Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo


PROPAGANDA ELEITORAL
Christiane Samarco


Políticos invadem TV para a pré-temporada eleitoral


‘Vem aí a temporada de propaganda partidária gratuita no rádio e na TV, que em ano eleitoral tem sido mais útil para lançar candidatos e engordar índices nas pesquisas do que para divulgar legendas. Depois de 2002, quando o programa do PFL levou a então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, à liderança da corrida presidencial, ninguém duvida de que a TV é determinante para explicar o sobe e desce nas pesquisas.


Os grandes partidos têm direito a 20 minutos em rede nacional, 20 em rede estadual e um bloco de inserções. Já os partidos médios têm direito a 10 minutos em rede nacional e os nanicos, a apenas 2 minutos.


O PSDB tem o seu tempo – ao todo, 85 minutos – concentrado em junho. O fato de não ter candidato definido para enfrentar o presidente Lula atrapalha o partido e o PFL, que deve indicar o vice na chapa. Por enquanto, a estratégia é atacar o governo. ‘Devemos dividir o tempo dos comerciais entre os líderes nacionais, para mostrar a cara do partido e bater no Lula’, diz o líder no Senado, José Agripino (RN), referindo-se às 8 inserções de 30 segundos que o PFL exibirá a partir de terça-feira.


‘Vamos jogar com as armas que temos e, na ausência de candidato, o governo vira alvo. Nada mais útil e proveitoso do que este espaço de mídia gratuito’, conta o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM).


‘Além de divulgar nossos candidatos, o programa será útil para relembrar fatos que devem ser considerados pelo eleitor’, diz o vice-presidente do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP). ‘Teremos algo como os melhores momentos das CPIs dos Correios e dos Bingos.’


TEMER


Também na oposição, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), apareceu nas inserções logo após o carnaval. O programa do PMDB irá ao ar em 11 de maio e a grande estrela será o vencedor da prévia: o governador gaúcho, Germano Rigotto, ou o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (RJ).


A ala governista, liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo senador José Sarney (AP), tem ficado fora dos comerciais do partido.


O PFL marcou para 15 de junho o programa nacional. ‘Definida a parceria com o PSDB, vamos divulgar a aliança. Caso contrário, iremos de candidatura própria’, conta Agripino.


Se a aliança for fechada para o primeiro turno, terá 80 minutos em rede nacional em uma semana: o programa tucano será em 22 de junho, bem próximo do encerramento do prazo para registro de candidaturas, no dia 30.’




PL DELIVERY
José Antonio Pedriali


Não tem projeto? Compre pela internet


‘O cidadão acabou de ser eleito, quer apresentar um projeto de lei e não sabe como? Ou não tem tempo – nem disposição – para dar-se o trabalho de pesquisar a respeito e aprender a redigi-lo, com o arsenal de considerandos, incisos e disposições em contrário? Não há problema. O ex-vereador José Gilberto de Souza, de Campo Mourão (PR), faz o serviço no sistema delivery. Como se fosse uma simples pizza, o projeto é entregue rapidamente – no caso, via internet – em qualquer ponto do País.


Também como nas pizzarias, o balcão de projetos do vereador oferece variados sabores. Agricultura, legislação do trabalho, meio ambiente, ação da mulher, apoio à terceira idade e gestantes e muitas outras idéias já têm projetos semiprontos. São pelo menos 20 temas – e podem ser tanto contra como a favor de qualquer posição política, pois é fácil adaptá-los ao pedido do freguês.


Os preços vão de R$ 150, para um pacote de 10 projetos, a R$ 750, se o interessado quiser levar uma centena – coisa para mais de um mandato. Souza diz não saber quantas minutas de projeto oferece e limita-se a responder, genericamente, que são ‘centenas’. As propostas estão expostas em www.projetosdelei.com.br.


Hoje no PSDB, o ex-vereador diz que recebe pedidos de todo o País, mas não revela quantos clientes acumulou desde 2000, ano em que decidiu ampliar seus negócios, iniciados com a comercialização de brindes políticos. A história começou com uma derrota: embora bem votado, ele não conseguiu reeleger-se vereador em 2000 porque não somou o o mínimo de votos para um novo mandato.


Vendendo brindes, Souza descobriu que muitos políticos eleitos nada sabiam do ramo e lhe pediam sugestões sobre projetos para agradar ao eleitorado. Em vez de dar idéias, decidiu vendê-las.


E ele era bom nisso: quando atuava como vereador, houve períodos em que chegou a apresentar um projeto de lei por dia. Muitos deles, bem guardados, tornaram-se as matrizes de sua entrega a domicílio atual. ‘Há três tipos de vereadores’, enumera Souza: ‘O que fiscaliza, o que legisla e o que dá preferência a ações sociais. Meu público-alvo é o segundo tipo.’’




CARTUNS DO PROFETA
O Estado de S. Paulo


Al-Qaeda ameaça com novos atentados


‘Ayman al-Zawahiri, lugar-tenente de Osama bin Laden, chefe da Al-Qaeda, exortou os muçulmanos a golpear o Ocidente com ataques idênticos aos desfechados em Nova York, Washington, Madri e Londres, numa gravação de áudio difundida ontem pela internet e a televisão árabe Al-Jazira. Ele disse que as recentes ofensas ao profeta Maomé (publicação de caricaturas dele pela mídia européia) não podem passar em branco. O terrorista atribuiu o episódio à ‘cruzada contra o Islã, liderada pelos EUA’. O lugar-tenente de Bin Laden pediu também ao Hamas que mantenha a rejeição aos acordos negociados entre Israel e palestinos.’




