Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Cobertura tendenciosa, irresponsável e incompetente

A cobertura sobre os ‘sanguessugas’ vem sendo tendenciosa, irresponsável e incompetente. Os jornais estão publicando nomes de parlamentares como se culpados fossem sem a devida crítica das fontes e sem esclarecer ao público como funciona o Orçamento federal. Não explicam que todo parlamentar tem uma cota de emendas (ajustes) para serem apresentadas ao Orçamento federal. Cada um apresenta as suas nas áreas com que se preocupam mais. Depois de ouvir as bases políticas e apresentar as emendas, o parlamentar apenas acompanha o longo processo no governo federal, que vai de aprovação, empenho, liquidação até, finalmente, o pagamento do que foi previsto.

Esta é uma tarefa árdua. Chefes de gabinete, assessores e assistentes parlamentares têm de cumprir cansativo e humilhante périplo na Esplanada dos Ministérios com o pires na mão, se desejarem ser atendidos. Todo fim de ano, época em que se discute o Orçamento federal para o exercício seguinte, há uma disputa acirrada – porém legítima e necessária – entre parlamentares, governadores e prefeitos por uma fatia maior da parcela que cabe aos estados e aos municípios no bolo orçamentário, que equivale a pífios 6,63%, ou, aproximadamente, 98,3 bilhões. O pior é que, depois de toda essa disputa homérica, uma parte do que sobra é simplesmente contingenciada para se garantirem recursos financeiros necessários à manutenção do famigerado superávit primário, que serve para pagar juros exorbitantes aos especuladores que vivem de nossa política econômica suicida.

Fogo no Reichtag

O papel do parlamentar é apenas acompanhar e lutar, nos ministérios e órgãos federais, para que este longo caminho seja efetivado, preterivelmente, sem cortes. A partir daí, não cabe ao parlamentar o acompanhamento dos recursos previstos pela emenda. Fica a cargo das prefeituras e dos governos estaduais – ou de qualquer outro órgão a que se destine a verba prevista – a licitação, a execução e a fiscalização de obras ou serviços.

Portanto, os congressistas, ao sugerirem mudanças no Orçamento, estão fazendo seu papel, estão defendendo os interesses legítimos de suas comunidades, estão tentando, pelo menos, fazer com que a tecnocracia fazendária tire um pouco menos de recursos do que gostaria da população para dar aos banqueiros. Se a ‘máfia das sanguessugas’ se utilizou de recursos provenientes das emendas, não necessariamente a culpa é do parlamentar, mas de quem executou a licitação ou de quem deveria fiscalizar a licitação: no caso, o Tribunal de Contas.

Como já se disse, ‘no jornalismo o tecido atingido pela calúnia não se regenera’. As feridas abertas pela difamação não cicatrizam. A retratação nunca tem o mesmo espaço das acusações. E, mesmo que tivesse, a credibilidade do injustiçado nunca é restituída, pois a mentira fica marcada no imaginário popular. É preciso ter cuidado. Antes de mandar botar fogo no Reichtag – o Parlamento do império alemão –, para impor sua tirania pessoal, Hitler fez agressiva campanha contra os políticos de seu tempo. Deu no que deu.

******

Historiador e analista político, Brasília