Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Roberto Pompeu de Toledo

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva insinuou, num encontro com deputados, na quarta-feira, que a reportagem do New York Times sobre seus supostos exageros na bebida pode estar ligada a sua política externa. ‘As pessoas pensaram que o Brasil ficaria submisso diante da geografia comercial existente’, disse. O ministro Guido Mantega bateu em tecla semelhante: ‘O presidente passou a incomodar muita gente, com sua política externa mais autônoma’. Já o ministro Luiz Gushiken elaborou mais, e sapecou uma frase de cientista político. Para ele, a reportagem está ‘a serviço de posturas de governos centrais que desprezam a soberania alheia, buscam interferir em questões internas e tentam impor visão unilateral sobre questões que, num mundo cada vez mais complexo, exigem outra ótica de solução para os conflitos’.

Nada como uma boa teoria conspiratória. Em certas horas, elas confortam o espírito. Talvez nenhuma dessas manifestações reflita o que realmente pensam seus formuladores. Seriam manobras diversionistas. Mas, se refletirem, indicam algo significativo: um estado de confusão nas relações mentais com os Estados Unidos. Se há algo ainda a comentar, em todo esse caso Lula-New York Times-Larry Rohter, é esse aspecto da questão. Ele revela deformações, no modo de se relacionar com as coisas americanas, piores do que as causadas pela bebida. Para começar, a própria reação extremada à reportagem só se explica por uma visão inflada dos efeitos que ela poderia produzir. Claro, a reportagem era em inglês. Claro, foi publicada nos EUA. E, claro, saiu no New York Times. A reação foi de choque e pasmo. Um pouco de moderação, no entanto, não no consumo de bebidas, mas no de fantasias caboclas, teria reconduzido à constatação de que reportagens isoladas e inconsistentes, mesmo quando escritas em inglês e publicadas no New York Times, têm vida curta. São como mariposas que nascem desesperadas em busca da luz e, tão logo a encontram, morrem.

Outra deformação é confundir o governo dos EUA com o New York Times. Por ‘geografia comercial existente’ Lula, ao que tudo indica, quis se referir aos termos injustos do comércio mundial. Mais especificamente, parecia ter em mente a recente vitória do Brasil na Organização Mundial do Comércio contra os subsídios americanos aos produtores de algodão. Quem é o Brasil para desafiar nossos interesses?, teriam raciocinado os americanos. Em resposta, o New York Times xingou o presidente brasileiro. Deu para entender? Daria, não fosse o detalhe de que o New York Times é contra os subsídios à agricultura americana, e a favor da luta dos países pobres para derrubá-los. Quando da decisão da OMC, publicou editorial afirmando que o governo de Washington, em vez de recorrer dela, deveria obedecer-lhe de imediato.

Gushiken viaja mais longe. Naquele seu linguajar atormentado, em que, a pretexto de honrar a erudição, acaba por vitimar a clareza, o que parece fazer é comparar os casos do Iraque e do Brasil. A ‘visão unilateral’ é provável alusão ao ‘unilateralismo’ americano, tão criticado desde que o governo Bush embarcou em sua aventura-solo contra Saddam Hussein. Refere-se ainda o ministro ao ‘desprezo à soberania alheia’ e a métodos condenáveis de ‘solução dos conflitos’. Era o Iraque, agora dá quase para apostar, que lhe amparava o raciocínio. Assim como no Iraque o unilateralismo e o desrespeito à soberania conduziram à guerra, no Brasil tomaram a forma, igualmente insidiosa, ainda que menos letal, de injúria ao presidente. Resta que não foi o governo Bush, mas o New York Times que falou mal de Lula. De novo, confundem-se as duas entidades. E ocorre que o New York Times, flor mais vistosa da tendência que nos EUA chamam de ‘liberal’, o que lá é quase sinônimo de esquerdismo, não só se opõe, nos editoriais, à guerra de Bush como abriga entre os colunistas alguns de seus críticos mais ferozes.

