Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Pesquisa: telespectador dá nota 7 à TV brasileira


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas. 
 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 3 de agosto de 2009 


 


TELEVISÃO


Daniel Castro


Telespectador dá nota 7 à TV brasileira, mostra pesquisa


‘De zero a dez, a TV aberta brasileira é nota sete. É o que revela levantamento feito pela GfK, quarta maior empresa de pesquisas do mundo. A alemã ouviu mil pessoas com mais de 18 anos em 12 capitais brasileiras. Constatou que 75% veem TV aberta e 25%, não.


A pesquisa não foi encomendada por nenhuma companhia de TV. Segundo a GfK, teve o único propósito de avaliar a satisfação com a programação da televisão aberta.


A maioria, 64%, declarou estar satisfeita (deu notas superiores a sete) com o que assiste. Só 7% manifestaram insatisfação (notas inferiores a três).


As mulheres revelaram maior satisfação com a TV do que os homens. Deram nota oito -para os homens, é sete.


A aprovação é maior no Nordeste (78% de notas acima de sete) e no Norte e Centro-Oeste (68%). As regiões Sudeste (60%) e Sul (57%) registraram menor grau de satisfação.


Os mais jovens (de 18 a 24 anos) e os mais velhos (acima de 56) foram os que revelaram maior simpatia pela programação gratuita. As pessoas com mais de 56 anos, na média, deram nota nove à TV.


O único recorte que revela grau abaixo do satisfatório é o das classes sociais. Os telespectadores das classes A e B deram nota seis à programação. Em compensação, os mais pobres, da C e D, atribuíram nove.


Entre os entrevistados que assistem à TV aberta, 91% disseram que costumam ver a Globo; 59%, a Record; 48%, o SBT e 38%, a Band. Quanto à frequência, a Globo é a mais vista (67%), seguida de longe pela Record (17%).


GEOPOLÍTICA


A Globo está sem correspondente em Paris. Sonia Bridi voltou ao Brasil para cuidar de projetos especiais. A vaga de Paris foi deslocada para Lisboa, com Pedro Bassan, mas quem cobrirá a França agora será Londres (Marcos Losekan).


ADEUS


A Cultura exibiu anteontem a última edição do ‘Pé na Rua’, revista cultural para adolescentes. Promete estrear até o final do mês um novo programa, com outro formato, maior duração e em horário mais nobre, para a mesma freguesia.


FESTA


O SBT irá comemorar seu aniversário, neste mês, com uma seleção de blockbusters, nem todos inéditos.


CLASSIFICADA


A Coca-Cola comprou a primeira cota de patrocínio da Copa de 2010 na Globo. Por ser patrocinadora do Mundial, tinha prioridade. A Globo agora oferece cotas aos patrocinadores de seu futebol nacional.. Em setembro, lançará as que sobrarem ao mercado em geral.


PONTO DE VISTA


A cúpula da Record achou a estreia de ‘No Limite 4’ um ‘fracasso’. Mas o programa da Globo, na quinta, deu 24 pontos, 43% a mais do que ‘A Fazenda’ (16,8) no mesmo dia.


FAMOSOS?


Uma produtora da Record anda sondando ex-bbbs. Diz que a TV quer um ex-participante do reality show da Globo em ‘A Fazenda 2’.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


Record coloca humor no lugar dos mutantes


‘Após um festival de mutantes e tiroteios, a Record comprou os direitos de uma fórmula de sucesso para investir em uma novela com humor. ‘Bela, a Feia’, adaptada da original colombiana ‘Yo Soy Betty, la Fea’, de Fernando Gaitán, estreia amanhã no canal, apostando na comédia de situação. A autora Gisele Joras (‘Amor e Intrigas’) é a responsável por verter o texto para o imaginário brasileiro. Segundo ela, pegou ‘apenas a premissa básica’. ‘O resto eu criei, já que tenho liberdade total para isso.’ Ela diz ter visto só a primeira temporada da versão americana, atualmente exibida no SBT (leia abaixo), trechos de outras versões e do original.


