Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ser famoso está na moda

Assistir ao Fantástico tem sido de algum proveito nos últimos tempos. Especialmente quanto ao quadro ‘Vem Com Tudo!’, apresentado por Regina Casé. Apesar de muitos acharem seus quadros e programas um desperdício de tempo, sempre encontro muito o que aproveitar com os assuntos abordados. E o último assunto discutido pela apresentadora foi a vida de celebridade.

Como início da matéria, uma informação importante:

‘Antes, as colunas sociais eram apenas notinhas. Depois, foram crescendo e ganhando espaço. Agora o resto do jornal que se cuide.’

E também uma constatação contemporânea. Muita gente quer ser celebridade porque isso está na moda.

‘Antigamente, você perguntava para uma menina o que ela queria ser quando crescer e ela dizia professora, por exemplo. Agora, elas respondem que querem ser famosas.’

Atriz, modelo e manequim, BBBs, mulher-fruta, feitos bizarros. Tudo para garantir a fama, nem que seja por poucos minutos. Ser famoso é moda, e não importa o quanto isso custe.

Privacidade se tornou um luxo

E, durante a matéria, a receita mais rápida para a fama foi dada por um especialista. De acordo com o promoter David Brazil, o jeito mais eficaz atualmente é sair com um jogador de futebol. Saia com um deles e, quanto mais famoso ele for, maiores serão as chances de sua foto estar nos jornais e revistas.

Receitas rápidas de fama a qualquer custo, glamour sem limites. Uma indústria voraz que se alimenta de inutilidades, miudezas, coisas pequenas. Atos que deveriam fazer parte do cotidiano tornam-se dignos de notas se forem realizadas por famosos: fazer ginástica, fazer compras no supermercado, ir a um restaurante, ou para a praia – tudo ganha mais valor se for feito por celebridades. Paparazzi surgem de lugares inesperados para uma foto.

Na iminência de um furo, aceitam-se banalidades. Na falta de talento, aceitam-se as pseudo-celebridades.

A privacidade se torna um luxo: às vezes por escolha própria, ou por consequência inevitável. Pessoas se transformam em produtos, em brinquedos usados ao bel-prazer de uma mídia e de espectadores ávidos pela vida alheia.

O particular está out

Vivemos uma era de insanidades, caras e bocas, gestos artificiais, flashes e câmeras. Uma época em que as pessoas vivem em função do instante de glamour, muitas vezes falso. Em que se criam escândalos com problemas particulares e em que a morte se transforma em um circo. Esse é o mundo que escolhemos viver. Pregando futilidades, tendências e aparências, esquecendo da própria vida e de tudo o mais que nos cerca.

O particular não existe mais: essa é uma moda muito distante. Está out. Talvez um dia ela volte, em uma daquelas síndromes de retrô. Por enquanto, resiste em alguns círculos mais conservadores, tidos como reclusos, mas tudo pode acontecer.

O valor da privacidade pode voltar, do mesmo modo que as calças de cintura alta, ou os óculos gigantes. Pode, não pode?

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Jornalista, São José do Barreiro, SP