Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Paulo Sotero

‘Considerado imbatível nos meses que se seguiram à invasão do Iraque, quando sua taxa de aprovação esteve perto de 90%, o presidente George W. Bush lança hoje uma blitz eleitoral pela televisão para tentar conter o forte declínio de popularidade que sofreu desde o início do ano e definir os termos da longa contenda que enfrentará com seu desafiante democrata, o senador John Kerry, de Massachusetts, para renovar seu mandato por mais quatro anos no pleito de 2 de novembro.

A campanha na TV estava programada para maio, mas foi antecipada diante da erosão surpreendentemente rápida da posição de Bush. Segundo a maioria das pesquisas, o líder americano é agora vulnerável e perderia para Kerry por até 8 pontos de diferença, se as eleições fossem hoje.

Os anúncios, que serão veiculados nacionalmente, foram concebidos com dois objetivos. A primeira safra apresentará Bush como um líder que sabe exatamente o que quer e oferece um rumo claro para os EUA, seja para fomentar o crescimento econômico, seja para garantir a defesa intransigente da segurança dos americanos e levar adiante a guerra ao terrorismo. Uma segunda leva de anúncios explorará alegadas contradições da carreira de Kerry, especialmente de seus 19 anos no Senado, para criar dúvidas entre os americanos sobre sua capacidade de oferecer uma alternativa clara ao país.

Em contraste com campanhas passadas, esta batalha pela Casa Branca não deverá ser necessariamente marcada pela preocupação dos candidatos de moderar suas imagens públicas em busca dos votos dos eleitores centristas.

No ano 2000, por exemplo, Bush apresentou-se como praticante do ‘conservadorismo com compaixão’ e prometeu uma ‘política externa humilde’ para atenuar sua reputação de direitista radical, que confirmaria no exercício do poder. O candidato democrata, o então vice-presidente Al Gore, um falcão em matéria de segurança e defesa que poderia ter vencido se tivesse defendido o legado dos oito anos de Bill Clinton, preferiu colocar-se à direita de seu patrono político, por temer os efeitos negativos do escândalo Monica Lewinsky. Gore venceu na contagem dos votos eleitorais, mas perdeu a presidência por quatro dos 538 votos do colégio eleitoral, que define o resultado.

Este ano, Bush e Kerry lutarão pela presidência diante de uma nação dividida ao meio numa eleição que promete ser uma das mais disputadas – e sujas – da história do país. De um lado, o presidente é o líder mais conservador que passou pela Casa Branca nos últimos 70 anos e um dos políticos mais polarizadores que o país conheceu. De outro, o senador de Massachusetts exibe uma biografia que começou com seu heroísmo na Guerra do Vietnã, nos anos 60, ganhou rumo na militância antiguerra, na década de 70, e desabrochou num dos mais consistentes históricos de votos em favor de causas liberais e progressistas entre os atuais membros da bancada democrata no Senado.

As diferenças não se limitam às divergências claras entre eles na condução da economia, da política externa e das difíceis questões sociais que dividem os americanos, como o casamento entre homossexuais, o direito ao aborto, a pena de morte e o controle de armas de fogo.

Elas são mais profundas e até emocionais. David Broder, veterano repórter político e colunista do Washington Post, observou ontem que Bush, ex- empresário do setor petrolífero no Texas, e Kerry, filho de diplomata da Nova Inglaterra, ‘não gostam do que o outro representa, no nível pessoal’.

‘Kerry é o que Bush trabalhou arduamente para não ser – um elitista do nordeste americano’, disse a Broder o ex-deputado federal republicano Vin Weber, de Minnesota, que tem fortes ligações com a Casa Branca. ‘Bush tem raízes de família na Nova Inglaterra, mas as rejeitou e agora disputará a presidência com alguém que representa tudo o que ele sempre quis evitar.’

Kerry , por sua vez, não perde oportunidade para deixar o contraste evidente. Em seus comícios, afirma que, apesar de ter nascido e crescido numa família não menos afluente que a de Bush, fez escolhas totalmente opostas às do presidente e dedicou-se no Senado a lutar pelos interesses do americano comum. O democrata declarou sua oposição frontal à proposta de Bush de tornar permanentes, para os que ganham acima de US$ 200 mil por ano, os cortes de impostos temporários que conseguiu aprovar no Congresso dominado pelos republicanos. E acusou terça-feira a administração Bush de ter conduzido ‘a política externa mais inepta, irresponsável, arrogante e ideológica da história moderna’ dos EUA.’