Na adaptação brasileira, Giselle Itié é a mulher honesta que está rodeada por salafrários, mulherengos e oportunistas -que incluem até o homem por quem vai se apaixonar. A dramaturga colocou pitadas de cor local, com a protagonista morando na zona portuária do Rio, e desenvolveu o passado de Bela, com um sucesso rápido de uma dupla infantil com o irmão.. Isso vai explicar sua baixa autoestima, aliada ao desleixo no visual. ‘Acho que, em cada versão, Bela tem seus próprios atributos. Mas ela sempre se encaixa no arquétipo de patinho feio’, diz a escritora. A trama vai contrapor o desejo de ser celebridade instantânea das pessoas que trabalham em um salão de beleza com o trabalho em uma agência de publicidade -que às vezes vai ser igualmente fútil.


A heroína Bela está lá para mostrar que a beleza interior é o que conta. ‘Mostrarei o contraste entre Bela, que é feia, mas uma menina de vida interior muito rica, e Rodrigo, que é muito bonito por fora, mas não tem vida interior.’


Tem um alto grau de discurso de autoajuda, mas não há como negar que isso vende bem.


BELA, A FEIA


Quando: estreia amanhã, às 20h30, na Record


Classificação: livre’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


O que quer a Colômbia


‘A entrevista do chanceler Celso Amorim a Eliane Cantanhêde, ontem na Folha, ecoou pelas diversas agências internacionais com enunciados como ‘Brasil quer pôr limites às bases dos EUA na Colômbia’ ou ‘Desavenças entre Brasil e EUA estão aumentando por causa da Colômbia’.


Por outro lado, a manchete on-line do fim de semana na ‘Foreign Policy’, que ecoa o Departamento de Estado de Hillary Clinton, pressionou que, apesar dos balanços que dão até como ‘trabalho de gênio’ os seis meses de Obama pelo mundo, acumulam-se os países supostamente irritados com o presidente. Em destaque, a Colômbia, porque ele nada fez para aprovar o acordo bilateral de comércio.


‘MATERIAL NOVO’


Confirmando que o confronto regional cresce, a manchete on-line do ‘New York Times’, à noite, dizia que a ‘Venezuela ainda ajuda rebeldes da Colômbia, mostra novo material’. Seria um ‘material de computador capturado há alguns meses, que está sob revisão de agências de inteligências ocidentais’.


CHEVRON & PRÉ-SAL


No ‘Wall Street Journal’, a Chevron, segundo maior petroleira dos EUA, anunciou queda de 71% nos lucros, no trimestre. ‘Mas o sucesso em novos projetos levou a elevar a produção prevista para 2009’, citando ‘êxitos operacionais como o início de grandes projetos no México e no mar do Brasil’.


PÓS-RACIAL, NÃO


Na página ‘mais popular’ do ‘NYT’ de domingo, o colunista Frank Rich avalia a ‘cúpula da cerveja’ que reuniu Obama, um professor negro e o policial branco que o prendeu. O episódio mostra que ‘a América não transcendeu raça, não é pós-racial’, e que alguns ‘não aceitam a realidade de que o perfil racial da América não mais reflete o deles’. Falava da histeria dos republicanos e da Fox News, por sinais como a eleição e reeleição da prefeita ‘latina lésbica’ de Dallas, Texas.


O republicano John McCain, que passou o fim de semana em entrevistas de jornal e TV, falou à CNN que o partido está num ‘buraco’, sem o voto ‘latino’.


‘PARANOIA LITE’


Na ilustração da coluna de Frank Rich, garrafas com marcas como ‘Medo’. No Brasil, Exame e outros sites saudaram como Obama bebeu ‘cerveja da belgo-brasileira ABInBev’


RECESSÃO


O ‘Financial Times’ ressaltou no fim de semana que Obama prevê ‘muitos meses até os EUA saírem da recessão’, que é ‘mais profunda do que se pensava’.


E a ‘Economist’ avisa que os números de desemprego, esta semana, podem indicar ‘recuperação fraca’ e até recessão em ‘W’.


