Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mais flexibilidade para explicar fontes anônimas

Em sua coluna de domingo (30/7), o ombudsman do New York Times Byron Calame tratou de um tema polêmico no jornalismo: o uso de fontes anônimas. Calame revelou que os leitores que lhe escreveram durante meses reclamando das explicações ‘falsas’ e ‘complexas’ do NYTimes sobre o anonimato de fontes devem ficar felizes com uma maior flexibilidade adotada pelo jornal.

Calame afirma que em um memorando de junho de 2005 à equipe do jornal, o editor-executivo Bill Keller pediu aos repórteres que explicassem o motivo de não revelarem a identidade em cada uma de suas fontes anônimas. As normas também pediam para descrições de como as fontes anônimas tiveram acesso às informações fornecidas aos jornalistas e o que havia motivado as fontes a falarem – informações úteis que o jornal continua a requerer nos artigos.

Em sua coluna de 20/11/05, o ombudsman falou sobre as reclamações dos leitores sobre as explicações do anonimato de fontes. Muitos deles alegaram que as explicações tinham pouca importância. Em sua coluna de 4/5/06, Calame escreveu sobre uma destas explicações. ‘Em um artigo sobre um desentendimento em um estúdio cinematográfico, os executivos falaram em condição de anonimato porque não queriam ser associados com a briga’, observou o ombudsman, citando a reclamação de leitores sobre tal motivo não ser uma razão justificável para o anonimato.

Em um novo memorando sobre o uso de fontes anônimas à equipe do jornal, enviado no dia 31/5/06, Craig Whitney, editor-assistente que sucedeu Allan M. Siegal, não mencionou o memorando de junho de 2005 de Keller que os editores ‘devem pressionar’ os repórteres pela revelação dos motivos pelos quais eles concederam o anonimato às fontes. Observando que ‘em raras ocasiões, alguns leitores consideraram nossas explicações pomposas ou simplórias’, Whitney aprovou as frases que não incluíam razões explícitas sobre os motivos do uso de fontes anônimas.

A importância de uma informação

Calame revela que, de início, tal flexibilidade não foi percebida como positiva por ele. Na semana passada, no entanto, quando o ombudsman entrevistou Keller e Whitney para escrever sua coluna, a nova flexibilidade tornou-se mais clara. Segundo Whitney, o memorando de junho de 2005 ainda continua valendo, mas ele acredita que na medida em que é explicado porque a fonte não se identificou e porque a informação foi usada mesmo assim, são dados aos leitores caminhos para eles próprios analisarem a informação. ‘O que isto significa para você, leitor do Times?’, indaga Calame. ‘Whitney falou no memorando de maio que a frase ‘falando em condição de anonimato’ é uma explicação adequada de porque não podemos citar a fonte pelo nome’. O ombudsman observou que Whitney oferece variações para esta explicação, como ‘concordou em falar somente se não for identificado’, ou ‘discutirá o assunto somente se não for identificado’.

Para o ombudsman, algumas situações de negociação com a fonte merecem ser explicadas, mesmo que pareçam óbvias ao leitor. Quando o repórter aceita a condição de anonimato, é quase sempre porque o repórter quer ou precisa da informação que a fonte possui e reluta em fornecer. ‘Esta é provavelmente uma das razões porque algumas explicações passadas para o anonimato sejam tão absurdas’, disse Calame.

Com o jornal não mais insistindo em fornecer explicações mais complexas sobre fontes anônimas, Calame acredita que os repórteres e editores precisam dedicar mais tempo às outras exigências de Keller sobre os motivos de se usar fontes anônimas. Uma é dar aos leitores o melhor sentido possível de como a fonte sabe aquela informação. A outra é alertar o leitor ao que motivou a fonte a falar com o jornal.