MÍDIA EVANGÉLICA
Luiz Maklouf Carvalho


Tese mostra império midiático da Universal


‘Uma rede de TV, a Record, que já dá dor de cabeça à maior rede do país, a Globo; um jornal semanal com distribuição nacional e tiragem média de 2 milhões de exemplares; uma revista mensal com tiragem média de 450 mil exemplares; um jornal diário em Belo Horizonte; uma rede de rádios em freqüência AM e FM; a maior gravadora evangélica do País; uma editora de livros e outros impressos; uma gráfica própria; um portal na internet.


Esse conjunto de empresas de comunicação, um dos maiores do País, é o segredo do sucesso da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Quem o diz, numa tese de doutorado defendida e aprovada em 2 de fevereiro na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a jornalista e professora Maria da Penha Nunes da Rocha. A Universal tem 28 anos de existência e atua, além do Brasil, em 97 países.


‘A extensão dos negócios de Edir Macedo talvez faça dele o mais poderoso empresário de Comunicação Social do Brasil, já que sua holding tem mais emissoras de TV próprias que afiliadas, quando a Rede Globo conta com o maior número de afiliadas’, diz a tese. ‘Fiz a pesquisa com raciocínio objetivo e crítico, sem preconceito e sem moralismo’, diz Maria. Ela cansou de tentar ouvir algum dirigente da Universal, mas nenhum deles quis dar entrevista.


Dos 49 anos que tem, a agora doutora investiu 9 no estudo da igreja do bispo Edir Macedo – 4 no mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com a tese Religião na TV: Estudo de Casos de Redes Brasileiras; cinco na UFRJ, com a tese As Estratégias de Comunicação da Igreja Universal do Reino de Deus. Seu orientador foi o professor-doutor Micael Herschmann.


A tese lembra, na introdução, a participação significativa da Iurd na política institucional, e o registro, recente, do Partido Municipalista Renovador (PMR), ao qual está filiado o vice-presidente da República, José Alencar.


‘Os modelos adotados pela Iurd são eticamente muito questionáveis, e atitudes dessa igreja têm aumentado a polêmica que a envolve. A Universal teve ou tem atitudes de supersimplificação dos fatos, de proselitismo agressivo e de intolerância sectária’, afirma o trabalho.


HOLDING EVANGÉLICA


Usando os conceitos de igreja eletrônica e de ‘holding evangélico-midiática’ nos moldes americanos, Maria discute as questões de poder, do discurso e da ideologia da Iurd. Sua base teórica vai de Aristóteles a Mikhail Bakhtin, passando por Hannah Arendt, Max Weber, Muniz Sodré, Leandro Konder e Antônio Fausto Neto.


Segundo a tese de Maria, a Iurd ‘se estrutura dentro de modelo empresarial e organizacional de crescimento, levantamento de recursos, aquisição de propriedade, visão capitalista de prosperidade e disputa de mercado’.


‘A Iurd busca, cada vez mais, conquistar fiéis das classes A e B, principalmente através da corrente dos empresários’, prossegue. ‘Empresários bem-sucedidos do Rio participam das reuniões e discutem sobre negócio e ascensão financeira. Além de serem pessoas sucedidas economicamente, elas tem uma formação profissional e acadêmica acima da média da população brasileira.’


Rede Record: Com equipamentos de última geração, tem programação laica e evangélica


Rede Aleluia: Conglomerado de 56 rádios evangélicas AM ou FM que abrange 75% do território nacional


Line Records: Maior gravadora evangélica do País, com crescimento médio de 30% ao ano. Tem três selos e uma rede de estúdios


Folha Universal: Tiragem de 2 milhões de exemplares semanais’




ATHAYDE PATRESE
O Estado de S. Paulo


Aos 64 anos, morre Athayde Patrese


‘O colunista social Athayde Patrese, de 64 anos, morreu anteontem por volta das 22 horas na Clínica de Nefrologia Santa Rita, na Vila Mariana, zona Sul de São Paulo, após sofrer parada cardíaca quando terminava uma sessão de hemodiálise. Segundo um dos enfermeiros da clínica, Athayde disse em tom de brincadeira aos médicos: ‘Eu já vivi o bastante’.’




BLOGOSFERA
Renato Cruz


A cada segundo, surge um novo blog


‘Na sexta-feira, o site Technorati registrava a existência de 29,6 milhões de blogs. O crescimento desse tipo de site, em todo o mundo, é exponencial. A cada segundo, surge um novo blog. O total de blogs dobra a cada cinco meses. São feitas 1,2 milhão de postagens por dia. Mesmo assim, pouca gente consegue viver de blog.


‘Apesar de fenômeno mundial, falta viabilidade econômica’, diz Ricardo Noblat, que tem seu blog no portal Estadão (www.estadao.com.br). ‘Nos Estados Unidos, não existem mais de 20 blogueiros, se tanto, que conseguem se manter com o blog. No Brasil, o número é muito menor. Eu consigo hoje. Ele paga as minhas contas.’


O blog é um site em que os textos mais recentes aparecem no alto da página, e os mais antigos vão ficando para o final. As ferramentas de edição são muito fáceis: não é preciso conhecimento técnico, nem mesmo HTML, a linguagem usada para formatar as páginas da internet. Existem serviços gratuitos, como o Blogger, do Google, que hospedam blogs de graça. Por causa de facilidades como essas, o número de blogs não pára de crescer.


A maioria é de adolescentes que resolveram criar diários digitais, abertos a todos na internet. Mas eles passam a fazer parte, cada vez mais, da estratégia de empresas e de meios tradicionais de comunicação. No ano passado, em todo o mundo, foram vendidos cerca de US$ 100 milhões de anúncios em blogs. O serviço AdSense, do Google, permite que blogueiros recebam alguns centavos de dólar por anúncio clicado. Mesmo assim, os criadores do blog mais popular do mundo, que se chama Boing Boing, mantêm atividades paralelas. Ele é mantido por cinco jornalistas que trabalharam na revista Wired.


