Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Chávez e o sócio-imperialismo

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está cada vez mais poderoso em seu país. Acaba de aprovar, em primeira votação, na Assembléia Nacional venezuelana, um instrumento legal que permitirá que ele governe por decreto nos próximos 18 meses. Os deputados, como já deu para deduzir, são, em sua esmagadora maioria, chavistas, ou seja, apóiam integralmente Hugo Chávez.

Esta lei aprovada, chamada de ‘Lei Habilitante’, dá a Chávez a possibilidade de reformar leis antigas ou novas, de emitir decretos com força de lei, de legislar sobre inúmeros temas, como sociais, políticos e econômicos, por exemplo. Em resumo, ditadura. Disfarçada, mas ditadura. Nossos vizinhos acabaram de abolir a democracia.

Hugo Chávez manda em tudo, na verdade. Alterou o nome do país, a bandeira, o brasão e está tentando, e vai conseguir, alterar até o hino nacional. Resolveu, por conta própria, não renovar a concessão a um canal de TV que o criticava, algo absolutamente normal em termos democráticos. Isto é, fim da liberdade de expressão e de imprensa.

Muito discurso e pouca ação

Diante dos fatos, qual seria o próximo ato? Isto mesmo. A barbárie vai começar. Com tantas medidas proibitivas, Chávez vai ampliar sua rede de desafetos e tende a esmagá-los. Usa o socialismo como seu pilar. Diz não ao neoliberalismo. Mas, infelizmente, usa os métodos neoliberais de calar opiniões adversas.

A ‘verdadeira’ esquerda quer o debate sempre. Gosta do discurso, do argumento. Quer um governo para o povo e contra a opressão sempre. Diz não à selvageria, mas sem responder com selvageria. Fazer o que Hugo Chávez faz é ser Estados Unidos canhoto. E o problema é que seu exemplo começa a dar frutos. Rafael Correa, no Equador, e Evo Morales, na Bolívia, se elegeram sob pilares chavistas.

Um cheiro de ditadura continental começa a surgir. Nem mesmo o Mercosul parece capaz de deter esse processo. Os desesperados e desiludidos são facilmente manipuláveis. Hugo Chávez transformou-se no herói dos latinos contra o inimigo norte-americano. As tensões só aumentam. E o povo continua miserável. Da mesma forma de quando ele assumiu a Venezuela. Ou seja, muito discurso e pouca ação.

Ditadura, jamais

Mas Chávez é assim. É um ditador multimídia. Aparece sempre rindo nas fotos, nos VTs. Dança e canta em comícios. Tem ideais bonitos, mas os aplica à força, em vez de debatê-los. Como falar mal dos EUA, quando se calam grupos de oposição com ações governamentais e se quer manter a mídia sob controle? Chávez está se igualando. E, independentemente do modelo econômico, quando a liberdade de expressão se vai, sempre há perdas. Irreparáveis e históricas.

O regime neoliberal é renegado em partes do mundo por ser desumano, focado na lógica do lucro e por tentar sempre destruir tudo que a ele se opõe. Na base do debate e da liberdade, devemos sempre ampliar as conversas sobre o que podemos fazer para melhorar o mundo em que vivemos, sobretudo a mídia que temos. Ditadura, jamais.

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Estudante de Jornalismo, Niterói, RJ