José Meirelles Passos

‘Bush irrita parentes de vítimas de atentados’, copyright O Globo, 5/03/04

‘Saiu pela culatra o primeiro tiro disparado pelo presidente George W. Bush na guerra eleitoral iniciada ontem contra John Kerry, o candidato à Presidência do Partido Democrata. Três dos quatro anúncios que começaram a ser exibidos na TV, em 17 estados, revoltaram parentes de vítimas do atentado terrorista às torres do World Trade Center, em Nova York, e também bombeiros que trabalharam no resgate dos feridos e no recolhimento de cerca de três mil cadáveres.

Para essas pessoas, Bush desrespeitou um lugar sagrado ao utilizá-lo como pano de fundo das peças publicitárias de lançamento de sua campanha pela reeleição. A propaganda inclui imagens dos destroços dos edifícios. E um dos filmes mostra bombeiros saindo das ruínas carregando uma maca coberta com a bandeira dos Estados Unidos, deixando presumir que sob ela havia o corpo de uma vítima.

– Isso me dá enjôos! Você iria ao túmulo de alguém para usá-lo como instrumento de política? Para mim é exatamente isso o que representa o local do atentado – disse Colleen Kelly, cujo irmão morreu durante o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001.

Bombeiros fazem campanha para retirar anúncios

A Associação Internacional de Bombeiros, que há pouco mais de um mês declarou seu apoio formal à candidatura de Kerry – embora tivesse feito contribuições financeiras idênticas tanto a ele quanto a Bush – definiu os anúncios do presidente como deplorável, e iniciou uma campanha para forçar o Partido Republicano a retirá-los.

– Não vamos deixar que ele (Bush) ponha um braço nos ombros de um de nossos companheiros, em cima de uma pilha de entulho durante uma tragédia, e vê-lo levantar dinheiro para sua campanha com essa imagem – disse Harold Schaitberger, presidente da entidade.

Tommy Fee, bombeiro de Queens, em Nova York, que trabalhou vários dias nos escombros do World Trade Center, acrescentou:

– Exibir anúncios como esses é um gesto tão repugnante quanto o daquelas pessoas que roubaram coisas dos destroços das torres gêmeas.

Conselheira de Bush o defende na TV

Karen Hughes, conselheira de Bush para assuntos políticos e de comunicação, foi a várias emissoras de TV tentar aplacar a ira dos familiares dos mortos e feridos nos atentados, que manifestaram sua indignação em entrevistas a estações de rádio e TV. Karen disse que discordava ‘completa e respeitosamente’ da opinião deles:

– Acho que os anúncios são de muito bom gosto. É uma lembrança de nossa experiência compartilhada como nação. O 11 de Setembro não foi apenas uma tragédia distante do passado. O que aconteceu naquele dia definiu nosso futuro – disse ela.

Karen insinuou que as queixas partiam apenas de simpatizantes do Partido Democrata:

– Posso entender por que alguns democratas podem não querer que o povo americano se lembre da grande liderança e da fortaleza que o presidente e a primeira-dama, Laura Bush, trouxeram para o nosso país depois daquele atentado.’



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‘Batalha publicitária na TV para atrair eleitor’, copyright O Globo, 4/03/04

‘A guerra dos anúncios publicitários entre o presidente George W. Bush e o senador John Kerry começa esta manhã, pela televisão, em 17 estados americanos onde a disputa eleitoral pela Casa Branca deverá ser mais acirrada.

O presidente está investindo US$ 4,5 milhões nesta fase, com quatro filmes. Três deles duram 30 segundos cada, sendo um em espanhol – visando a uma comunidade de 35 milhões de pessoas, que, na eleição anterior, deu 65% de seus votos ao democrata Al Gore, e apenas 35% a Bush.

Bush e Kerry batem na tecla da mudança

O principal anúncio do presidente dura um minuto e apresenta o slogan de sua campanha: ‘Liderança firme em tempos de mudança’. Nele aparecem imagens dos destroços que restaram do atentado terrorista ao World Trade Center, em Nova York, e cifras mostrando a queda no valor das ações em Wall Street. Bush aparece, em seguida, como o homem que enfrentou tanto as ameaças externas quanto os problemas internos: ‘Eu sei exatamente para onde quero levar este país. Sou otimista sobre os Estados Unidos porque acredito no povo dos Estados Unidos’, diz.

