Saturday, 14 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O danoso precedente da ‘Lulinha FM’

Depois de se manter no ar por 29 anos, fecharam a Radio Cidade FM do Rio. Dezenas de radialistas na rua. Em seu lugar entrou a Oi FM, já batizada de Lulinha FM por uma questão de lógica. A Oi, operadora de celulares, pertence à Telemar, que patrocina projetos do filho do presidente Lula. Por mais que a operação Telemar/Oi/Rádio Cidade tenha sido lícita, não me parece elegante.

Para piorar as coisas, a Lulinha FM usa computadores na locução e programação musical do Rio. Vozes pré-gravadas de profissionais pífios, com todo o desrespeito que os pífios merecem. As músicas seguem a seqüência lógica/binária/burra dos computadores. Se por um lado esse ‘modelo’ é venéreo para os ouvintes e para o mercado de trabalho, é um oásis no quesito custo/benefício. Mais: uma emissora de rádio não vive de audiência, e sim de faturamento. Qualquer ema do pantanal percebeu que a Lulinha FM é péssima e, pela lógica, isso vai gerar uma audiência quase nula. Pela lógica! Mas será que empresariado e banqueiros brasileiros não vão querer afagar uma emissora que pertence a um grupo que patrocina o filho do presidente injetando fartas verbas de publicidade? Só o tempo dirá.

Queremos saber

Por que a Lulinha FM vai ser um fracasso de audiência? Elementar. O Rio não ouve rádio robotizada. Não conheço bem São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador. Todos os projetos de emissoras operadas por máquinas, computadores e similares foram degolados pela audiência carioca. O Rio gosta de rádio ao vivo, vozes vivas, músicas escolhidas por gente. O Rio atura até o hediondo jabá, atura locutor imbecil, mas rádio de robô, não.

A Lulinha FM escancara um perigosíssimo precedente. Será que as outras celuleiras e afins, diante desse fato, não vão querer montar também as suas FMs, atropelando empresas de comunicação que há anos investem em gente, equipamentos? Será que Vivo, Claro e Tim não vão querer se mexer? Ou vão deixar a Oi FM, digo, a Lulinha FM voar em céu de brigadeiro sem ser importunada?

Como cantou em uma bela canção num passado não muito remoto, o ministro Gilberto Gil clamou ‘queremos saber’. Pois nós também. Queremos saber como andam as leis que regem as concessões do governo em rádio. Será que o país partiu pro ‘É permitido permitir’ ou a lei foi mudada? Queremos saber.

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Jornalista e radialista