O que vem dos EUA tanto ofende quanto deslumbra do mesmo modo desarrazoado. Foi muito lembrado o fato de a revista Time, recentemente, ter incluído Lula entre as 100 pessoas mais influentes do mundo. Sim, senhor, um dos 100! Como pode agora o New York Times dizer o que disse dele? O próprio embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur, mencionou o fato numa carta de protesto que enviou ao jornal. Ora, para se ter idéia da consistência de semelhantes listas, lembremo-nos de outra, divulgada há trinta anos pela mesma revista Time, que pretendia elencar 150 futuros líderes mundiais. Dois brasileiros nela figuravam: o então deputado Célio Borja e o então ministro da Agricultura Alysson Paulinelli. Célio Borja até que fez carreira, de político e jurista, embora sempre longe de uma posição da qual pudesse comandar o mundo. Já Alysson Paulinelli… por onde andará Paulinelli? A reportagem da Time não foi suficiente para alavancar-lhe uma carreira de alcance planetário. Da mesma forma, a reportagem do New York Times dificilmente seria capaz de abalar a reputação de Lula, tivesse sido deixada em sossego.’



Tereza Cruvinel

‘Faltam amigos junto a Lula’, copyright O Globo, 16/05/04

‘A administração do caso da reportagem do ‘New York Times’ revelou como tem faltado, ao lado do presidente Lula, a lealdade política verdadeira, aquela que exige dos amigos e súditos até mesmo a desagradável tarefa de contrariar o príncipe para livrá-lo de maus passos.

Vasta é a literatura de ‘Conselhos aos governantes’, título do livro editado recentemente pelo Senado reunindo os clássicos da matéria. Isócrates, que fora amigo de Euagoras, rei de Salamis, ilha do reino de Chipre, aconselha seu filho Nicolés, quando este chega ao trono (em 376 a.C.):

– Permita que pessoas sábias expressem sua opinião para ter, nas questões delicadas, conselheiros que possam proficuamente examiná-las com você. Saiba distinguir os cortesãos, que adulam com arte, dos que servem com devoção.

Platão, o cardeal Mazzarino, Erasmo de Roterdã e o português Dom Luís da Cunha são outros conselheiros publicados. O sempre mais citado, Nicolau Maquiavel, em seu ‘O príncipe’, ensina ‘um meio infalível para conhecermos um ministro. Se vimos que ele pensa mais em si do que em nós, deve-se olhá-lo com desconfiança’. Tratou também dos aduladores, sugerindo repreensão aos que não se mostram sinceros. Mas basta de literatura.

Já houve muitos sinais de que nem todos no entorno de Lula botam o interesse do governo acima de sua conveniência, ainda que ela seja a de ficar bem com o presidente. A brigalhada entre os paulistas maiores é um deles. Mercadante, João Paulo e Genoino, principalmente, vivem às turras. Dirceu e Palocci se bicam mais por conta de questões concretas de governo.

O próprio costume de Lula, de nunca esconder o copo em situações públicas, ainda que nunca tenha bebido mais do que o socialmente regulamentar, como tantos testemunharam estes dias, poderia ter sido objeto de conselhos. Em fevereiro, após um jantar com jornalistas em minha casa (por ele proposto com a saudável intenção de melhorar o relacionamento com a imprensa, depois de críticas feitas aqui na coluna), muitos leitores escreveram perguntando se ele bebera muito. Tomou um uísque na chegada e dois cálices de vinho no jantar. A maldade já circulava. Dela sabiam auxiliares, mas nada foi feito. Daqui para frente será vigiado pelas lentes.

Os vazamentos constantes de conversas reservadas têm irritado muito Lula. Partem de súditos que privam das reuniões ou da intimidade pessoal. Vazamentos que servem mais ao cálculo político que ao interesse público.

Isso de atribuir desejos próprios ao presidente é velho, Fernando Henrique já reclamava. Mas ele tinha seus devotos, se não para contê-lo, pelo menos para fazer o que não deve ser feito pelo presidente. Sergio Motta e Paulo Renato destacaram-se nestas tarefas, ainda que ficando mal com colegas, com o Congresso ou com alguns aliados. E ainda assim, Fernando Henrique cometeu pecados, inclusive os verbais.