‘Sinto uma certa glamourização e, ao mesmo tempo, desvirtuamento do que é um blog’, diz Beth Saad, professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. ‘O blog privilegia a narrativa em primeira pessoa e a opinião. Quando vinculados à mídia tradicional, acho difícil não vir embutido o recorte editorial.’


Marcelo Barbão, diretor de Redação da revista PC Magazine, tem um blog (marcelobarbao.blogspot.com ). ‘O blog sempre traz o ponto de vista pessoal’, diz Barbão. ‘Não quero substituir matérias ou a coluna que tenho na revista. Todo mundo vai ter um blog. Ou mais de um. Se adolescentes querem falar sobre namoro, tudo bem. Mas eu só não quero ler.’ .


Uma matéria publicada pelo site Slate, no mês passado, apontou que existem sinais de que os blogs atingiram seu ápice como negócio. O texto compara esses sinais aos que surgiram em 1999, antes do estouro da bolha da internet, que veio um ano depois. Em outubro, a Time Warner pagou US$ 25 milhões pela Weblogs, Inc., um conjunto de blogs. Acontece que a maioria dos blogueiros não tem como objetivo ganhar dinheiro com isso. Mesmo empresas e a mídia tradicional. As empresas querem chamar atenção para seus produtos e serviços e criar uma forma de comunicação mais direta com os clientes. Os grupos de mídia vêem nos blogs uma ferramenta para atrair os internautas para seus produtos tradicionais.


Uma outra reportagem, publicada pela New York Magazine, mostra que poucos blogs são viáveis como negócio. Pelos cálculos da revista, o blog Gawker, com informações sobre os bastidores do mercado de tecnologia, consegue fazer pelo menos US$ 1 milhão por ano em publicidade. Os internautas visitam 200 mil páginas por dia do site.


Apesar de não ser um grande negócio para a maioria dos blogueiros, os anunciantes começam a ver esse tipo de site como um veículo interessante. A Audi investiu US$ 50 mil numa campanha veiculada em blogs no ano passado e conseguiu que suas páginas fossem vistas 68 milhões de vezes. O valor foi muito baixo, mesmo comparado a outros tipos de anúncios na internet. Por um anúncio na primeira página do Yahoo!, em apenas um dia, a empresa gastaria US$ 500 mil.’




TV DIGITAL
Ethevaldo Siqueira


A guerra da Abert contra a convergência


‘A chegada da TV digital ao Brasil ocorre num cenário tecnológico muito diferente do que existia há duas décadas. Na maioria dos países, a internet se transformou numa janela para o mundo. Ou numa nova ágora – o mercado onde os cidadãos de Atenas se reuniam, compravam, vendiam e votavam. Nesse novo espaço virtual, mais de 2 bilhões de pessoas se encontram a qualquer hora, trocam informações, divertem-se, compram e vendem, acessam jornais, revistas, rádios, TVs, bibliotecas, sites de busca com bilhões de páginas ou enciclopédias virtuais como a Wikipédia, com mais de 3 milhões de artigos, em 214 idiomas. Usando o protocolo IP (VoIP), mais de 150 milhões de internautas fazem ligações telefônicas para qualquer ponto do planeta, quase de graça, quebrando as barreiras das velhas concessões.


Tudo isso se soma à revolução da mobilidade no mundo, que já alcança 2,2 bilhões celulares, muitos dos quais com câmera digital embutida, acesso à internet em banda larga e ao comércio eletrônico móvel. Que dizer do impacto futuro das redes sem fio de alta velocidade, como Wi-Fi e WiMax?


Eis aí uma visão sucinta da convergência digital, o processo tecnológico irreversível que funde plataformas, quebra paradigmas, unifica setores e cria serviços auto-reguláveis, que não dependem de licença nem de legislação protetora.


Imagine, leitor, o impacto dessa revolução digital daqui a 10 anos.


O CONFRONTO


Como ocorre em outros países, a simples perspectiva de introdução da TV digital no Brasil opõe radicalmente emissoras de TV e teles. É uma briga complicada. Avaliemos os dois lados.


A TV está presente hoje em 95% dos lares do País. O povo brasileiro tem paixão por televisão. Aqui como em todo o mundo, para a maioria da população, a TV aberta e gratuita acaba substituindo (bem ou mal) o cinema, o circo, o teatro, o livro, o jornal, a revista, o estádio de futebol, o comício e até a escola. Mesmo com minhas queixas quanto a abusos e baixarias, reconheço que a TV aberta tem prestado grandes serviços ao Brasil. Seu maior problema institucional, entretanto, é a legislação obsoleta e cartorial, colcha de retalhos formada por um capítulo da Lei 4.117, de 1962, e decretos da ditadura. Quanto à propriedade das emissoras, o artigo 222 da Constituição, depois da emenda de 2002, limita em 30% a presença do capital estrangeiro nas empresas de rádio e TV.


Essa velha legislação é um dos maiores obstáculos à modernização da TV brasileira. Até o choque com as teles poderia ser evitado se o Brasil, a exemplo de outros países, contasse com uma moderna Lei Geral de Comunicações e uma nova agência reguladora capazes de harmonizar todos os segmentos envolvidos, como rádio e TV aberta, TV paga, telecomunicações, correios, cinema e novas formas de comunicação eletrônica, como vídeo sob demanda (VoD), TV-IP ou internet.


É claro que Lula e o Congresso não querem nem ouvir falar numa lei inovadora como essa, num ano eleitoral.


