Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Governo demorou para fazer pronunciamentos pela internet

Há anos que empresas vêm abandonando ações de comunicação na mídia tradicional para usar as redes sociais, para falar com o seu público. Que mal tem o governo fazer o mesmo?

Muitas assessorias de imprensa focam as redes sociais para divulgar seus clientes. Isso não é de hoje. E não é só por conta do desenvolvimento da internet como ferramenta de comunicação.

A progressiva diminuição de espaços na mídia tradicional à informação e ao jornalismo empurraram empresas a criarem seus canais próprios de comunicação – muitas agências, inclusive, estabeleceram áreas específicas para cuidar dessas ações na internet.

Aliás, vale citar que não são mais as relações com jornalistas dos meios de comunicação que dominam hoje as atividades das assessorias. Atualmente, imperam os serviços envolvendo elaboração de conteúdo para redes sociais e veículos de comunicação próprios, além do desenvolvimento de projetos para alavancar iniciativas que nada têm a ver com a grande imprensa.

Quando começou o boom da internet, esse direcionamento deu-se inicialmente nas assessorias de imprensa. Com o tempo, a prática foi ganhando corpo, associada ao fato da mídia tradicional encolher, diminuir de tamanho e perder audiência, circulação e importância. Houve ainda violenta restrição de temas nos jornais, revistas e telejornais nos últimos anos. Enfim, ficou impraticável às empresas tentarem expor conceitos ou apresentarem produtos inovadores ao mercado por meio da área editorial da grande imprensa.

A chiadeira da varanda gourmet

Assim, era natural que o governo também seguisse esta trilha, como de certa forma o fez formando agências de notícias virtuais e abrindo contas em redes sociais. Mas em relação às manifestações oficiais, isso curiosamente não aconteceu. Pode-se argumentar que se o governo tem à disposição as emissoras de rádio e televisão para fazer pronunciamentos. Então, por que não usá-las?

Porém, em termos de técnicas de comunicação, na atual conjuntura aliada a força da internet, não faz muito sentido ao governo insistir em se pronunciar por poucos minutos no rádio e na televisão. Embora com permissão para fazer pronunciamentos, não tem lógica defender isso como ação eficiente de comunicação de governo, interrompendo a programação de emissoras para se manifestar e, depois, ficar à mercê de comentários previsivelmente negativos nos próprios meios.

Há outro fator relevante: por não ocupar espaço no horário nobre (e caro), da mídia eletrônica, é certo que será menos criticada por ela – uma das mais antigas reclamações das emissoras de rádios e televisão ao poder público é as suas incursões na programação delas, com A Voz do Brasil, programas políticos, campanha eleitoral…

Qualquer jornalista com um mínimo de experiência em assessoria de imprensa vai dizer da importância de se priorizar as redes sociais a um assessorado. Se a opção do governo de se pronunciar pelas redes foi para evitar panelaços, a chiadeira da varanda gourmet veio mais do que em boa hora.

Em um mundo onde as empresas correm há tempos para criar vínculos e atrair seguidores pelas redes sociais e a internet, era inadmissível que o governo não fizesse o mesmo com seus manifestos de ocasião.

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Augusto Diniz é jornalista