Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Teoria e prática devem andar juntas

Em todas as profissões a dicotomia teoria e prática está presente. No jornalismo, não pode ser diferente. Ser jornalista não é apenas saber escrever, isso qualquer um com habilidade pode fazer. É preciso mais. É preciso uma formação universitária que lhe dê o embasamento cultural necessário para ampliar a visão do mundo que o cerca. Na faculdade, o futuro jornalista tem contato com as disciplinas específicas do curso, além de noções gerais de outras matérias –principalmente, ética – de que vai se valer para aprender que a habilidade em usar as palavras pode informar e construir, ou desinformar e destruir.


A prática é outra condição essencial para a formação do jornalista. É no dia-a-dia que ele aprende a distinguir o que é notícia, já que ‘(…) as notícias são a matéria-prima do jornalismo, pois somente depois de conhecidas e divulgadas é que os assuntos aos quais se referem podem ser comentados, interpretados e pesquisados, servindo também de motivos para gráficos e charges’, como dizia o professor Mário Erbolato (Técnicas de Codificação em Jornalismo, 1991, p. 49). A rotina das redações mostra os caminhos para o jornalista situar os acontecimentos no espaço, no tempo ou no contexto social.


Tais argumentos, porém, dividem opiniões até hoje entre os profissionais da área de comunicação. Um exemplo é o proprietário da revista CartaCapital, Mino Carta. Em entrevista à revista Caros Amigos (ed. 105, 2005, p. 34-39), ele não só se posiciona contra o diploma de nível superior, como diz não enxergar o jornalismo como uma matéria de curso universitário. Na sua opinião, o jornalismo não deve ser estudado como se estudam as profissões tradicionais. ‘A meu ver, não cabe. Acho que o jornalista aprende nas redações, nós sabemos disso, foi como aprendemos, e não fomos de todo mal no nosso trabalho’.


Conquista justa


A opinião do empresário não encontra amparo no ponto de vista do jornalista Jorge Calmon (Apontamentos para a história da imprensa da Bahia, 2005, p. 150), professor emérito da Universidade Federal da Bahia e ex-diretor-redator do jornal A Tarde, de Salvador. De acordo com ele, os veteranos da profissão desempenham bem seu trabalho, mas ignoram quase tudo que esteja além do seu campo de visão, porque sua única escola é a rotina diária. ‘Se os cursos de jornalismo são falhos, o certo não é condená-los, ou postular sua extinção; sim, exigir que sejam colocados à altura de sua importante função, pois hoje deles, exclusivamente deles, depende o suprimento da mão-de-obra à imprensa’.


É tudo uma questão de bom senso e equilíbrio, declara o jornalista Amarildo Augusto (www.canaldaimprensa.com.br/canalant/opiniao/vint4/opinião), professor do curso de Jornalismo do Unasp. Para ele, grande parte dos alunos entra na faculdade sem saber, sem querer e não gostar de pensar, por isso é preciso o ensino da técnica e também da teoria. ‘Hoje em dia se debate muito sobre teoria e prática. Mas a questão é menos complexa do que aparenta. Como tudo na vida, é só uma questão de equilíbrio’.


A sociedade da informação que está se implantando no mundo não permite mais a um jornalista se limitar apenas às redações de revistas e jornais, aos estúdios de rádio e televisão, tampouco à simples graduação de um curso de Jornalismo. O profissional moderno tem necessidade de se especializar nos diversos campos do saber e atualizar seus conhecimentos para produzir conteúdos de melhor qualidade nas diferentes mídias: rádio, jornal, revistas, televisão e internet. Caso contrário, sua visão de mundo vai ficar cada vez mais limitada.


Partindo desse princípio, é justo que os jornalistas conquistem o direito de se organizar e de criar o seu próprio órgão de normatização e fiscalização do exercício profissional – a exemplo de advogados, médicos, engenheiros, e tantos outras profissões. ‘É esse direito que a categoria, por meio da Fenaj e dos Sindicatos de Jornalistas de todo país, reivindica ao propor a criação do Conselho Federal dos Jornalistas. A ausência de um Conselho é uma lacuna que precisa ser preenchida’ (Observatório da Imprensa, Jornal de Debates, ed. 27/7/06).

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Jornalista, Salvador