Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Primeiro-ministro acusado de censura

Quando era um jovem jornalista nos anos 80, o atual primeiro-ministro da Eslovênia, Janez Jansa, desempenhou um papel fundamental no fortalecimento do movimento pró-democracia no país. Ele chegou a ser condenado a 18 meses de prisão por se opor ao governo comunista e escrever artigos atacando o ex-exército iugoslavo. Este passado, porém, parece ter ficado bem distante, opina Dan Bilefsky [The New York Times, 21/1/08].


Hoje, Jansa é acusado por seus oponentes de ir contra a liberdade pela qual tanto lutou, ao tentar censurar a mídia. Um relatório divulgado recentemente pela Freedom House, grupo pró-democracia que monitora a liberdade de imprensa no mundo, afirmou que a mídia eslovena está ‘enfrentando, indiretamente, pressão política e econômica do governo’ e que muitas vezes a atual administração trata os jornalistas como se fossem ‘oposição política’.


Petição


A preocupação com a liberdade de imprensa é tanta no ex-país comunista que 571 jornalistas assinaram recentemente uma petição para ser entregue ao Parlamento e a líderes da Europa acusando Jansa de censura. O documento – apoiado pela Federação Européia de Jornalistas – questiona se a Eslovênia, que assumiu a presidência da União Européia em janeiro, é suficientemente democrática para representar o bloco de quase 500 milhões de pessoas. ‘É vergonhoso para a Eslovênia e para a União Européia ser presidida por um país que não segue os valores europeus de liberdade de imprensa’, desabafou Blaz Zgaga, um dos jornalistas que lideram a petição.


Para analistas de mídia, as preocupações acerca da liberdade de imprensa na Eslovênia refletem uma tendência na Europa Central e Oriental, onde países que foram comunistas lutam para se livrar da cultura autoritária política do passado. Na Eslovênia, que foi parte da ex-Iugoslávia governada por Tito por 35 anos, o Partido Comunista exercia controle da mídia e censurava opositores.


Jansa refuta as acusações de repressão à liberdade de expressão. Questionado se censura a mídia, é enfático. ‘Se a principal medida para se avaliar a liberdade de imprensa é a possibilidade de criticar o governo, então temos 200% de liberdade de imprensa’, afirma. Para defender a existência desta liberdade, o governo cita alguns estudos independentes, como um ranking de liberdade de expressão de 2007, da organização Repórteres Sem Fronteiras, em que a Eslovênia ficou à frente de países como França, Espanha, Itália, Austrália e Reino Unido.


Controle editorial


No entanto, fatos comprovam o contrário. Em entrevista, Andrijana Starina Kosem, ex-secretária de Estado do Ministério da Economia, confessou que, em agosto de 2005, ela e o primeiro-ministro orquestraram um acordo comercial para que o governo ganhasse apoio editorial no Delo, jornal mais influente do país – comparável ao The Times, no Reino Unido, e ao Le Monde, na França.


A empresa de cerveja Lasko, que detém a maior parte das ações do diário, havia demonstrado interesse em comprar a varejista Mercator, que tinha o Estado como um de seus donos. Segundo Andrijana, que hoje dirige o conselho fiscalizador do Delo, o negócio foi fechado em uma reunião no gabinete de Jansa. A Lasko comprou parte da Mercator e, em troca, concordou em colocar no jornal editores simpatizantes ao governo.


‘Jansa estava determinado a controlar a mídia e fez um acordo para garantir isto’, revelou ela, que renunciou do cargo de secretária de Estado em maio de 2007. Jornalistas do Delo contam que, depois da compra, ficou cada vez mais difícil publicar matérias críticas ao governo; um novo editor foi contratado para alinhar o conteúdo do jornal com os pontos de vista governamentais. Pelo menos uma dúzia de jornalistas pediu demissão em protesto às mudanças.


Anze Logar, porta-voz do governo de Jansa, nega as acusações de tentativa de controle sobre o Delo. A venda da Mercator, diz ele, teve como objetivo diminuir a participação governamental na indústria privada.