RECUPERAÇÃO


O ‘WSJ’ não avalia assim e amontoava reportagens, ontem na home page, sobre a ‘recuperação’ que já é percebida nas vendas da Ford e que reanima empresas que cortavam investimento.


Até o republicano John McCain, adversário de Obama, afirma que ‘o estímulo teve algum efeito’.


CLASSE C E O FIM DA CRISE


A rede McClatchy, de jornais como ‘Miami Herald’, produziu ontem a longa reportagem ‘Classe média crescente do Brasil sustenta recuperação’. Ouvindo Moody’s, FGV e Ipea, entre outros, afirma que mais de 20 milhões entraram na ‘economia de consumo nos últimos anos’ e são eles que estão tirando o país da crise, ‘não a soja, a carne ou o minério de ferro’.


A AGENDA


O domingo seguia arrastado, com a agenda do Senado pós-recesso, nas manchetes da Folha Online ao Congresso em Foco, sendo dominada pelas ‘ações contra Sarney’. Até que o site do PMDB, em nota assinada por Michel Temer, ‘pede para os dissidentes deixarem o partido o quanto antes’, manchete da mesma Folha Online e de outros, em ‘recado para Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon’. A nota sumiu do link, depois.


Por outro lado, Simon reagiu de imediato no alto do G1, portal da Globo, e do site da ‘Veja’, dizendo que só deixa a legenda ‘se for expulso’.’


 


 


VENEZUELA


Efe


Rádios fechadas eram ilegais, afirma Caracas


‘Depois de fechar, no sábado, 34 emissoras de rádio, o governo venezuelano insistiu em que não está cassando nenhuma concessão, já que as rádios operavam na ilegalidade.


‘Desafio os donos dessas emissoras a apresentarem um documento onde a Comissão Nacional de Telecomunicações as tenha autorizado a transmitir por rádio’, disse o diretor do órgão regulador.


O fechamento foi criticado pela ONG Repórteres sem Fronteiras.’


 


 


INTERNET


Marcos Strecker


Livro reúne posts polêmicos do blog de José Saramago


‘‘O Caderno’ (Companhia das Letras, 224 págs., R$ 45) é, de certa forma, uma contradição em termos. Quem quiser consultar o blog do escritor José Saramago pode acessar diretamente na internet o endereço caderno.josesaramago.org. Então qual é o sentido de reunir em livro seus posts escritos entre setembro de 2008 e março de 2009? Os textos são os mesmos, a ordem cronológica permanece, não há apêndices.


Mas, como Saramago é Saramago, a publicação virou um acontecimento e gerou polêmica que correu o mundo, por conta das impertinências do autor contra políticos. A crítica que detonou a crise teve como alvo o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.


No texto ‘Berlusconi & Cia.’, Saramago escreveu: ‘Na terra da máfia e da camorra, que importância poderá ter o facto provado de que o primeiro-ministro seja um delinquente?’.


Até aí, a provocação seria apenas mais uma entre tantas que se multiplicam sem consequências pela internet. Mas a Einaudi, que pertence a Berlusconi e publica Saramago na Itália, se recusou a publicar ‘O Caderno’, que inclui esse post. Saramago reagiu, e a polêmica atraiu a imprensa, lembrando a censura branca que ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ sofreu em Portugal, episódio emblemático em sua carreira.


Agora, depois de dar entrevistas indignadas e escrever artigos duros, inclusive no espanhol ‘El País’, Saramago minimiza o episódio. Em entrevista por e-mail à Folha, disse que os dois incidentes ‘são casos diferentes’. Segundo ele, ‘em Portugal, a decisão foi do governo, na Itália foi a própria editora que, por temor às consequências, resolveu não publicar. De certa maneira, a editora foi mais papista que o papa’.


