Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Outras pautas possíveis

Há pautas que dificilmente são objeto de maior atenção na imprensa por mais que tenham relevância. Durante as eleições, sejam municipais, estaduais ou federais, explora-se na mídia, ao máximo, a figura dos candidatos, os resultados para os partidos políticos em termos de crescimento ou perdas, as promessas impossíveis feitas pelos inescrupulosos, o passado nefasto de alguns postulantes a cargos públicos, mas pouco se fala sobre o processo de decisão de quem serão os candidatos às vagas em disputa. E o presidente Lula declara, ao final do pleito municipal, que ‘foi uma aula de democracia’.

Talvez aula de agilidade tecnológica, por causa de urnas eletrônicas capazes de proporcionar resultados velozes quase que imediatamente após a votação. Ou ainda aula de civilidade e cidadania, porque não houve violência no exercício do voto e nem indícios de corrupção ou manipulação eleitoral.

Mas falar em aula de democracia é algo um tanto exagerado se levarmos em conta que o processo de participação política no país ainda é pífio. Conseqüentemente, aspectos como a decisão de quem serão os candidatos permanecem restritos a um seleto grupo de encarregados pela decisão. É verdade que podemos votar em quem for… desde que nos candidatos que nos foram ofertados.

Contribuições valiosas

O fato é que a mídia poderia tratar mais do frágil envolvimento das pessoas com a atividade política de maneira global. Pouco se fala sobre quem está decidindo os nomes dos candidatos numa convenção partidária: esses serão os postulantes que teremos à disposição para votar.

Poderíamos ler e assistir a mais reportagens sobre a participação dos jovens no processo político (e não somente eleitoral), ou a respeito dos critérios (ou a falta deles) para escolha dos candidatos, o enfraquecimento das ideologias partidárias e a supervalorização das candidaturas baseadas nos perfis midiáticos dos aspirantes a cargos eletivos.

O balanço das eleições, apresentado costumeiramente pela mídia, não deveria se restringir apenas aos resultados em si, à matemática eleitoral. Deveria ser mais analítico sobre o papel da sociedade no processo decisório e a que tipo de escolha as pessoas são submetidas.

O foco das discussões políticas e da divulgação na imprensa poderia ser o jogo pré-voto. Antes do eleitor digitar os números de seus candidatos, o que se fez para que esse processo seja democrático, atrativo e com significado de necessidade? Mais do que pautas interessantes, há contribuições valiosas da mídia para a agenda política. No combate ao fisiologismo político-partidário, por exemplo.

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Estudante de Jornalismo e ativista comunitário, Florianópolis (SC)