Curiosamente, ao comemorar sua vitória em nove das dez primárias de terça-feira, que o alçaram à condição de candidato do Partido Democrata, Kerry lançou um slogan próprio, que toca no mesmo tema: ‘A mudança está chegando aos Estados Unidos’. Ontem, assim que teve conhecimento do teor dos anúncios de Bush, que foram apresentados em sessão especial à imprensa, o presidente do Partido Democrata, Terry McAuliffe, reagiu ironicamente:

– Os anúncios se referem a uma liderança firme de Bush como presidente, mas deixam de lado alguns fatos sobre a firmeza de sua liderança: a firme perda de emprego, o firme aumento de americanos sem seguro, o firme declínio dos recursos para a educação, a firme erosão dos benefícios para os veteranos de guerra, o firme ataque contra o fundo de segurança social, e o firme crescimento do déficit – disse.

Para confrontar Bush, um grupo de ativistas democratas chamado MoveOn.org também lança hoje anúncios nos mesmos 17 estados, a um custo de US$ 1,9 milhão. As peças publicitárias tinham sido preparadas antes que fosse decidida a candidatura de Kerry – depois que o senador John Edwards se retirou da campanha. Por isso, em vez de apresentar Kerry como uma alternativa, os anúncios por enquanto serão especificamente contra Bush.

Grupo democrata tem 2,3 milhões de simpatizantes

Um dos três filmes mostra crianças trabalhando numa mercearia e também numa fábrica de pneus. As imagens são concluídas com uma frase: ‘Adivinhem quem vai pagar pelo déficit de US$ 1 trilhão causado pelo presidente Bush?’.

– Estamos aumentando os esforços para garantir que muitas vozes sejam ouvidas e propagando mensagens sobre os assuntos fundamentais – disse Wes Boyd, fundador desse grupo democrata com 2,3 milhões de simpatizantes, que já contribuíram com US$ 10 milhões para a campanha anti-Bush.’





Jornal do Brasil

‘Anúncio de Bush gera polêmica’, copyright Jornal do Brasil, 5/03/04

‘A milionária campanha presidencial para a reeleição de George Bush apenas começou, mas já está causando polêmica. Um dos anúncios exibidos ontem mostra imagens do presidente nos escombros das Torres Gêmeas. A propaganda, que faz parte de uma campanha com 3 anúncios diferentes, provocou a ira dos parentes das vítimas e foi alvo de críticas do Partido Democrata.

As principais reclamações feitas ontem foram sobre o possível uso do terrorismo para fins eleitorais.

– O anúncio não tem escrúpulos. É um tapa na cara das famílias – disse Monica Gabrielle, cujo marido morreu durante os atentados.

Já Colleen Kelly, que perdeu o irmão na tragédia e dirige uma organização de parentes das vítimas, foi mais enfática e contou que lhe deu ‘ânsia de vômito’.

Por outro lado, uma assessora do presidente defendeu que o anúncio – exibido em 17 Estados considerados chave pelos republicanos – recorda uma experiência comum dos americanos.

O chefe de estratégia, Matthew Dowd, também se dedicou ontem à tarde a responder perguntas sobre o tema em um chat no site do jornal The Washington Post.

– É totalmente apropriado relembrar e reconhecer este evento, já que estamos discutindo qual candidato tem as melhores políticas para lidar com as conseqüências do 11 de setembro – afirmou Dowd.

A campanha publicitária começou depois de meses de relativo silêncio republicano, enquanto seu candidato era alvo de críticas dos democratas.

– Depois de ter que escutar um monólogo, agora é hora dos americanos escutarem um diálogo – disse Ken Mehlman, gerente de campanha de Bush.

Ontem, o presidente, que fez campanha na Califórnia, defendeu sua gestão econômica, considerada um dos pontos fracos de sua administração.

O Estado, o mais populoso do país, é considerado um reduto democrata. Em 2000, Bush obteve lá 11% de votos a menos que o rival Al Gore.

Já John Kerry foi anteontem para a Flórida fazer campanha, pois o Estado é um dos quatro a realizar prévias na próxima semana – os outros são Texas, Mississippi e Louisiana. Mesmo sendo o único democrata importante ainda na competição, Kerry precisa abocanhar mais 600 delegados para a convenção nacional do partido.

Além disso, o senador vê as prévias como uma oportunidade de visitar todos os Estados do país, fortalecendo o Partido Democrata e, obviamente, sua candidatura à presidência.

Mas Kerry terá que aproveitar estas ocasiões para tentar arrecadar fundos para sua campanha. Anteontem, o democrata tinha apenas US$ 2 milhões, segundo dados da Comissão Federal Eleitoral, enquanto Bush tem US$ 104 milhões em mãos.

