Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Carta ao presidente da República



São Paulo, 17 de julho de 2006.


Excelentíssimo Senhor


LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Presidente da República Federativa do Brasil


Gabinete da Presidência


Palácio do Planalto – 5º andar


70150-900 – Brasília – DF


Senhor Presidente,


Em defesa da democracia e do livre exercício da profissão de comunicador, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial – ABERJE, entidade que há cerca de quatro décadas reúne corporações, agências de comunicação e profissionais de diferentes especialidades, sempre em busca da valorização do pluralismo e da mestiçagem, vem solicitar a Vossa Excelência que vete o Projeto de Lei Complementar 79/2004, de iniciativa do deputado Pastor Amarildo, agora aprovada pelo Congresso Nacional.


Poucas vezes na história republicana uma lei reuniu tantos elementos negativos contra o livre exercício de uma profissão. Além de criar injustificada reserva de mercado e ameaçar mais de 200 mil postos de trabalho, hoje ocupados por comunicadores das mais diferentes qualificações no âmbito da iniciativa privada e do poder público, representa, de qualquer ângulo que se avalie, um violento golpe contra a liberdade que só encontra precedentes na censura imposta nos idos do regime autoritário.


Em primeiro lugar, porque a matéria-prima essencial da comunicação é a diversidade cultural. A união de profissionais de origens e experiências distintas está na base do diálogo construtivo de toda iniciativa nesse campo estratégico de uma sociedade democrática que se proponha a ser coerente e produzir resultados que favoreçam ao bem comum.


A segunda razão é conseqüência da primeira. Como se vive num ambiente plural e criativo, qualquer tentativa de estabelecer um monopólio do exercício profissional para uma das muitas categorias profissionais que nele trabalham, imediatamente provocará o desemprego em vastas proporções. Não só para as gerações atuais, mas principalmente para as gerações futuras que terão seus sonhos e expectativas limitados, numa época em que a necessidade maior é ampliar horizontes de emprego e realizações.


E há ainda a questão da liberdade de expressão. O monopólio do exercício da profissão de jornalista nos termos propostos pela chamada ‘Lei Amarildo’ é uma armadilha que elimina absolutamente a possibilidade de uma comunicação que sirva ao diálogo, ao debate, enfim, a essa constante renovação que o convívio com profissionais de múltiplas vocações proporciona. São advogados, pesquisadores, sociólogos, economistas, enfim, um vasto conjunto de experiências e talentos que se somam para criar valor à comunicação e harmonizá-la com as tendências, desafios e impasses de uma sociedade que também é cada vez mais pluralista. Não se trata, portanto, apenas de um conceito, mas de uma exigência do mundo moderno e da própria afirmação da cidadania.


Se nenhum desses argumentos fosse alicerçado na realidade, o veto à ‘Lei Amarildo’ se justificaria ainda pelo seu caráter absolutamente antidemocrático. Foi uma iniciativa que começou e terminou no espaço fechado de um pequeno grupo sem representatividade em meio ao universo da comunicação, inclusive na mídia de referência, o que revela total ausência de compromisso com a realidade.


Diante de tais evidências, apelamos ao vosso elevado senso de respeito à democracia e aos direitos daqueles que exercem uma atividade tão vital e indispensável à modernização das instituições, como é a comunicação, para que torne a ‘Lei Amarildo’uma letra morta, afastando, em definitivo, as ameaças que a sua sombra projeta sobre a nascente democracia brasileira.


Convictos do indispensável apoio para evitar uma crise de vastas proporções, com perdas irreparáveis para a comunicação, renovamos nosso desejo de êxito ao Governo sob vossa liderança e nos colocamos á disposição para os esclarecimentos que vierem a ser necessários.


Respeitosamente,


Paulo Nassar, Diretor-Presidente; Rodolfo Witzig Guttilla, Presidente do Conselho Deliberativo