Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A popularidade de Dilma e a resposta da militância virtual

Se agir, ainda se recupera a tempo da eleição. Nada em política é definitivo – como demonstra a sua queda retumbante. Porém, com certos ministros que ela tem, fica quase impossível reagir. E se não agir… Certamente perderá a eleição. Onde estava José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, que aparentemente não tinha serviço de inteligência para prever os protestos acontecidos e sobretudo os seus desdobramentos violentos? E os outros, que não interpretaram números, anseios e movimentações – inclusive via Facebook! – da classe média? E a articulação política do executivo junto ao Congresso Nacional? Ainda há tempo de agir. Mas está difícil. A imprensa tomou os protestos com a mesma sanha que se apoderou dela quando do surgimento do chamado mensalão. Não lhe restava alternativa, afinal de contas. Este passou a ser o assunto do momento. Assim sendo, a lógica de “usar o controle” para mudar a programação, como gosta de dizer a presidenta quando o assunto é comunicação social, não a ajudará muito. Todos os canais estão abordando o tema avidamente – até mesmo na TV a cabo.

A presidenta é que tem que usar o controle e mandar um certo pessoal para casa, já que nos ministérios eles estão inoperantes.

De outra banda, a militância petista via internet merece uma nota à parte. Está completamente desorientada. Um exemplo: o mundo está pegando fogo e uma das notícias que Emir Sader entende por bem dar nota, junto aos seguidores de sua página no Facebook, é a de que a namorada de Joaquim Barbosa estaria se preparando para prestar o concurso para servidor dos quadros do Supremo Tribunal Federal: “Namorada de Joaquim Barbosa vai prestar concurso para o STF”. Foi ele mesmo quem deu repercussão ao fato – relevantíssimo, por sinal. O que é que tem demais nisso? Nada. É uma atitude louvável a da jovem, isso sim.

O “legado da Copa”

Ainda bem que ainda existe concurso público, não é?! Ou não? Nele, todos – todos, literalmente – podem participar. Eu mesmo tive a graça de lograr êxito em dois, até agora. Em geral, quem estuda mais, entra, e quem não estuda fica entre os reprovados. É um processo bastante democrático. Problemático seria se a namorada do cidadão trabalhasse em escritório de advocacia top-top-do-top com atuação na Suprema Corte. O que, cá para nós, dá muito mais dinheiro do que ficar em repartição pública ganhando salário de funcionário público: um analista judiciário do STF – desde que honesto, claro – não é nenhum frequentador da Ilha de Caras. Pelo menos um dos outros ministros do STF tem a esposa em tal situação, de funcionária de grande escritório advocatício. Isso, eventualmente, geraria conflito de interesse. Quer dizer, já andou gerando. Parece que o pessoal anda mesmo é incomodado com o fato de o ministro ter uma namorada bastante jovem. Que diabo é que quem quer que seja tem a ver com isso? Ela é jovem, mas não é menor de idade. O Michel Temer pode ter uma esposa bem novinha, afinal de contas… Mas o nosso vice-presidente é branco… Cuidado, Emir Sader, cuidado. Certa parte da “esquerda” parece nunca ter se conformado com a cor do ministro, isso sim!

Deixemos Sader com sua coletânea de assuntos importantes para o Brasil e passemos a outro ser pensante. O jornalista Paulo Henrique Amorim diz que usar Facebook é coisa de criança, que não traz o progresso etc., havendo, ao longo da última semana, colocado em seu blog inúmeras notícias ilustradas com fraldas e bebês de colo – seriam os integrantes do Movimento Passe Livre, na visão do “ansioso blogueiro”. Interessante. O consagrado jornalista aponta infantilidade no MPL por este usar o Facebook e o festejado professor Emir Sader usa o mesmo Facebook. Para, dentre outras coisas, difundir informações relevantíssimas como as daí de cima.

A militância favorável ao governo, percebe-se, anda com sérios problemas de comunicação junto ao grande público. Enquanto Paulo Henrique Amorim insiste em desqualificar a classe média e os jovens que integram novas formas de movimentos sociais políticos e o citado professor da UFRJ busca atingir ministro do STF – que por acaso atuou na condenação de membros do Partido dos Trabalhadores –, a popularidade da presidenta despencou, conforme noticiado na abertura deste texto. Há bastante tempo, o cientista social Marcos Coimbra, que inclusive é citado por Paulo Henrique Amorim, em mais uma de suas tentativas de ridicularizar a classe média – “Coimbra: é a classe-média antipetista” –, dizia que o sucesso reeleição de Dilma está bastante vinculado à percepção da população sobre a Copa do Mundo de 2014 – “A eleição e a Copa do Mundo”. Segundo ele, no mencionado artigo, publicado na revista CartaCapital, “se houver problemas, os culpados não serão os governos estaduais e as prefeituras. Nem os serviços públicos de segurança e saúde. Nem a CBF e a Fifa. Nem as empresas responsáveis pelas obras nos estádios, nos aeroportos, nas telecomunicações e nos transportes. Nem a infraestrutura hoteleira e a turística. A responsabilidade será do governo federal e da presidenta. Qualquer coisa negativa que ocorrer será debitada na sua conta”. Os problemas já estão acontecendo. Quais são? A infraestrutura, que segundo os defensores da Copa do Mundo, seria revolucionada, continua na mesma sofreguidão de tempos atrás. Começa a ficar clara na mente das pessoas a sensação de que o tão falado “legado da Copa” não se realizará no plano dos fatos.

Missão difícil

O problema atual para a presidenta da República, ao contrário do que dizem pessoas como Paulo Henrique Amorim e Emir Sader, não está na classe média visceralmente direitista e nem no ministro Joaquim Barbosa, que condenou membros do partido governista. O problema está na falta de qualidade de vida das grandes metrópoles, nas quais as pessoas perdem duas, três, quatro ou mesmo seis horas de seus dias em deslocamentos de casa para o trabalho e/ou escola, além de contarem com serviços públicos precários. Problema que não será contemplado, pelo visto, pelo tão falado, com tanto orgulho, “legado da Copa”. A Copa não tem trazido, para a população, os benefícios que foram prometidos. Aí está o problema. Não acredito que os apoiadores do governo evitem o tema por inocência. É impossível vislumbrar tal qualidade em pessoas tão bem-sucedidas em suas áreas como Paulo Henrique Amorim, Emir Sader e outros. A tergiversação é proposital. Eles sabem que o problema de fato, conhecido por eles, deve ser escondido dos seus leitores. Infelizmente, para eles e outros que lutam na mesma trincheira, o que se percebe é que a população não o esqueceu. E está revoltada. A fuga do tema pelos caminhos que têm escolhido os articulistas, pensadores e cientistas políticos favoráveis ao projeto de governo atual demonstram desorientação ante o que ocorre em nosso país. E falta de rumo. A Copa não está beneficiando a população que, revoltada, foi às ruas. Nada indica que os tais articulistas, pensadores e cientistas políticos sejam capazes de reverter a maré de opinião pública trazida pelos últimos acontecimentos. Principalmente ao se valerem dos métodos aqui citados.

Em tal contexto, caso o julgamento do estudioso Marcos Coimbra, exarado no texto indicado acima e proferido em meados de fevereiro de 2012, esteja correto, a reeleição de Dilma ano que vem será uma missão muito difícil.

******

Lucas Costa é bacharel em Direito e funcionário público, Recife, PE