E as telecomunicações? Seu ponto forte é o crescimento de mais de 400% nos 7 anos e meio após a privatização, resultado direto de investimentos de mais de R$ 130 bilhões. Mesmo com seus problemas, a nova telefonia promoveu gigantesca inclusão digital, ao expandir de 24 milhões para 125 milhões o número de telefones fixos e celulares em serviço. Regido pela Lei Geral de Telecomunicações, de 1997, uma lei ainda moderna, o setor enfrenta, por outro lado, o processo de esvaziamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) promovido pelo atual governo.


O MAU CAMINHO


Por que gritam algumas redes de TV? Em todo o mundo, diante da evolução tecnológica e da mudança de paradigmas, elas reagem de forma quase paranóica, negando a realidade da convergência. Para um velho advogado dessas TVs, ‘convergência é empulhação’. Felizmente, boa parcela das emissoras, no Brasil e no mundo, não pensa assim. Mais lúcidas, elas buscam o diálogo, a negociação e as parcerias, em benefício do cidadão.


Injustificável é a atitude da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), ao pedir à Anatel a mudança do regulamento dos serviços de telefonia móvel, de modo a impor às operadoras celulares a mesma restrição do artigo 222 da Constituição, que, repetimos, limita em 30% o capital estrangeiro nas empresas de radiodifusão. É uma tentativa de golpe, para excluir um suposto concorrente. A manobra deve ter sido inspirada pelo próprio ministro das Comunicações, Hélio Costa, que defendeu restrições semelhantes contra as operadoras fixas.


A guerra movida pela Abert pelo domínio absoluto da TV digital não beneficia o usuário. O Brasil precisa de muito mais abertura e de competição nas comunicações. E é bom que essa entidade saiba que, num futuro próximo, a internet sem fio de banda larga será a grande plataforma que irá quebrar todas as reservas de mercado. Ninguém terá, então, o direito exclusivo de veicular conteúdos. O mundo caminha, inapelavelmente, para a adoção da licença única, em que qualquer operadora poderá prestar qualquer serviço. Duvidam?’




TV NA DIREÇÃO
O Estado de S. Paulo


Não é mais proibido ter TV no painel do carro


‘O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) revogou a proibição do uso de tevês e monitores no painel do veículo. Passam a ser legais equipamentos de apoio a manobras – ônibus podem ter uma tela que oriente o motorista ao dar marcha ré – e orientadores de direção, assim como aparelhos de DVD que se desligam automaticamente com o veículo em movimento. Motoristas são proibidos de ver imagens enquanto dirigem, o que só é permitido a passageiros do banco traseiro.’




OSCAR
Luiz Zanin Oricchio


A Academia chega à idade da razão


‘É pouco provável que haja surpresas quando os envelopes contendo os premiados do Oscar forem abertos hoje à noite. Deve dar O Segredo de Brokeback Mountain na cabeça, como melhor filme e diretor (Ang Lee). Há outras ‘pules de dez’ neste 78º prêmio da Academia – ator para Philip Seymour Hoffman (Capote) e atriz para Reese Whiterspoon (Johnhy & June). Qualquer coisa fora disso será zebra. Mas zebras existem e, mesmo que apareçam, não será por isso que o Oscar deste ano será lembrado, mas sim pela simples e notável qualidade dos indicados.


De fato, poucas vezes, pelo menos no passado recente, se reuniu um conjunto tão interessante de filmes produzidos pela indústria norte-americana de cinema (o Oscar é um prêmio da indústria, convém não esquecer). Tirando o favorito, cuja temática se refere à sexualidade e portanto à esfera íntima – todos os outros dizem respeito a questões sociais, e controversas. Não há dúvida que, aconteça o que acontecer no Kodak Theatre, onde os envelopes são abertos, a Academia decidiu, este ano, premiar a produção de temática adulta.


Mesmo Steven Spielberg, junto com George Lucas o darling do cinema de entretenimento, traz o polêmico Munique, sobre os desbobramentos do atentado terrorista palestino que matou 11 atletas israelenses na Olimpíada de 1972. Ao retratar a caçada do serviço secreto israelense aos responsáveis pelo atentado, e relativizar a vingança como meio eficaz de resolver problemas, Spielberg foi condenado pela opinião pública mais conservadora de Israel.


George Clooney, em seu segundo trabalho como diretor, evoca um período negro da história recente americana com Boa Noite e Boa Sorte. Essa história de luta contra o macarthismo, na figura do jornalista Edward R. Murrow, vivido por um impecável David Strathairn, é uma pequena produção (US$ 7,5 milhões, uma ninharia para eles), filmada em preto-e-branco e com música de jazz. Não tem um fotograma a mais, é enxuto como um texto de Graciliano Ramos e eletrizante como um western – para quem gosta de política, bem entendido. Porque é disso que se trata. Ao falar na época da caça às bruxas dos anos 50, Clooney fala, na verdade, de hoje. De Bush e sua busca de consenso pela tese do ‘inimigo externo’. Quando uma população sente medo, está preparada para negociar a liberdade em troca da ilusão de segurança.


Essa meditação sobre a liberdade e suas condições não deixa de estar presente em outro concorrente, como Crash – no Limite, de Paul Haggis, que indaga sobre a questão da tolerância numa sociedade multiétnica como a americana (e como a nossa). Se algum grau de tolerância não for praticado, a convivência torna-se difícil se não impossível. É o que insinua esse interessante filme sobre uma Los Angeles composta de brancos, negros, latinos e imigrantes dos quatro cantos. Essa diversidade, sentida por alguns como ameaça, pode, pelo contrário, ser vista como a força de uma nação. Mas a convivência social não é um dado imediato e precisa ser construído historicamente pelos povos.