No caso da reportagem de Larry Rother, o que se viu foi uma solidariedade irrestrita à ira do presidente, este sim, ferido emocionalmente, e precisando de cabeças frias por perto. Um auxiliar antigo diz que há muitos anos não o via tão indignado. Talvez desde aquela peça torpe montada por Collor em 1989. Se houvesse a retratação do jornal americano, tudo se resolveria, a opinião pública era amplamente favorável a Lula. Quando ficou claro que ela não viria, não faltaram estímulos a uma ‘reação forte’. Conta-se que na reunião de terça-feira à noite nem todos os seis ministros concordavam com a expulsão do jornalista, mas não ousaram contrariar a inclinação de Lula. Temor reverencial que não devem ter os bons conselheiros. Sinal dele, a frase atribuída ao ministro Gushiken: ‘O presidente quer, o presidente quer’. Ricardo Kotscho, assessor de imprensa, ficou isolado no aviso de que a repercussão seria ruim. Gilberto Carvalho, discretíssimo secretário-particular, também. Ajudou mantendo a linha permanentemente aberta com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que lá da Suíça tentava evitar o pior. Anunciada a expulsão, sobreveio a algaravia sobre atentado à liberdade de imprensa. Tudo o que o presidente queria era demonstrar o tamanho de sua indignação, mas faltou quem o advertisse da leitura óbvia: a revelação de um traço autoritário, que os honestos devem reconhecer ausente da biografia de Lula.

Com a liminar do STJ, e a certeza de que o governo seria desautorizado pela Justiça, Bastos acelerou seus movimentos para obter a negociação com Larry Rohter. Não convencera Lula ainda, não o agradara com seus argumentos, mas foi fazendo o necessário. Anteontem, Lula ainda pediu tempo para refletir depois de ler o pedido de desculpas. Mas saiu-se da enrascada.

Alguns auxiliares costumam dizer que aconselhamento demais tiraria a espontaneidade de Lula, que ele deixaria de ser o que é. Bobagem. O que não se pode perder é o patrimônio político.’

***

‘Força ou grandeza’, copyright O Globo, 13/05/04

‘As pressões políticas internas avolumaram-se ontem e podem servir ao presidente Lula de passaporte para um recuo na decisão de expulsar do Brasil o jornalista Larry Rother, embora não se tenha tido notícia de tal disposição. Havia até quem enxergasse sintonia entre os apelos nesse sentido e um despertar do governo para o tamanho do estrago em sua imagem externa e interna.

O Congresso era ontem uma assembléia de exaltados defensores da liberdade de imprensa, embora entre eles houvesse tantos que nunca se mexeram contra a censura ou as perseguições a jornalistas aqui havidas na ditadura.

A expulsão acabou colhendo repúdio equivalente ao produzido pela reportagem sobre o suposto excesso etílico de Lula, mesmo tendo o apoio do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, de uma parte do PT e dos ex-presidentes Itamar Franco e José Sarney. Mas este último, diante de um Senado agitado, se dispôs a ir hoje ao Planalto com os líderes interceder junto a Lula pelo recuo. A deputada Maninha (PT-DF), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, também levará documento assinado por todos os seus pares. E veio de um petista, o senador Cristovam Buarque, uma das mais desconcertantes frases do dia:

– Meu Deus! Para mostrar que o presidente não bebe, passaram a idéia de que o governo bebe.

Mas as palavras que mais reverberaram foram ‘intolerância’ e ‘autoritarismo’, estigmas incompatíveis com a trajetória de Lula e de seu partido. Mas foi ele mesmo que tomou a decisão, nem foi inspirada, como chegou a circular, pelo ministro Gushiken, que foi apenas um forte apoiador entre ministros constrangidos diante de um Lula indignado:

– Ele falou tudo aquilo de mim e o chefe dele diz apenas isso?

Celso Amorim relatava o ‘I am sorry’ do diretor do jornal americano dito ao embaixador brasileiro Roberto Abdenur. Lula esperava no mínimo uma correção da reportagem e uma censura ao repórter.

Ontem de manhã disse aos líderes que, além de chamá-lo de alcoólatra e incapacitado para o cargo, Rohter afirmou que seu pai abusava dos filhos. A relação com o pai é de fato uma ferida emocional que carrega. Ao falar dela, chegou a chorar na campanha.

– Quem o viu demonstrar tanta indignação com tamanho ultraje não teria como não apoiar a medida – disse o líder Luizinho.

