Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Vote JN, vote Alckmin

Aquelas pessoas, coitadas, ficam acenando, gritam e pulam atrás das imagens de William Bonner e Pedro Bial na notícia da noite: A Caravana do Jornal Nacional. Em casa dos Simpsons tudo igual, onde está a caravana hoje?

Eles estão viajando como jornalistas ou quase, são no caso a própria matéria e já arranjaram colegas normais para cobrir os arredores. Continua a pauta PSDB/JN, a dos transportes. A tal da duplicação da BR-101 precisava ser esvaziada, então tomem-lhe buracos nas estradas do Brasil. E aí volta o William Bonner com cara de comédia e vamos ao dia dos candidatos. O dia dos candidatos é para dar uma negritada na imagem difusa de imparcialidade. Os candidatos são apresentados ao público em seus momentos-celebridade, assim como os jornalistas-celebridade, que são a matéria de si mesmos ao mesmo tempo em que apresentam a representação dos políticos para angariar votos.

É cômico, não há outra palavra para definir o que o Jornal Nacional está fazendo. Os políticos caminhando no meio dos correligionários, os curiosos, os simpatizantes, os contra, é tudo tão sem sentido que dá vontade de rir. E Fátima Bernardes ri quando anuncia, ri quando aparecem os colegas, ri para se despedir. Pode ser que sorria de vergonha ou em solidariedade. William Bonner… ninguém entende o que faz atrás da caravana, ele sempre fica de âncora, mesmo quando viaja só espicha a ancoragem. Não pode nem brincar de ser repórter, fazer uma palhinha como as do Pedro Bial. Mas eles também riem, Pedro Bial ri mais, está acostumado ao papel, é quase uma administração de Big Brother.

William Bonner ri contido, não muito convicto, sem dispensar terno e gravata, às vezes parece até uma montagem. Mas não é, óbvio. É jornalismo moderno, poderia levar o nome de jornalismo representativo, é o jornalismo dominante em nosso país.

Quando algum candidato não faz campanha o telespectador também não fica sabendo o que o candidato fez. O trabalho, que interessa, não importa, deve ser porque o Homer gosta mesmo é das representações.

E a caravana agora é na água, num opulento barco JN, mas claro que a segurança das pessoas que navegam em barcos capengas na Amazônia não é levada em consideração, uma coisa nada tem a ver com a outra. A voz melodramática de Pedro Bial, naquele tom “crônica enjoada”, denuncia depois de 500 anos que as árvores exóticas da Amazônia são vendidas a troco de banana. A solução ambiental urgente da parceria JN/PSDB escorrega num ponto crucial: não leva em consideração as pessoas. Entre estradas esburacadas e madeiras exóticas estão brasileiros que a gente só vê acenando para a caravana aquática.

Enfim, o JN já escolheu seu candidato e despeja no público matérias atuais desvinculadas da história econômica, social e política do Brasil. O sorriso desaparece dos lábios de Fátima Bernardes e pela primeira vez em muitos meses o JN não encerra uma edição com a matéria-pipoca, aquela que faz algum gracejo. O assunto é serio e os Simpsons todos começam a achar que o JN tem o melhor candidato. Vote Jornal Nacional, vote Alckmin.

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Jornalista