Nesse sentido, Capote, de Bennett Miller, é um oportuno mergulho no coração da América pelos olhos do escritor Truman Capote em seus anos decisivos, enquanto escrevia sua obra-prima, A Sangue Frio. A própria opção de recorte já é interessante. Ao contrário do que acontece com outro concorrente, Johnny & June, sobre a vida do cantor country Johhny Cash, Capote não é uma ‘cinebio’ do escritor. Quer dizer, não conta a história dele, do berço à cova, como costuma acontecer. Fixa-se apenas naqueles ‘anos interessantes’, em que o dândi que escreve para a New Yorker entra em contato direto com o mundo da violência e do crime.


Essa descida aos infernos de Truman Capote não se faz sem uma boa razão. Ao conviver com os assassinos de uma pacata família do Kansas, Capote recolhe material que o levaria à fama e à fortuna. Era o resultado benéfico de um encontro, raro, entre a América sofisticada, liberal e culta e a chamada América profunda, que vive entre a ignorância, o preconceito e, não raro, a violência. O estilo preciso deste ‘quase documentário’ apenas torna mais forte a impressão desse encontro de contrários, que no entanto se complementam e formam uma sociedade.


Esse painel maduro de indicados expulsou para a premiação secundária os habitués dos últimos anos de Oscar – filmes de entretenimento, destinados em especial ao público infanto-juvenil, obras em geral de escapismo, muita ação, efeitos especiais e truques melodramáticos. Neste ano (e talvez apenas neste), filmes como King Kong, Star Wars e Harry Potter entram pelas portas dos fundos do Kodak Theatre.’




FILHOS DO CARNAVAL

Etiene Jacintho


Há qualidade fora do padrão Globo


‘A HBO estréia hoje, às 21 horas, a série de Cao Hamburger Filhos do Carnaval, em parceria com a O2 Filmes, e o público, mais uma vez, há de agradecer. Isso porque falar em produção nacional de qualidade nos canais pagos estrangeiros ainda é tema raro. São poucas as redes que investem nesse tipo de programação, apesar de ser uma ótima – porém cara – estratégia para ganhar a simpatia do público. Afinal, não é à toa que emissoras como a TNT ganham audiência ao exibir filmes dublados – o telespectador quer ouvir sua língua e isso é certo.


Até hoje, as redes internacionais têm investido mais em reality shows como fez o grupo Discovery e a própria TNT. O primeiro realizou episódios nacionais de séries como Troca de Esposas e Enquanto Você Não Vem, do canal People + Arts, e firmou acordo com a Record para a produção de O Aprendiz. Recentemente se deu mal ao unir-se novamente com a rede do bispo Macedo para produzir a fraca e descuidada série Avassaladoras. Já a TNT emplacou o interessante reality Projeto 48.


Nos canais de seriados, as produções nacionais restringem-se a programetes de poucos minutos como fazem AXN e Sony – que grava atrações como o Estilo Sony em Caracas, na Venezuela. O grupo Columbia fez parceria com a Record para o game show Roleta Russa, apresentado por Milton Neves.


Atrações realmente de peso, porém, são poucas. O Cartoon Network e a Nickelodeon têm se esforçado no campo das animações e a National Geographic foi pioneira em agregar produtoras independentes para criar documentários de qualidade indiscutível como Bichos do Brasil.


Já na área da ficção, quem sai disparado na frente é a HBO. Famosa por seus filmes e séries americanas próprias – como Angels in America, Sex and The City, The Sopranos -, a HBO criou um braço na América Latina para co-produções. Desta empresa já saíram produtos como Epitáfios, série de suspense argentina com Cecilia Roth, e o seriado brasileiro Mandrake, com Marcos Palmeira. Co-produzida com a Conspiração Filmes, Mandrake talvez ganhe uma segunda temporada. Isso impulsionada pelo sucesso internacional de Epitáfios – que também poderá ter uma segunda fase – nos Estados Unidos. A série argentina entrou no canal americano da HBO com êxito. Mandrake e Filhos do Carnaval já foram encaminhadas aos EUA e estão sendo analisadas para repetir a trajetória da irmã argentina.


A atuação da HBO na América Latina é pioneira. Nem mesmo na Europa o grupo tem tantos projetos. Segundo o vice-presidente sênior de Produção e Aquisições da HBO Latin America Groups, Luis Peraza, há um novo projeto em andamento no País, em parceria com a Gullane Filmes, produtora da série Global Carandiru. ‘Será uma ficção em 13 episódios e vai ser em São Paulo’, adianta. Mas ainda não há elenco nem equipe técnica definida. Além dos Estados Unidos, há núcleo de produções originais HBO somente na América Latina, de acordo com Peraza. São 14 anos de atuação e agora, o núcleo, impulsionado por Epitáfios, busca seu próprio destino.


Peraza diz que escolhe seus parceiros de trabalho – como a Conspiração, O2 e Gullane – seguindo o padrão HBO de ‘qualidade, dinâmica e criatividade’. Além do Brasil, a HBO tem novos projetos com o México, o Chile, a Colômbia, a Venezuela e novamente com a Argentina. ‘As novas produções no México estão mais avançadas. A expectativa é que comecemos uma delas (são duas) ainda este ano’, conta o vice-presidente.


Com produções primorosas, a HBO Latin America Groups tem conquistado maior espaço. O caminho que Epitáfios percorreu nos Estados Unidos só veio comprovar a qualidade das séries. Naquele país, o suspense argentino foi colocado à disposição do público na HBO Latina e na HBO on demand – uma espécie de programação em pay-per-view. Como os pedidos por episódios de Epitáfios foram muitos e, em sua maioria, feitos por uma audiência não latina, a rede reprisou a série no canal-chefe, a HBO. ‘O programa não recebeu críticas positivas, mas sim críticas maravilhosas’, diz Peraza. Agora é só esperar para ver se Mandrake e Filhos do Carnaval serão também bem-sucedidas lá fora e se, com isso, a HBO dará mais verba para que seu braço latino continue a produzir boas crias – para, quem sabe, incentivar outros canais a seguirem o exemplo.


