Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

As redes sociais e o fator político

As eleições presidenciais de 2010 inauguraram uma nova era nas campanhas políticas do Brasil: a das redes sociais. Nunca na história dos pleitos nacionais a participação de pessoas não-filiadas a partidos políticos foi tão intensa e livre como este ano. Inspirados em Barack Obama – que soube utilizar muito bem a internet para se tornar presidente dos Estados Unidos – e aproveitando a mudança da lei eleitoral em 2009, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) estreitaram seus vínculos com milhões de anônimos e foram pautados por eles, descentralizando o foco das campanhas. Isso significa uma vitória democrática, mas é preciso cuidado.

Os infinitos caminhos da internet se tornaram fonte inesgotável de conhecimento e também de desinformação, especialmente quando se trata de redes sociais. Qualquer pessoa pode postar qualquer assunto em canais como Twitter, Facebook e blogs, além de vídeos forjados no YouTube, transformando fatos inexistentes em correntes de ‘informação’. A preocupação dos assessores de Dilma e Serra com essas ferramentas foi tão grande que eles contrataram especialistas para travar uma guerra particular. Do lado petista estava o publicitário Marcelo Branco; do tucano, a jornalista Soninha. A campanha virtual foi um sucesso.

O grande mérito das redes sociais neste ano foi proporcionar que a atuação política saísse dos círculos restritos e muitas vezes excludentes dos partidos e tomasse forma em qualquer computador, iPhone, BlackBerry ou outra plataforma de propagação de conteúdo. Porém, tuitar uma frase de incentivo a um candidato ou distribuir uma corrente de e-mails a milhares de pessoas não significa, necessariamente, um ato cidadão e político. Pelo contrário, pode incentivar o preconceito, o ódio e a ignorância.

Avanço da internet é um caminho sem volta

Você mesmo, leitor, quantas vezes já deparou com esse tipo de mensagem em sua caixa de correio eletrônico? Eu, por exemplo, as ignoro. Prefiro o critério. Só que muita gente toma fatos absurdos por verdades e isso gera debates infundados, que não contribuem para o amadurecimento de uma verdadeira democracia, como o Brasil tanto almeja. Por isso, é preciso fortalecer o jornalismo e a especialização dos profissionais da imprensa do nosso país.

São essas pessoas, nas universidades e nos veículos de comunicação, que vão zelar pelo filtro ético e informativo dos milhões de mensagens disparadas nos mais diferentes canais da web. Apoiar o estudo dos avanços tecnológicos, dos critérios fundamentais das notícias e do código de ética já consolidado no país é investir no fortalecimento de uma sociedade adulta e séria.

A nova líder da nação brasileira está atenta a isso. Tanto é verdade que Dilma Rousseff, no seu primeiro pronunciamento como presidente eleita, disse que é a favor da liberdade de imprensa e da valorização da democracia em toda sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais. Se ela vai cumprir, temos que esperar e fiscalizar.

Também temos que olhar para nossos atos e examinar o quanto estamos contribuindo para a evolução disso – ou para o retrocesso. No comodismo dos nossos lares e dos nossos computadores, costumamos disparar críticas contra os políticos e não percebemos que eles nada mais são do que um reflexo das nossas famílias, cidades e estados. Então, é preciso sobriedade e serenidade, pois o nosso passado ensina que a desunião só traz prejuízos.

O avanço da internet é um caminho sem volta e a tendência é que o mundo virtual tome conta de todos os setores da sociedade e dos grandes eventos, tendo como guardião o jornalismo.

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Jornalista