Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Um Alckmin engolido e uma apimentada Heloísa

Na entrevista ao Jornal Nacional, a senadora Heloísa Helena, candidata à presidência da República pelo Psol, disse: ‘Oh, meu amor, eu tenho que saber mais de reforma agrária que você’. Respondia a questionamento de Fátima Bernardes. Com seu discurso usual ‘agressivo’, radical e não vacilante, a senadora mostrou personalidade frente aos dois jornalistas de peso, que, com a já notável estratégia jornalística de intimidar os entrevistados, tentavam, assim como fizeram com Geraldo Alckmin (PSDB), ‘engolir’ a candidata.

O casal Fátima Bernardes e William Bonner desceu o nível jornalístico em perguntas tendenciosas, capciosas, referindo-se a um suposto argumento de que Heloísa Helena seria a favor da invasão de prédios públicos e que, como presidente, desapropiaria propriedades rurais. A candidata não se fez de rogada e rebateu: ‘Não posso, minha flor, a Constituição não permite’ (no caso da desapropriação de terras); ‘Não para depredar prédios públicos’ (a pergunta era referência a declaração dela, quando da invasão da Câmara pelo MLST, em que disse terem os manifestantes errado de endereço, e o certo estaria do outro lado da rua, o Planalto).

Má estratégia

Ao contrário de Alckmin, que escorregou, patinou, ficou nervoso, deixou-se intimidar, a senadora colocou-se de igual para igual frente aos dois jornalistas. A entrevista mostrou uma lacuna jornalística na estratégia do JN. Indicou que pode estar errada a tentativa de jogar contra a parede os candidatos, como demonstração de bom exercício jornalístico à sociedade. Seria mais vantajoso um diálogo que pudesse deixar aparecer o programa de governo dos candidatos, como eles resolveriam problemas conjunturais.

O resultado da estratégia foi uma exibição de falta de personalidade e pulso do candidato do PSDB e da firmeza de Heloísa Helena, além de comprovação de que nem sempre entrevista jornalística rende quando há franco confronto com o entrevistado; perde-se tempo na disputa para ver quem vence, e o conteúdo se esvai.

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Estudante de Jornalismo na UFBA, Salvador