Neste encontro, Lula recordou o caso do piloto americano que fez um gesto obsceno para as autoridades da imigração brasileira, naquela crise dos vistos, e foi impedido de entrar no país. Todo mundo achou correto. Pois esse jornalista, acrescentou, fez algo muito mais grave, ofendeu a instituição da Presidência do Brasil.

O ultraje desperta mesmo a ira contra quem, brandindo palavras levianas, pode destruir uma imagem ou conceito, pessoais ou institucionais. Mas um chefe de Estado tem que pôr a dor de lado, tentou-lhe dizer um dos líderes. Foi interrompido por Lula.

O ex-deputado Fernando Lyra, a quem coube, como ministro da Justiça escolhido por Tancredo, remover o entulho da censura brasileira, amigo de Lula, tentava escrever-lhe ontem para dizer que seu governo tem tido a marca da radicalidade democrática. Veja-se a relação com os movimentos sociais, as greves, a oposição. Para não perdê-la, deve ter a grandeza de voltar atrás.

Mas para muitos, no governo, esse pareceria um gesto de fraqueza diante dos Estados Unidos. Certo é que, com recuou ou sem ele, o estrago foi feito.Sobre a comissão de senadores que lhe fará apelo para recuar, Lula teria dito: ‘Por que não vão ao Rio pedir a ele (o jornalista americano) que venha me pedir desculpas?’’

***

‘Três poderes e uma crise’, copyright O Globo, 14/05/04

‘O sistema democrático segue funcionando em absoluta normalidade, e esta foi a única evidência positiva dos fatos em curso: o Executivo tomou uma decisão, o Congresso tentou obter sua revogação pela gestão política, o Judiciário determinou-a, provisoriamente, através de um hábeas-corpus. De resto, não há razões objetivas para se falar em riscos internos à liberdade de imprensa.

Ao fazer estas constatações, o presidente do Senado, José Sarney, não dissimulava a frustração com o esforço despendido pela manhã junto ao presidente Lula em favor de um passo atrás na decisão de expulsar o jornalista americano Larry Rohter, por seu feito jornalístico já conhecido e danoso. À tarde, o STJ completou a coreografia democrática entre os três poderes concedendo o hábeas-corpus pedido pelo senador Sérgio Cabral.

O que fará o governo? Segundo fonte próxima a Lula, engana-se quem pensa que vai se valer da decisão judicial para recuar da medida extrema que lhe está rendendo tantas críticas, aqui e lá fora. A decisão final da Justiça será acolhida, é claro, como disse o ministro Gushiken aos correspondentes estrangeiros. Mas no julgamento de mérito, diz esta outra fonte, a Advocacia Geral da União defenderá para valer a decisão de Lula. Esta outra fonte fala num tom que não deixa dúvida sobre a obstinação de Lula: fosse nos EUA, o autor da reportagem teria sido deportado como espião. A expulsão tem seu preço e foi calculado. O que não podia era Lula engolir a ofensa e ficar com o estigma, sem direito a uma retratação do ‘New York Times’ e privado de uma resposta à altura da agressão. Seria legitimar o ataque e sujeitar-se a seu objetivo, o de desmoralizar o governo, frustrada a expectativa de que fracasse na condução da economia ou capotasse com o caso Waldomiro.

Mas há outras visões no interior do governo, como a de que, tivesse Lula tomado outra opção, não teria turvado o momento que começa a melhorar. O crescimento dá seus sinais, a pesquisa CNT/Sensus mostrou o fim da sangria na popularidade, ontem foram anunciadas, por ele mesmo, medidas objetivas em favor do emprego, do crescimento e da mudança social. Todas dividirão hoje o noticiário com o caso Rohter, diz outro ministro de Lula.

A própria gestão de Sarney e dos líderes governistas resultou em evidências de desarmonia. Eles decidiram ir a Lula acreditando em alguma disposição de recuo. Os da oposição desistiram de acompanhá-los ao perceber que ela não existia. Um dos sinais, diz o líder do PFL, José Agripino Maia, a frase de Lula aqui publicada: que fossem pedir ao americano que lhe pedisse desculpas. Se tivessem ido ao Planalto, seria ainda maior o constrangimento. Lula fez uma exigência que só depende dos senhores de Nova York, e eles já se mostraram glacialmente indiferentes diante da reação do governo brasileiro ao que foi publicado no jornal que dirigem. Para articulações desta natureza, vale um dito de Tancredo Neves: ‘Em política, não se escreve carta sem conhecer a resposta’.’