Assim como Mandrake e Epitáfios, Filhos do Carnaval é enriquecida com cenas externas – o que já as diferencia de séries – e por que não incluir novelas – produzidas pelas redes nacionais como a Globo. A qualidade é cinematográfica e a preocupação com roteiro é elemento determinante para as superproduções. Há quem não goste de Mandrake por ter muito sexo, palavrão e baixaria – o universo do advogado. Porém não há como desprezar a inteligência na escolha do elenco, que resgatou até mesmo Tiazinha e Alexandre Frota, e na adaptação do personagem do escritor Rubem Fonseca. O que faltou e ainda falta é o alcance do público. Como a HBO figura nos pacotes mais caros das principais operadoras, a audiência ainda é muito restrita.


O outro lado da resistência em relação a Mandrake e a produtos nacionais em TV paga venha, talvez, da falta de costume do brasileiro de assistir a programas que fogem do formato Globo – que se diferem em muitos aspectos, principalmente em ousadia. E esse elemento é presente também em Filhos do Carnaval.


Mais um filho


Filhos do Carnaval vem do argumento de Elena Soarez – do filme Casa de Areia – em parceria com o diretor Cao Hamburger, de Castelo Rá-Tim-Bum. Eles encabeçam o time de roteiristas que ainda conta com Anna Muylaert e Melanie Dimantas. O drama, de apenas seis episódios, mistura momentos cômicos e até de suspense para contar a história de um bicheiro e de seus filhos legítimos e ilegítimos. Com cara de filme e elenco novamente muito bem selecionado, Filhos do Carnaval teve cenas gravadas na quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel e no carnaval do ano passado no Rio. Pode até parecer coisa para inglês ver, mas não caia nessa.


Apesar de ser superprodução, o trunfo de Filhos do Carnaval é o aspecto documental, como observa Enrique Diaz, que interpreta Claudinho, filho legítimo mais novo do bicheiro Gebara. ‘Não vi diferença em produção’, analisa o ator – que atua também em direção. ‘O que vi foi o espírito da O2 e uma agilidade que nada tem a ver com majestosidade. E me impressionou o fato de ser tudo locação. A HBO dava suporte para tudo isso.’


Claro que a qualidade da produção também é resultado do longo prazo dado para sua realização, diferentemente da indústria das TVs abertas. Filhos do Carnaval demorou quase quatro anos para ser concluída, contando roteirização, produção, filmagem e edição. O resultado, assim como o método, é diferente de tudo o que já foi visto na TV aberta. Sem comparações até mesmo com séries como Cidade dos Homens – que começou alternativa e terminou global -, Carandiru e Hoje É Dia de Maria, que quebraram o ritmo dos programas a que a audiência estava acostumada. E foram bem-sucedidos.


Sem questionar a qualidade desses três produtos recentes da Globo, as produções da HBO seguem outro ritmo. São verdadeiras baterias de escola de samba – com perdão do trocadilho – se comparadas às outras atrações nacionais. Ao assistir ao primeiro episódio de Filhos do Carnaval, o telespectador comprovará: é impossível ver um só. A trama principal é universal, no caso, a família. As questões são resolvidas no tempo certo. O suspense entra em cena no momento apropriado. O enredo flui em harmonia e leva o público a querer saber qual será o fim da família Gebara. Como o ator Jece Valadão – que obviamente vive o chefão Gebara, bicheiro e presidente de escola de samba – bem definiu, a produção tem ‘padrão internacional’. ‘É um bom seriado, comparando com bons seriados de qualquer parte do mundo.’’




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O Estado de S. Paulo


Sábado, 4 de março de 2006


CARTUNS DO PROFETA
O Estado de S. Paulo


Paquistão bloqueia websites por caricaturas


‘As autoridades de telecomunicações do Paquistão bloquearam vários sites na internet que convidavam as pessoas a desenhar caricaturas do profeta Maomé. O bloqueio ocorre em meio a protestos em vários países muçulmanos contra as charges, publicadas inicialmente em setembro na Dinamarca e reproduzidas este ano por vários jornais europeus.’




PROCESSO ANTITRUSTE
O Estado de S. Paulo


Microsoft recorre aos EUA contra multa na Europa


‘A Microsoft informou ontem ter pedido à Justiça americana para que force as rivais IBM, Oracle, Sun Microsystems e Novell a revelarem os documentos relacionados ao processo antitruste movido contra ela na Europa. A gigante do software alega precisar dos documentos – basicamente cartas das rivais para a Comissão Européia (CE) – para seu processo de defesa contra a penalidade imposta a ela em 2004, que prevê multa diária de 2 milhões por práticas anticompetitivas e abuso de posição dominante.


A empresa decidiu apelar à corte americana diante das infrutíferas tentativas de conseguir acesso aos documentos junto à Comissão Européia. Ontem, a CE, órgão executivo da União Européia, voltou a ameaçar a Microsoft com multa se não respeitar suas regras antimonopólio, depois que a empresa a acusou, na quinta-feira, de ‘colaborar em segredo’ com seus concorrentes, em uma troca de acusações que acontece semanas antes de uma nova audiência sobre o caso.


A Comissão convocou os representantes da Microsoft para uma audiência nos dias 30 e 31 de março para avaliar se a gigante da informática está cumprindo a exigência de compartilhar os códigos do sistema operacional Windows com seus concorrentes, segundo fontes.


A Microsoft acusa a CE de ter ‘violado suas próprias regras’ de transparência e independência, realizando encontros entre o analista que deve certificar se a Microsoft cumpre a exigência e os fabricantes concorrentes.