Mas estrategistas democratas têm se mostrado confiantes, já que o senador rejeitou receber fundos públicos para sua campanha, o que significa que poderá arrecadar uma quantia ilimitada.

Na quarta-feira, dia em que o democrata enviou um e-mail a simpatizantes do partido pedindo contribuições, foram arrecadados US$ 1,2 milhões em apenas 16 horas.’





O Estado de S. Paulo

‘Anúncios de Bush causam onda de protestos’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/03/04

‘Começou com uma onda de protestos a divulgação da propaganda eleitoral do presidente americano, George W. Bush, pela TV. Parentes das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001 estão irritados com a exibição de um anúncio que mostra Bush tendo ao fundo imagens dos escombros do World Trade Center. ‘As famílias estão enraivecidas’, disse Bill Doyle, cujo filho morreu no WTC e é porta-voz de vários grupos de parentes de vítimas. ‘O que nos dá mais desgosto é ver que o presidente está tentando usar o 11 de setembro como pano de fundo para sua reeleição.’

Foram exibidos ontem dois da série de quatro filmetes de 30 segundos sobre o 11 de setembro – que têm também sua versão em idioma espanhol. Sob o lema ‘Mais seguro e mais forte’, os dois mostram destroços do WTC na área conhecida como Ponto Zero. Em um deles, é mostrada uma imagem do funeral de um dos bombeiros mortos nos ataque. No outro, uma bandeira americana tremula sobre os escombros.

‘Quando vi aquilo, senti vontade de vomitar’, disse Colleen Kelly, que perdeu um irmão nos atentados e dirige a organização de parentes de vítimas Amanhã Pacífico. Monica Gabrielle, cujo marido morreu no WTC, disse ao jornal New York Daily News que o anúncio demonstra ‘falta de escrúpulos’ e significa ‘um tapa na cara das famílias’.

A assessoria de campanha de Bush apressou-se a defender os anúncios. ‘A propaganda é uma lembrança de nossa experiência comum’, disse a assessora Karen Hughes, afirmando que as imagens são usadas ‘de forma delicada’.

‘O 11 de setembro não é um evento qualquer de um passado distante’, prosseguiu Karen. ‘Todos sentimos muito essa tragédia, mas também é importante reconhecer o impacto que ela teve em nossa política pública nacional.’

Para o Partido Democrata, o episódio reforça a tese de que Bush pretende utilizar o terrorismo como argumento a seu favor nas eleições de 2 de novembro. O Partido Republicano já havia escolhido Nova York como sede de sua convenção nacional, marcada para 2 de setembro, nove dias antes do terceiro aniversário dos atentados.

A primeira série de anúncios de Bush começou a ser transmitida em 17 Estados que os republicanos consideram mais importantes para a reeleição. A assessoria de Bush decidiu antecipar em várias semanas o lançamento da campanha pela reeleição ante a precoce definição das primárias democratas – que indicaram o senador John Kerry como o adversário do presidente em novembro.

Além dos anúncios na TV, Bush também já começou a atacar Kerry em seus discursos. Na noite de quarta-feira, durante um evento para arrecadar fundos na Califórnia, ele mencionou o nome do rival em público pela primeira vez.

Em seu pronunciamento, ele fez questão de descrever Kerry como ‘um homem de Washington’ – em contradição ao esforço do senador para distanciar-se da imagem de político tradicional – e deu a entender que ele muda de opinião de acordo com seus interesses eleitorais. ‘O senador Kerry passou tempo suficiente em Washington para adotar duas posições sobre quase todos os assuntos’, disse o presidente. (AP, Reuters, AFP, DPA e EFE)’




David Brooks


‘Duelo de Titãs’, copyright O Globo / The New York Times, 8/03/04


‘Nós almejamos ser a classe média de uma nação democrática, mas na realidade amamos nossos sangues azuis. Amamos nossos Roosevelts, Rockefellers, Kennedys, Bushes, Deans e Gores.


Amamos aquelas maneiras das escolas preparatórias, a calma aristocrática, os extensos gramados das casas de verão da Nova Inglaterra. De que outra forma mais se poderia explicar a disputa entre Bush e Kerry que acontece este ano?


Na Grã-Bretanha nenhum deles poderia liderar um partido. Seus pedigrees da mais alta classe social seriam desqualificados. Mas aqui na terra dos discípulos de Ralph Lauren, aqui na terra do autodesprezo da classe média, queremos nos certificar que quem nós elegermos para a Casa Branca viveu uma vida diferente da nossa.


