Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

As formigas e os rinocerontes

Nós, apelidados neocríticos da mídia, vimos nos batendo contra a parcialidade da mídia há quase dois anos. Nada mudou nesse período. A parcialidade continua a mesma, tal como provam os recentes episódios da denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra o deputado Raul Jungmann e o desabamento de parte de um túnel do metrô de São Paulo que resultou em diversas mortes.


Tenho acompanhado as reportagens sobre os dois fatos. Em tudo o que li, ouvi e assisti a mídia tem se pautado pela sobriedade e pelo tecnicismo dos textos. No caso do deputado, fervoroso defensor da ética e furibundo acusador nas recentes CPIs que ocuparam grandes espaços na mídia, as reportagens primam pelo respeito à presunção da inocência. O que, aliás, é a única conduta compatível com o primado da Constituição da República, que inscreveu a presunção da inocência como um dos direitos fundamentais de todos os cidadãos brasileiros. Sequer o fato de a denúncia ter sido oferecida pelo Ministério Público Federal é realçado pela mídia. O que nos traz a lembrança o fato de que outros foram alçados à condição de ‘inimigo público número um’ por acusações bem menos fundamentadas.


Lembranças de Rauzito


No caso do metrô de São Paulo ocorre um fenômeno um tanto diverso. O estado de São Paulo não tem governador nem secretários conhecidos. O município de São Paulo não tem um prefeito conhecido. Nas duas esferas é administrado por ‘autoridades’ inominadas e apartidárias. Ninguém menciona o ‘tucano’ José Serra e o ‘pefelista’ Gilberto Kassab. Tampouco se questiona o fato de que os técnicos do metrô paulista não têm qualquer ingerência sobre a malfadada obra.


Bem diferente, por exemplo, do que se leu, ouviu e assistiu por conta do denominado ‘apagão aéreo’. Na ocasião a culpa era do Ministro da Defesa, e do Presidente da República por extensão. Sendo, ou pelo menos procurando ser, justo, esclareço que essas constatações não são minhas, mas de internautas que postaram comentários a um texto de Alberto Dines, neste Observatório.


Então, diante dos fatos, sou obrigado a render-me à constatação de que nós, os neocríticos da mídia, sofremos de megalomania. Nós somos como formigas tentando ferroar um rinoceronte. Não conseguimos nem irritá-lo. O que, pensando bem, é uma coisa boa. Porque, parafraseando Raul Seixas, ‘a mídia como um rinoceronte eu vejo/ quando se cansa das formigas, se livra delas num sacolejo’.

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Policial civil, graduado em Direito e pós-graduando em Segurança Pública e Direitos Humanos, São Pedro do Sul, RS