Sunday, 13 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Uma enorme dor de cotovelo

A última pesquisa do Ibope sobre a popularidade do presidente Lula da Silva e o índice de aprovação do seu governo tem mais destaque na mídia internacional do que na imprensa brasileira.


A Folha de S.Paulo simplesmente ignorou a informação, enquanto o Estado de S.Paulo a omite na primeira página e, nas páginas internas, prefere destacar a expectativa dos brasileiros em relação ao futuro governo de Dilma Rousseff. O Globo usa o mesmo artifício e deixa em segundo plano o fenômeno de popularidade do presidente: ele é visto favoravelmente por 87% dos brasileiros.


O Estadão abre a reportagem sobre o assunto afirmando que ‘os brasileiros encerram este ano satisfeitos com o presidente Luiz Inácio da Silva e otimistas em relação ao governo de Dilma Rousseff’.


Além da popularidade pessoal do presidente, os números do Ibope mostram que o atual governo é considerado ótimo e bom por 80% dos entrevistados. Em outubro, esse número era de 77%. Levando-se em conta que 16% o consideram regular – o que, na análise do resultado, é considerado como uma avaliação positiva –, deve-se concluir, em termos práticos, que 96% aprovam o desempenho de Lula como presidente e apenas 4% consideram seu governo ruim ou péssimo.


Arquivos eletrônicos


Considerando que 44% dos eleitores votaram contra sua candidata na última eleição, é de se observar também que não apenas o atual governo se encerra com indicadores históricos e dificilmente superáveis, como o futuro governo deve nascer sob o signo do otimismo, com 62% de expectativa favorável.


Com todos os defeitos que se possa atribuir ao presidente, pessoalmente ou em termos políticos, ignorar esses atributos é demonstração de profundo desprezo pela essência do jornalismo.


Interessante observar que o resultado da pesquisa havia sido publicado nas edições eletrônicas da imprensa brasileira, como o UOL, da Folha, e o G1, do Globo, mas é desprezado nas edições de papel.


É como se a imprensa considerasse que jornal, jornal mesmo, é só de papel, enquanto todo o resto do mundo sabe que, no futuro, os pesquisadores irão procurar as notícias do nosso tempo nos arquivos eletrônicos. Vão encontrar o retrato de um fenômeno político e uma imprensa com dor de cotovelo.