O Executivo do bloco não reagiu às alegações da Microsoft. No entanto, a comissária européia de Concorrência, Neelie Kroes, disse que, se a questão continuar seguindo esse ritmo, ‘haverá multas, e não serão pequenas’. Em dezembro, a CE ameaçou a empresa com uma multa de até 2 milhões por dia caso não cumprisse as exigências do bloco.


O caso começou em março de 2004, quando a Comissão Européia acusou a Microsoft de abusar de sua posição dominante, e impôs uma multa recorde de 497 milhões e duas medidas corretivas: comercializar na União Européia uma versão do Windows sem o Media Player e divulgar a seus rivais os códigos necessários para que seus programas funcionem com outros sistemas operacionais. A Microsoft recorreu da decisão.’




TV DIGITAL
Gerusa Marques


TV digital pode trazer fábrica japonesa ao País


‘Representantes do governo japonês confirmaram, ontem, negociações do governo brasileiro com fabricantes japoneses de televisores para instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil. As negociações envolvem a escolha do padrão de TV digital a ser adotado no País – processo no qual o Japão é um dos concorrentes. As empresas japonesas, no entanto, disseram que a produção no Brasil desse tipo de equipamento, usado nos televisores mais modernos, depende da demanda, tanto no mercado brasileiro, quanto no mercado internacional.


A decisão do governo sobre o padrão de TV digital deve ser tomada até sexta-feira da próxima semana para que seja cumprido prazo de 10 de março estabelecido em decreto presidencial. O governo brasileiro estuda outras duas opções além do padrão japonês – os modelos americano e europeu. Ontem, uma comitiva de cerca de 20 japoneses se reuniu, no Palácio do Planalto, com os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, das Comunicações, Hélio Costa, da Fazenda, Antonio Palocci, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para debater o assunto.


Desde janeiro, o governo vem se encontrando com representantes dos três padrões para discutir questões tecnológicas e contrapartidas comerciais, mas a instalação da fábrica só foi tratada com empresas japonesas. Isso reforça a possibilidade de o governo escolher o modelo de TV digital do Japão, que tem o apoio das emissoras de TV e do ministro Hélio Costa. Da reunião no Palácio do Planalto participaram também executivos da Panasonic, Toshiba, Sony e NEC.


O chefe do Departamento de Tecnologia e Radiodifusão do Ministério dos Negócios Interiores e Comunicações do Japão, Akira Okubo, disse que o investimento imediato para construção da fábrica não foi colocado pelo governo brasileiro como condição para escolha do padrão de TV digital japonês. Entretanto a comitiva japonesa entende que este é um ponto importante nas negociações. ‘O governo brasileiro quis verificar a vontade das empresas japonesas de investirem no País, comparando-a com a de outras nacionalidades.’


Okubo relatou que os ministros manifestaram grande interesse do Brasil em produzir, no País, TVs de plasma e de cristal líquido (LCD), mas ponderou que os investimentos nesta área devem ser feitos pelo setor privado. O representante do governo japonês disse ainda que, no encontro, os empresários falaram da possibilidade de, ‘no futuro’, algumas empresas japonesas investirem na instalação de uma fábrica de semicondutores.


Ele não adiantou, no entanto, em quanto tempo isso poderia acontecer, mas disse que as empresas japonesas vão aproveitar a oportunidade quando houver demanda no mercado brasileiro ou no mercado internacional. Segundo Okubo, é natural que, para manter a competitividade, seja necessário produzir os componentes no mesmo país em que são produzidos os televisores.


A indústria brasileira importa hoje mais de 85% dos componentes para produção de TVs de tela de cristal líquido. Na semana passada, fontes ligadas ao Palácio do Planalto previram que seria necessário US$ 1 bilhão para instalação da fábrica de semicondutores.’




TRAUMA
Clarissa Thomé


União vai instalar câmeras em museus


‘A União vai instalar câmeras de segurança nos museus do Rio, que serão integradas ao sistema de monitoramento da cidade montado para os Jogos Pan-Americanos de 2007. O acordo foi firmado ontem pelo secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, e pelo diretor do Departamento de Museus do Ministério da Cultura, José do Nascimento. Também ficou acertada a criação de uma ronda especial da Polícia Militar nos museus federais.


‘A ronda será feita pelo Batalhão de Policiamento em Área Turística e será um sistema com ponto eletrônico em que o policial passa um cartão para garantir que esteve no local’, explicou Nascimento. No dia do roubo ao Museu da Chácara do Céu, no dia 24, policiais de Santa Teresa foram chamados pela administração do museu. Responderam que não sabiam onde ficava a instituição. Na hora passava um bloco carnavalesco na rua.


A PF voltou a fazer a reconstituição do roubo, ontem, e cumpriu oito mandados de busca e apreensão, mas nada foi encontrado. O delegado Deuler Rocha recebeu um dossiê sobre o francês Michel Cohen, de 50 anos, foragido da Justiça e suspeito de ligação com o crime. ‘Ele é especialista em Picasso, Monet e Dalí e é possível que esteja no Brasil. É isso o que temos. Não há, por enquanto, nada que o ligue ao roubo dos quadros. Agora, ele é um marchand do mercado negro. Teria a experiência necessária para tirar esses quadros do Brasil’, afirmou Rocha. Para o policial, o crime foi cometido por assaltantes amadores.


Cohen vivia no Brasil com a mulher e dois filhos quando foi descoberto seu envolvimento em golpes contra galerias americanas. Foi preso no Rio em maio de 2003 e, dois meses depois, fugiu.’




