Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Menos sensacionalismo, menos telespectadores

Na década de 90, parte da programação televisiva do Japão – em especial no horário noturno – era excessivamente violenta e sensacionalista. O que, no início, era engraçado, passou a ser preocupante. Devido aos receios expressados pelos telespectadores, alguns destes programas mais extremos foram substituídos por outros mais leves, como programas de entrevistas, séries culinárias e dramas de baixo custo. O tom ficou menos sensacionalista, mas a audiência acabou caindo, como noticia Julian Ryall [Hollywood Reporter, 18/4/06].

‘Parte do problema é que houve alguns acidentes nos shows e as pessoas se feriram’, afirma Shizuka Ota, analista da Video Research Inc. ‘Isto pode ter influenciado anunciantes, mas a sociedade também passou a levar mais a sério a segurança, nos últimos anos’. Philip Brasor, colunista de mídia do Japan Times, levanta outra razão para os atuais programas de televisão mais respeitosos e delicados. ‘A televisão japonesa chegou a um ponto no qual não há mais razão para ser aventureiro’, diz.

A maior parte das emissoras não revela a audiência dos seus programas menos populares. ‘Para ser honesto, não importam os números; eles são inflacionados devido ao hábito das donas de casa japonesas de ligar a televisão de manhã e deixá-la ligada o dia todo’, revela Makoto Watanabe, da Universidade Hokkaido. ‘Menos pessoas estão assistindo à televisão agora; principalmente os mais jovens, que podem ver o que querem pela internet’.

Sensacionalismo

A programação da TV japonesa dos anos 90 tornou-se tão bizarra que os programas eram freqüentemente temas de discussão em canais estrangeiros. Um caso infame envolveu um candidato a comediante que ficou trancado nu em um quarto pequeno por quase um ano, afirmando que só sairia dali depois de preencher cartões postais e ganhar um milhão de ienes (o que equivaleria hoje a US$ 8.500) em prêmios de sorteios promocionais.

Um outro programa de sucesso na época era ainda mais violento: times de estudantes competiam entre si através de disputas nada prazerosas. Alguns eram enterrados até o pescoço na areia e lambidos por répteis; outros chegaram a participar de maratonas de bicicleta com a boca cheia de curry e alguns tiveram a perna amarrada a veículos e foram arrastados por diversas pistas. Vencia o programa o estudante que resistia ao maior número de provas absurdas.