. – Ainda não há como medir, mas sei de muitos ouvintes que acompanhavam a Itatiaia pelas ondas curtas e tinham uma grande dificuldade de recepção. Agora, com a Sky, eles resolveram seu problema: o som é perfeito, de alta qualidade. O que a gente quer é a maior abrangência possível para o nosso conteúdo.

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Advogado, jornalista, mestre em Direito Internacional (UFMG) e doutorando em Direito Internacional (Universidade Autônoma de Madri)