Isso não quer dizer que tenha mudado de opinião: ‘Que [Berlusconi] promove a corrupção, toda a gente o sabe. Quanto a ser comparável, no seu comportamento, a um ‘capo’ da máfia, é uma opinião pessoal minha, de que, evidentemente, se pode discordar. Mas os fatos são eloquentes e permitem as piores comparações. Os escândalos [sobre sua relação com garotas de programa] provam o pouco caso que Berlusconi faz das funções que exerce como primeiro-ministro, salvo quando estão em causa os seus interesses’.


Bush e Sarkozy


O veto da editora italiana a ‘O Caderno’ certamente não afetará a difusão de Saramago no país (‘mais de 30 editoras da Itália se ofereceram para publicar o livro’). Berlusconi não é o único alvo. George W. Bush (‘inteligência medíocre, ignorância abissal’) e Nicolas Sarkozy (‘irresponsável’) também despertaram adjetivos no autor, assim como a esquerda (‘continua sem ter uma puta ideia do mundo em que vive’).


Quando Saramago lançou seu blog, muito se especulou sobre as implicações dessa produção em sua literatura. Qual a sua opinião? ‘A internet nem estimula nem atrapalha. São dois campos diferentes. A internet poderia desaparecer que eu continuaria com o meu trabalho, sem lhe sentir a falta..’


Isso não quer dizer que despreze a repercussão do blog: ‘Realmente surpreendeu-me. A penetração é enorme’.


Os textos reunidos em ‘O Caderno’ permitem compreender as motivações de Saramago e, especialmente, sua relação próxima com o Brasil. Os textos coincidem com sua última viagem ao país, quando começou a escrever seu próximo romance, que ainda não tem título e será lançado até o final do ano.’


 


 


LÍNGUA


João Caetano e Mônica Villela Grayley


O futuro do português no mundo


‘SEGUNDO O filósofo alemão Peter Sloterdijk, ‘quando uma língua morta não quer expirar, mas manter-se em vigor como língua mundial, mostra-se assim com que poder os espíritos do império atuam’.


Em 1989, Francisco Moraes Sarmento escreveu, na revista ‘Leonardo’, que ‘a língua portuguesa morreu e está transformada numa língua de escravos, servos e bárbaros’, discordando da proposta do Acordo Ortográfico, na qual via a perda de poder e influência de Portugal em relação ao Brasil.


Vinte anos depois, o Acordo Ortográfico continua a despertar discussões calorosas, não só em Portugal mas também na ex-colônia portuguesa das Américas.


Num artigo publicado na ‘Gazeta do Povo’, em 2007, Carlos Alberto Faraco defendeu o Acordo de forma apaixonada, prevendo o processo de internacionalização da língua, considerando inaceitável que o dicionário ‘Houaiss’, para poder circular em todos os países de língua portuguesa, tivesse de ser editado em duas versões ortográficas.


Muitos, no maior país de língua portuguesa do mundo, veem no Acordo a chance de se adaptarem às mudanças e à dinâmica de uma língua falada todos os dias, do Ocidente ao Oriente, por oito nações diferentes.


A política da língua moderna é uma política de mapeamento contra condições políticas e econômicas mutativas, o que significa que é preciso compreender como a língua se relaciona com os novos fluxos de capital, mídia, tecnologia, cultura e pessoas numa esfera globalizada.


Este é o ponto-chave: as razões econômicas, sociais e culturais, outrora consideradas ‘baixa política’, são hoje fulcrais para se perceber de que modo o mundo muda e, assim, se afirmar, no plano político, a cooperação.


No seu livro ‘O Português no Brasil’, Antonio Houaiss estabelece as ‘diferenças’ entre o português brasileiro e as demais variantes dos países de língua portuguesa, principalmente a variante de Portugal. Sem utilizar a expressão ‘política da língua’, ele defende a criação de medidas ‘em prol da nossa língua’ (itálico nosso).


No último capítulo do livro, lançado em 1985, Houaiss advoga a concretização de ‘uma língua comum’ como fator de incremento da convivência humana, em que o português desempenha, estrategicamente, um papel importante.


Mas o português não tem ainda suficiente peso internacional, ao contrário do que se passa com outros idiomas, por ausência de uma política eficiente para a língua.