Soraya Aggege

‘Duda: episódio ‘NYT’ arranha imagem de Lula’, copyright O Globo, 16/05/04

‘O publicitário Duda Mendonça, consultor do Palácio do Planalto, disse que a tentativa de expulsão do correspondente do ‘New York Times’ Larry Rohter arranhou a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Duda, no entanto, não considera o efeito muito importante, já que Lula ainda tem pela frente mais de dois anos de mandato e só poderá ser julgado definitivamente no fim do governo.

– O caso do correspondente é um fato que já passou. Mas arranha a imagem do presidente. Porém, não é uma coisa relevante. O governo tem que trabalhar e tem muita coisa pela frente. E será julgado lá na frente – afirmou o publicitário, responsável pela campanha de Lula em 2002.

Quando lhe perguntaram qual seria a forma de o governo resolver o desgaste na imagem, Duda tentou voltar atrás e alegou que não poderia ter feito tal afirmação.

– Eu não fiz pesquisa para saber (se houve o arranhão) – tentou argumentar.

Já o ministro da Educação, Tarso Genro, disse que a imagem do governo só ficará arranhada para quem gosta do tipo de jornalismo ‘desqualificado’ que seria praticado, em sua opinião, pela imprensa americana.

– O jornalismo americano discute, por exemplo, se um cidadão fumou maconha mas não tragou. É um jornalismo ordinariamente muito desqualificado, que se refletiu no conteúdo da reportagem deste jornalista (Rohter) que está aqui (no Brasil). O jornalismo no Brasil é muito qualificado, politizado, não aceita esse tipo de baixaria – disse o ministro da Educação.

‘O assunto agora fica encerrado,’ diz Genoino

O presidente nacional do PT, José Genoino, acha que não ocorreram desgastes na imagem do governo por causa do episódio. Ao contrário, Genoino avaliou que o episódio envolvendo o jornalista Larry Rohter mostrou que o presidente Lula tomou uma atitude acertada, de reação, a um fato criado pela imprensa americana:

– O assunto agora fica encerrado. O fato não respinga em nada. A carta do jornalista é, sim, um pedido de desculpas pela sua ofensa ao presidente da República. Pedir desculpas e se retratar são a mesma coisa, que eu saiba.

Para Genoino, o caso agora já ‘é página virada’.

– A solução foi a correta. Uma carta como aquela que o governo recebeu do jornalista resolveu o problema. A questão era política e foi resolvida politicamente. Ninguém mais pode dizer que o exercício da Presidência está prejudicado com Lula – disse Genoino.’



Cristiane Jungblut

‘O porta-voz da polêmica’, copyright O Globo, 16/05/04

‘Conhecido pelo comportamento discreto, o porta-voz da Presidência, André Singer, surpreendeu ao tomar a ofensiva no episódio que culminou com o cancelamento do visto do correspondente do ‘New York Times’ Larry Rohter. Jornalista atuante até entrar para a campanha do PT e mestre em ciência política, Singer se tornou porta-voz de Lula já na campanha eleitoral.

Desde o início, Singer defendeu a necessidade de uma resposta dura à reportagem sobre o suposto hábito de beber de Lula. Defendeu o cancelamento do visto e não considerou isso cerceamento da liberdade de imprensa. Na sexta-feira, pouco antes de o governo voltar atrás, Singer reiterou que o Planalto agira com responsabilidade ao ameaçar expulsá-lo:

– O governo tinha de dar uma resposta à altura da gravidade do que foi publicado.

Singer aconselhou Lula a exigir a retratação, alegando que a figura do presidente e sua imagem no exterior haviam sido afetadas. E argumentou que o governo tinha sido ponderado, esperando uma retratação, antes de cancelar o visto. Mesmo após as avaliações de que a decisão aumentara a polêmica em torno da reportagem, o porta-voz manteve sua posição.’