Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

TV Brasil quer sair do traço

De que adianta acreditar que sua mensagem é boa, se ela mal chega à massa? Essa é a premissa de trabalho do novo diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o jornalista Nelson Breve, para a TV Brasil, rede pública de televisão federal criada há quatro anos. O primeiro passo é admitir graves problemas com o sinal de transmissão, o que já motiva uma obra em Brasília para promover a troca do Rio pela capital federal como sede da emissão do sinal. Também quer saber quem são e quantos são seus espectadores em todo o País, termômetro que o Ibope ainda não lhe dá com precisão.

Na sexta-feira (6/1), Nelson Breve emprestou duas horas de sua agenda à reportagem, no bairro da Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, onde ficam os estúdios da TV Brasil na capital paulista. Eis um resumo da nossa conversa:

O Boni (ex-vice-presidente na Globo) disse no Roda Vivaque desistiu de ser conselheiro da TV Brasil porque, ao chegar à primeiro reunião, houve um atraso de duas horas. Passou a ideia de um negócio muito desorganizado.

Nelson Breve– Eu tenho certeza, lendo o livro dele, que o início da TV Globo foi muito mais bagunçado do que o início da TV Brasil. Hoje, as Organizações Globo são muito mais organizadas. Estamos começando agora, atrasados, é verdade, mas ele está certo em muito do que diz sobre a comunicação pública.

Quando diz que a TV pública precisa ter cara de televisão?

N.B. – Acho que ele tem razão quando diz que nós temos de fazer uma programação de qualidade. O modelo de qualidade no Brasil é a TV Globo, mas ele diz: “O conteúdo tem que ser diferente”. E é verdade. A TV privada dificilmente vai apostar em determinados conteúdos. Eu reforço a programação infantil. Não tem nenhuma programação infantil na TV aberta brasileira com a qualidade da TV Brasil.

Nem a TV Cultura?

N.B. – Mas a TV Cultura tem uma quantidade menor. A TV Cultura tem uma boa presença aqui, mas nós temos uma rede.

Mas o sinal, o áudio, em especial, ainda é muito ruim. Há como resolver esse problema?

N.B. – Se não tivesse como resolver, eu não estaria nem aqui. Toda a nossa cadeia produtiva está em digital. Temos transmissores novos, mas como não há exibidores digitais, fizemos uma licitação e já estamos contratando. Ocorre que houve um recurso na licitação e não consegui usar o orçamento do ano passado para isso. Mas não é só. De onde sobe o sinal? Sobe do Rio. Para subir, o caminho até as torres de transmissão é tão complicado – os técnicos já percorreram esse caminho muitas vezes e não encontram o problema. Então, estou preparando a subida do sinal por Brasília. A gente está tentando terminar uma obra lá. Sempre tem licitação, a empresa não dá conta, tem que refazer… A subida do sinal em Brasília depende dessa obra.

Fica pronta ainda este ano?

N.B. – Olha, eu estou terminando a obra, mas não tenho condições de prometer nada para este ano porque no ano passado nós tivemos um corte no nosso orçamento de R$ 73 milhões.

Qual o orçamento da TV hoje?

N.B. – R$ 400 milhões. Três quartos vêm do tesouro e um quarto vem de receita própria. A receita vem do serviço que a gente presta ao governo federal.

A necessidade de licitar tudo não vai contra o ritmo da TV?

N.B. – É muito complicado. Qual é o nosso principal problema agora? Tecnologia da informação. Tem que investir muito em aplicativos. E a cada seis meses aparece uma novidade que suplanta a outra. Aí você faz uma licitação que vale por 60 meses e 6 meses depois está amarrado a uma tecnologia que não serve mais. Nossa área de desenvolvimento é pequena. Fizemos um concurso, mas a gente não consegue que um cara de ponta na área do desenvolvimento de softwares de aplicativos trabalhe por R$ 1.800 iniciais.

Qual é a audiência da TV Brasil hoje, no País todo?

N.B. – A gente faz o que acha que é uma boa programação, mas precisamos fazer com que essa programação seja vista. Aqui, em São Paulo, nossa audiência é baixíssima – 0,1 ponto (porcentual). A questão da “TV Traço” é uma realidade. No Rio, a gente tem 0,7. Em Brasília, 0,3. Mas no Rio o canal é TV educativa há muito tempo. No PNT (Painel Nacional de TV do Ibope), temos 0,2 ponto, mas isso considera a TV Brasil só em São Paulo, Rio e Brasília. As TVs educativas, privadas e universitárias que carregam nossa programação em todo o País não são computadas como TV Brasil. O Ibope alega que é um negócio meio complicado, mas vamos tentar resolver. Não é para a gente se valorizar, é para saber aonde a gente chega. Eu quero me comparar, quero ver o que está sendo recebido. O que não pode ser medido não pode ser avaliado.

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[Cristina Padiglione é da Redação do Estado de S.Paulo]