No estudo ‘Internacionalização da Língua Portuguesa’, coordenado por Carlos Reis, afirma-se que ‘a projeção internacional da língua portuguesa não corresponde, neste momento, à dimensão do seu universo de falantes’, definindo-se a internacionalização como um ‘processo eminentemente político de afirmação’, capaz de ‘garantir e reforçar o prestígio de uma grande língua de cultura’.


A declaração da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, proferida em 1999, de que, na sua vida, ‘todos os problemas da Grã-Bretanha foram originados pela Europa continental, mas [que] todas as soluções partiram dos países de língua inglesa’, é clara alusão ao papel da língua de Shakespeare nas relações de poder e à influência daí decorrente.


Língua e poder relacionam-se. O reconhecimento do estatuto de uma língua é medido não só pelo número de falantes mas também pelo espaço que ela ocupa no cenário internacional, contando as transações comerciais que são realizadas nessa língua (incluindo os eventos culturais e todas as boas ideias -não nos esqueçamos da magistral invenção americana do show business: nada como uma boa ideia bem concretizada, mas, se essa ideia der dinheiro para investir em novos projetos, melhor ainda) e a sua utilização nas diversas organizações internacionais.


O fa(c)to de o português ser uma língua comum a vários países tem facilitado o comércio do Brasil e de Portugal, e este mostra um interesse especial no Brasil, visando fortalecer as suas relações com a União Europeia.


O Brasil antecipou-se ao apoio à internacionalização do português pela CPLP, em julho passado, ao anunciar um plano para a criação de uma universidade da comunidade dos países de língua portuguesa, o que foi feito pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante uma visita à Guiné-Bissau.


Na mesma altura, em Portugal, o Conselho de Ministros aprovou uma nova estratégia para a promoção do português, que teve o apoio do presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.


E agora? Nos países onde se fala português, sejam eles grandes ou pequenos, não faltam pessoas de grande mérito, à escala mundial. Essa é a certeza de que faz sentido promover inteligentemente a língua portuguesa, mesmo se essas pessoas falam bem outras línguas. O português defende-se com bons argumentos, onde quer que seja falado.


JOÃO CAETANO , 39, professor de direito e ciência política, é pró-reitor para o Reordenamento Institucional da Universidade Aberta, Portugal.


MÔNICA VILLELA GRAYLEY , 40, é mestre em linguística e ciência política e doutoranda em ciência política.’


 


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 3 de agosto de 2009 


 


CENSURA


Leandro Colon


Fernando Sarney tentou silenciar ‘Estado’ e procuradores em 2008


‘A estratégia de Fernando Sarney de tentar impedir o Estado de publicar informações sobre investigações a seu respeito começou em 2008, revelam documentos do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Daquela vez, porém, não deu certo. Os documentos mostram ainda que Fernando, filho do senador José Sarney (PMDB-AP), também tentou impedir procuradores da República de fornecer informações.


Sem alarde, os advogados de Fernando entraram no ano passado com uma ação no conselho, pedindo três coisas. A primeira era a convocação de um repórter do jornal, para que revelasse suas fontes de informação. A segunda, a proibição de acesso a detalhes da investigação pelo Estado. E a terceira, o impedimento aos procuradores da República de concederem entrevistas.


O filho do presidente do Senado contestou o vazamento de informações do inquérito sobre a Operação Boi Barrica que, assegurou, teriam fundamentado a reportagem assinada pelo repórter Ricardo Brandt, em 16 de janeiro do ano passado. A reportagem informava que Fernando corria o risco de ser indiciado – o que acabou se confirmando no mês passado, como apontou outro repórter do Estado, Rodrigo Rangel. O filho do presidente do Senado foi indiciado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha.


A ação de Fernando no CNMP foi recusada e arquivada na sessão de 22 de setembro, por unanimidade. Os motivos alegados estão no voto do então relator do recurso, promotor Diaulas Ribeiro. Ele repudiou qualquer tentativa de obrigar o jornalista a revelar a fonte da informação. Para o promotor, tratava-se de ‘um atentado à Constituição Federal’.