Então você escolhe um partido, o Partido Republicano, o chamado partido dos valores tradicionais, que não nomeará um candidato a menos que ele tenha uma fazenda do tamanho de Oklahoma. Republicanos não crêem que um candidato seja capaz de governar a menos que ele viaje a cada verão. E então você escolhe o Partido Democrata, o chamado partido do povo, que não nomeará um candidato a menos que sua família tenha vindo de primeira classe no Mayflower.


O atual candidato, John Kerry, é quase uma paródia do establishment da Costa Leste. Ele é descendente de John Winthrop, o primeiro governador da antiga colônia de Massachusetts, e sua mãe, membro do famoso e bilionário clã Forbes. Ele passou parte da infância interno numa escola suíça até que sua tia o enviasse à então esnobe St. Paul’s.


Queremos que nossos candidatos republicanos abracem o populismo cultural dos estados ultra-religiosos. Queremos que nossos candidatos abracem o populismo econômico das classes trabalhadoras.


Mas não queremos realmente ser governados por gente como nós mesmos. Queremos os descendentes das linhagens nobres. O antropólogo Lionel Tiger revela que em muitas comunidades primatas, os filhotes de fêmeas que gozam certos privilégios no grupo são imediatamente aceitos como membros no grupo de elite.


Tiger sublinha que a política é um negócio visceral. É uma enorme vantagem ter sido inoculado com o hábito da autoconfiança desde a infância. Se se pode projetar um conforto físico com o poder, os outros que estão ao seu redor começarão a aceitar seu senso de auto-avaliação.


Não existem muitas pessoas normais despertando em bairros normais assumindo que eles deveriam governar o mundo. Mas Deus abençoa a elite. Eles perderam a sua legitimidade, mas eles não perderam a sua autoconfiança.’






O Globo


‘EUA: republicanos pressionam TVs’, copyright O Globo, 8/03/04


‘Políticos democratas reclamaram ontem do que classificaram como uma campanha de intimidação dos republicanos sobre as emissoras de TV dos Estados Unidos. Na sexta-feira, membros do Comitê Nacional Republicano telefonaram e enviaram cartas a mais de 250 emissoras de TV de todo o país para adverti-las de que deveriam interromper a veiculação de anúncios que criticam severamente o presidente George W. Bush.


Anúncios foram pagos por ONG


Os anúncios fazem parte de uma série promovida pela ONG MoveOn.org, que participa da campanha democrata à Presidência dos Estados Unidos. Vários dos anúncios mostram crianças trabalhando, como uma menina varrendo um corredor de hospital, e trazem a legenda ‘adivinhe quem terá que pagar o déficit de US$ 1 trilhão do presidente Bush?’ A maioria das emissoras ainda não retirou os anúncios do ar.


O Comitê Nacional Republicano alega ter feito as advertências partindo do princípio que os anúncios na TV foram custeados pelas grandes doações recebidas pela MoveOn.org, o que de acordo com as atuais leis sobre o financiamento de campanha eleitoral seria ilegal.


‘Vocês têm a responsabilidade perante ao público e à agência governamental que lhes concedeu uma licença para operar como emissoras de TV de evitarem ser cúmplices de uma atividade ilegal’, diz uma carta enviada às emissoras pela chefe de assuntos legais do comitê republicano, Jill Holtzman Vogel.


A carta acrescenta ainda que ‘agora que vocês foram advertidas sobre o que diz a lei e para evitar novas violações da legislação federal, pedimos que retirem do ar os anúncios’.


No entanto, a MoveOn.org assegura que sua campanha publicitária é totalmente legal, já que foi financiada somente com o tipo de doação estabelecido pela lei eleitoral. Em comunicado, o presidente da MoveOn.org, Wes Boyd, disse que o Partido Republicano ‘continua a fazer acusações falsas sobre a legalidade de nossa campanha numa tentativa de nos silenciar’.


Organização assegura ter agido dentro da lei


A origem da discussão está no complexo sistema de financiamento das campanhas eleitorais americanas. Organizações não-partidárias como a MoveOn.org não podem fazer uso de doações do chamado ‘soft money’ (superiores a US$ 5 mil) para pagar anúncios contra um candidato. Porém, a MoveOn.org assegura que pagou toda a campanha com aproximadamente US$ 10 milhões que obteve juntando as doações de 160 mil pequenos colaboradores. Dessa forma, alega, está completamente dentro da lei.


O democratas dizem que os republicanos, que contam com um número menor de organizações, estão tentando de todas as formas minar a campanha de John Kerry com interpretações erradas da lei de financiamento eleitoral.’