OSCAR
Ubiratan Brasil


Na glamourosa corrida pelo Oscar, Los Angeles vira uma festa


‘Definitivamente, Los Angeles, e não Paris, é uma festa. Clones de personagens famosos espalhados pelas ruas, filas para ver a autêntica estatueta de um homem careca de braços cruzados, avenidas interditadas, apostas feitas nas esquinas – a capital do cinema justifica sua condição com a entrega do Oscar amanhã à noite, festa que, apostam os organizadores, será vista por mais de um bilhão de pessoas ao redor do planeta, via tevê.


Festa que deverá consagrar ainda o filme O Segredo de Brokeback Mountain, com oito indicações e favorito como melhor produção do ano, além de diretor (Ang Lee) e roteiro adaptado. O amor entre dois caubóis que garantem não ser gays mesmo transando numa barraca, porém, já não provoca mais tantos ‘oh’ na platéia de Los Angeles, mais disposta a disparar uma série de ‘há há há’. Sim, meses depois do respeito que cercou seus primeiros dias de exibição, o filme agora é alvo de piadas e sátiras, tanto no papel dos jornais como no mundo virtual da internet.


‘A brincaderia do momento é trocar e-mails com versões engraçadas do filme’, conta Barbara Wallace, gerente de um hotel na Hollywood Boulevard, enquanto mostra à reportagem do Estado um curta chamado Bro Back Mountain, sobre o amor entre dois enormes sujeitos negros ou, como se diz por aqui, dois afro-americanos relativamente acima do peso. ‘Não é desrespeito, apenas uma diversão inocente.’ Segundo ela, há versões ainda que brincam com outros filmes como De Volta para o Futuro (chamado Brokeback to the Future) e Top Gun, que não deve agradar Tom Cruise.


As risadas cessam, porém, quando a discussão chega ao filme Crash – No Limite. Favorito entre os concorrentes de melhor roteiro original, o longa de Paul Haggis provoca diferentes visões sobre o conceito de raça.


Para alguns, o conflito envolvendo brancos e negros comprova que a cidade tem habitantes de diferentes culturas que se entendem. Outros, porém, acreditam que as diferenças não foram resolvidas e continuam uma ferida aberta. A discussão chegou até o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, que, aliás, adorou o filme.


Discussões à parte, a proximidade da entrega do Oscar agita a cidade por motivos mais divertidos. A fila para admirar as estatuetas, por exemplo, nunca diminui: ao lado do Kodak Theatre, palco da festa de amanhã, uma sala exibe os prêmios, protegidos por grossos vidros dos olhares cobiçosos. Resta o consolo de repetir o gesto famoso de se erguer um Oscar – uma réplica foi colocada em um pedestal em que as pessoas fazem outra fila para tirar fotos.


Os japoneses predominam, mas é possível ouvir pessoas falando em italiano, espanhol e até um língua muito familiar. ‘Não poderemos assistir à cerimônia de dentro do teatro, mas, só de estar próximo, já é a realização de um sonho’, conta o arquiteto paulista Eduardo Medeiros, que veio a Los Angeles com a namorada, afoita para fotografar qualquer coisa referente a cinema, especialmente para a cerimônia. ‘Quem sabe não conseguimos entrar em uma das festas depois da premiação?’


Pode ser, mas será uma façanha. A paranóia com segurança não poderia ser menor com um evento desta estatura, a ponto de dez ruas que rodeiam o teatro estarem bloqueadas para o trânsito a partir de hoje. ‘A possibilidade de alguém tentar sabotar a cerimônia sempre existe, por isso cuidamos de todos os detalhes’, disse à agência France Presse o tenente Paul Vernon, porta-voz da polícia de Los Angeles.


Segundo ele, até um ataque terrorista com gás ou produtos químicos não está descartado, o que já deixa uma guarnição especializada do corpo de bombeiros de prontidão. O que os homens fardados não poderão evitar é a chuva, grande temor dos organizadores, que estenderam para uma hora o desfile de estrelas no tapete vermelho, antes da cerimônia. Ontem, por exemplo, Los Angeles já amanheceu chovendo. São Pedro talvez queira um Oscar.’


O Estado de S. Paulo


Filme sobre homens-bomba cria polêmica na véspera do Oscar


‘A grande polêmica do Oscar se concentra numa categoria considerada ‘menor’ pelos especialistas da Academia – a de filme estrangeiro. É nela que concorre Paradise now, do palestino Hany Abu-Assad. Membros da comunidade judaica acharam ofensiva a maneira como Abu-Assad apresenta dois homens-bomba prestes a cometer um atentado em Tel-Aviv. Famílias de vítimas do terrorismo apresentaram abaixo-assinado com 32 mil nomes pedindo que a Academia retirasse Paradise now do concurso. Em entrevista ao jornal israelense Yediot Ahronot, o diretor Abu-Assad contestou as críticas ao filme. E devolveu as acusações aos israelenses: ‘Os atentados suicidas são uma reação ao terrorismo de vocês.’ Disse que dificilmente ganhará o Oscar, apesar de considerado favorito e ter vencido o Globo de Ouro. O filme continua em cartaz em São Paulo.’




PULINHO NO JAPÃO
Cristina Padiglione


TV Cultura ensaia parceria com japoneses


‘Depois de passar pela China, onde ensaiou as bases de uma parceria entre a TV Cultura e a estatal TV Beijin, o presidente da Fundação Padre Anchieta, chefe da TV Cultura, Marcos Mendonça, aproveitou a viagem para dar um pulinho no Japão.


Em Tóquio, Mendonça visitou as emissoras de televisão NHK, TBS e IPC TV, conhecidas pela tecnologia de ponta dos nativos. A idéia, de novo, era estabelecer possíveis intercâmbios de programação, tecnologias e até mesmo um programa de reciclagem de profissionais entre brasileiros e japoneses. Saionará. A pedra foi lançada. A ver.’




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