ACUSAÇÕES


Os advogados de Fernando acusaram procuradores do Maranhão de terem repassado informações sigilosas ao jornal. O relator recusou a acusação. ‘Não é o Conselho Nacional nem o Ministério Público o guardião único do sigilo decretado. Dezenas de pessoas têm, legalmente, acesso aos autos. Nessa mesma linha não caberia ao Conselho Nacional vedar a divulgação de especulações genéricas, de comentários sobre uma investigação cuja existência passou ao domínio público’, diz o texto do voto. ‘A não divulgação é inerente ao segredo de Justiça e todos os que têm contado com os autos têm esse dever a cumprir.’


O pedido de silenciar os promotores ligados ao caso segue a mesma linha do pedido feito na sexta-feira da semana passada, quando conseguiu uma liminar do desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, proibindo o Estado de publicar informações sobre o inquérito da PF.


Em 2008, porém, a proposta teve resposta diferente. ‘Não se pode confundir observância do segredo de Justiça com censura prévia. A censura prévia é proibida pela Constituição Federal’, argumentou o relator.


Procurado pela reportagem, Diaulas Ribeiro não quis se manifestar.. Ele acaba de perder a vaga no CNMP. Em 30 de junho, o plenário do Senado, sob o fogo da crise envolvendo Sarney, rejeitou a condução dele ao cargo de conselheiro. O outro rejeitado foi Nicolao Dino.’


 


 


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Censura prévia movimenta usuários do Twitter


‘A reportagem publicada na sexta-feira passada sobre a censura da Justiça ao ‘Estado’ – impedido de divulgar informações sobre o inquérito da PF que envolve o empresário Fernando Sarney – ficou entre os temas de mensagens mais trocadas entre usuários do Twitter, rede de microblogs bastante usada entre internautas.


No sábado, ela foi a mais repassada. No acumulado da semana, ficou em terceiro lugar. Segundo o portal Migre.me, que faz levantamento dos links mais clicados na rede, 217 replicaram o texto a outros usuários do Twitter.


O movimento gerou mais de 2 mil acessos à reportagem sobre a censura no Portal Estadão. Entre sexta-feira e o início da tarde de ontem, foram 5.639 visitas ao site do ‘Estado’ via links no Twitter. A publicação sobre a censura também foi reproduzida em diversos blogs na internet.’


 


 


PROPAGANDA


Marili Ribeiro


Disputa mais quente na produção de comerciais


‘O mercado de produção de comerciais no Brasil está cobiçado. A retração da demanda no exterior tem feito empresas que antes filmavam apenas para clientes internacionais buscarem trabalhos por aqui. A Paradiso Films, que fazia 15 filmes por ano, avalia que fechará 2009 com metade dessa produção habitual. ‘O cenário é péssimo’, resigna-se James Lloyd, sócio fundador da empresa. ‘Os anunciantes querem fazer o mesmo com 60% do orçamento, o que é inviável.’


Assim como a Paradiso, a premiada produtora americana Hungry Man, com quase 12 anos de estrada e vários Leões em Cannes, tem somente um escritório no Rio de Janeiro. Quer agora dobrar seu faturamento no Brasil. Para tal, vai abrir outra unidade em São Paulo, como anunciou o sócio-fundador Bryan Buckley, há duas semanas no País filmando um comercial para o chocolate Twix, da companhia Mars.


No caso da Paradiso, o Brasil sempre surge como cenário de suas produções em anúncios que raramente são vistos por aqui. Realizados para anunciantes como as empresas automobilísticas Mercedes-Benz, BMW, Mazda e Land Rover; ou as indústrias de bebidas Coca-Cola, cervejas Carlsberg e Guinness; as de telefonia Vodafone e LG; e ainda calçados esportivos Asics e a empresa de cartões Mastercard, as produções mais grandiosas custam entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão.


Em um comercial da Coca-Cola, por exemplo, os profissionais da Paradiso transformaram a praia de Maringá, no litoral norte do Rio de Janeiro, em uma cidade do velho oeste americano. O resultado final agradou. E, melhor, a empresa pagou, no mínimo, 50% menos do que gastaria nos EUA, uma das vantagens de países como o Brasil, Argentina, República Checa e África do Sul. ‘Aqui temos ainda a vantagem de, além dos custos menores, contar com elenco de perfis dos mais variados e de equipes de bom nível técnico’, diz o inglês Lloyd que se associou ao brasileiro Marcos Menescal para fundar a Paradiso há cinco anos.


A variedade de tipos físicos para figurantes permitiu que o comercial em comemoração aos 250 anos da cerveja Guinness fosse quase todo filmado no Brasil, com apenas algumas cenas tomadas no Chile. ‘Gravamos no bairro de Brasilândia e na Praça do Patriarca’, brinca Lloyd.. ‘Quem nos contrata sabe que São Paulo pode passar por uma cidade anônima.’


Muitas vezes também, há tarefas extras para convencer o consumidor do país onde o anúncio será veiculado que o que está vendo se refere ao seu universo. Caso do comercial para o automóvel Mazda, rodado próximo ao Edifício Copan, no centro velho de São Paulo. Para fazer o filme, a produtora asfaltou a rua para que ficasse compatível com o asfalto das ruas americanas, de qualidade superior. Também para a Mazda, a Paradiso acarpetou parte da rua Oscar Freire.


Toda essa expertise os profissionais da Paradiso estão oferecendo agora ao mercado brasileiro ‘Podemos nos adaptar à forma como se trabalha aqui’, diz Lloyd, referindo-se aos orçamentos fechados, com preços de contratos por tarefa. A sua produtora, voltada para o exterior, opera com orçamentos abertos, em que o preço de cada item necessário para a produção é aberto para a agência e para o anunciante. Prática que o mercado aqui não adota.


CONTRAPÉ


Se produtoras focadas no exterior querem aproveitar a boa onda interna, quem opera voltado para dentro quer abrir horizontes. A BossaNovaFilms, há quatro anos em atividade, busca parcerias externas e o mercado latino para crescer na Argentina, Chile, México, Uruguai e Venezuela. Irma ?Jimmy? Palma, sócia da empresa, diz que, apesar da contração da verba publicitária ocasionada pela crise mundial, a BossaNovaFilms conseguiu manter suas expectativas no primeiro semestre e atingiu faturamento 22% maior que no mesmo período de 2008. A receita publicitária responde por mais de 60% do faturamento da empresa. A internet, apesar da expansão, tem apenas 8% de participação. Produções de conteúdo para cinema e televisão somam o restante.


O atendimento aos clientes internacionais está em compasso de espera. ‘Os projetos do exterior aumentaram em procura, mas dificilmente se concretizam. A maioria foi suspensa, com a intenção de se retomar no segundo semestre.’’


 


 


INTERNET


Stephanie Clifford


Publicidade online se torna mais pessoal


‘Apesar de toda preocupação e alvoroço sobre a privacidade online, vendedores de anúncios e empresas de dados sabem cada vez mais sobre a vida offline do consumidor, como a sua renda, situação de crédito, se é proprietário de imóvel, até a marca do carro que possui e se tem licença para caçar. Recentemente, algumas dessas empresas começaram a associar esse grande volume de informações aos dispositivos de navegação dos consumidores na internet.


Isso resultou numa enorme mudança na relação dos consumidores com a internet. Cada vez mais, não só as pessoas vão ver uma publicidade direcionada, mas também versões diferentes de websites e irão até receber ofertas de desconto quando fizerem suas compras – tudo isso baseado nas informações sobre seu histórico. Duas mulheres em escritórios vizinhos podem ir ao mesmo website de cosméticos, mas uma poderá ver um perfume Missoni de US$ 300, a outra apenas um batom de US$ 2.


A tecnologia que faz essa conexão não é nova – trata-se de um minúscula peça do código de programação do computador chamada ‘cookie’, instalada no disco rígido da máquina.. Mas a informação que ela contém é coisa nova. E ela é obtida de maneira invisível.


‘Agora, você está navegando na internet com um ?cookie? que vai indicar que tipo de consumidor você é: seu grupo de idade, nível de renda, se é urbano ou rural, se tem crianças em casa’, diz Trey Barrett, líder de produto na Acxiom, uma das empresas que estão oferecendo essa conexão para os vendedores.


Anunciantes e vendedores dizem que esse detalhe é muito útil, pois acaba com o trabalho de se ficar conjecturando sobre o perfil de um consumidor online, para mostrar os produtos aos consumidores que, com mais probabilidade, vão se interessar por eles. Empresas varejistas que vendem online, como Gap e Victoria?s Street, já estão usando essa tática.


Mas, para os órgãos de defesa do consumidor, esse rastreamento invisível é preocupante. Na velha internet, ninguém sabia se você era um cão, mas na internet direcionada, as pessoas sabem agora que tipo de cão você é, sua cor favorita de guia, a última vez que teve pulgas e a data em que foi castrado.


‘Com esse romance do setor com esses ?cookies?, é praticamente impossível para o usuário estar online sem ser rastreado e tendo seu perfil traçado’, diz Marc Rotenberg, diretor executivo do Electronic Piracy Information Center.


Embora o Congresso americano tenha realizado algumas audiências para discutir a privacidade online, as audiências se concentraram no enfoque comportamental online. Segundo o setor, a intervenção do governo é desnecessária, argumento que a Comissão Federal de Comércio tem aceito até agora.


O consumidor pode evitar ser rastreado removendo os ‘cookies’ dos seus computadores ou programando seus navegadores para não os aceitarem. Mas poucos fazem isso e, de acordo com os órgãos de defesa, é fácil para as empresas inserirem os cookies sem que os usuários percebam.


Há décadas, empresas de dados como Experian e Acxiom vêm compilando grandes quantidades de informações de cada americano; a Acxiom estima que possui 1,5 mil dados de cada americano, com base em informações de documentos de identidade, certidões de nascimento e casamento, assinaturas de revistas, e até o registro de cães no American Kennel Club.


Para os vendedores, todos esses dados são uma bênção. ‘É um pequeno Big Brother’, disse Betsy Coggswell, 49 anos, assistente social em Fullerton, Califórnia, que costuma comprar regularmente online. Mas ela não se diz chocada com o fato. ‘Cada vez que você fornece informações pessoais suas, elas vão ser coletadas por alguém’.


Mas, de acordo com Paul M. Schwartz, professor de Direito e especialista em questões de privacidade, a participação involuntária dos consumidores torna o marketing online diferente do offline. ‘A mídia interativa na verdade entra no assustador mundo Orwelliano, em que se faz um registro do nosso pensamento para saber que decisão adotar.’’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


Rebelde nunca mais


‘A Record desistiu de fazer por aqui a versão da novelinha teen Rebelde. Anunciada pela emissora como o primeiro fruto da parceira da rede com a Televisa, Rebelde perdeu a vez para Bela, a Feia, que estreia amanhã, e agora foi enterrada de vez.


A adaptação do texto de Rebelde chegou a ser iniciada pela autora Margareth Boury antes mesmo de Bela. Com a troca, a emissora prometeu colocar a novela teen no ar na sequência.


Para tanto, até um concurso nacional que escolheria parte do elenco foi criado e tinha previsão de estrear na emissora no segundo semestre deste ano. Tinha. A Record percebeu que o produto exige um planejamento mais elaborado, já que envolve a criação de um grupo musical que deveria se apresentar além das gravações da novela.


A febre latina de Rebelde passou e, com ela, o entusiasmo da emissora pelo projeto.


À procura de um novo texto da Televisa para suceder Bela, a Record busca agora um folhetim leve, com romance e boa dose de humor. É claro que isso depende do sucesso do primeiro fruto dessa parceria de 5 anos. Dramalhões famosos da Televisa, que Silvio Santos adora, foram descartados.’


 


 


 


 


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