Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

‘Brahma ist kein Kaiser!’

Não percam, não percam! “Buemba! Buemba!”, como diria um certo colunista. Cenas do próximo capítulo da novela Lava Jato acabam de vazar para a imprensa! Como se sabe, depois de 17 capítulos e mais de um ano em cartaz, a novela se aproxima de seus lances finais. Os jovens redatores paranaenses só não estão ainda certos do título desse último capítulo. Há ainda muita divergência entre eles, conforme nos confirmam fontes “seguras” de delatores. Há os latinistas, e entre eles os que preferem um título simples: Brahma apprehendi (Brahma é preso). Mas há também os mais “espiritualizados”, mais “devotos de Deus” que não estão muito certos que língua usar para falar com Deus, mas que, por ora, gostariam de batizar a fase de “Brahma se torna Shiva” (a criação se torna destruição), Brahma siva bana jata hai no original hindi.

Há também entre eles os germanistas que querem preservar as raízes germânicas de Curitiba e que, assim, querem um título como Brahma ist kein Kaiser (Brahma não é Kaiser, ou Imperador, caso não queiram o trocadilho). Há até os americanistas que, seguindo a preferência do redator-chefe, numa certa bajulação, batizariam: Nine is not ten. Certo mesmo é que, seja qual for a corrente vencedora, até mesmo se, numa reviravolta improvável de brasilianismo, batizarem de “camarão que dorme a onda leva”, o desfecho final é o mesmo: o preconceito da elite (seja qual corrente vença) levará Lula à prisão.

Não é ainda completamente certo também que o capítulo será exibido no formato que desejam redatores e as empresas de mídia detentoras da exclusividade da transmissão. Talvez nem sequer seja exibido. O que é certo, por enquanto, é que, como num thriller, mais importante que o grand finale é o suspense que antecede essa cena.

E nesse quesito, não podemos deixar de elogiar, o roteiro tem sido “campeão” de audiência. Um passo após o outro, toda “coerência” dramática tem levado certinho o público na direção que os redatores almejam. As paixões despertadas pelas ações dos personagens são de uma fidelidade à estrutura dramática digna dos melhores roteiristas de suspenses. Nem nos melhores sonhos e imaginações alguém poderia pensar, há alguns meses, que estaríamos próximos dessa cena. Presidente com a maior aprovação ao sair do governo, em poucos anos se torna o grande vilão dos problemas do país! Tchananan! A composição desse personagem realmente recebeu retoques de maquiagem das melhores empresas de showbiz americanas. Mas o melhor de tudo: parece tudo 100% nacional, 100% verde e amarelo.

A grande chave da trama

Bom, se a história que nos contam é verdadeira ou não jamais saberemos. Com tamanha desenvoltura entre ficção e realidade, a Lava Jato é uma dessas obras inclassificáveis. Mas também não há que esperar por “verdade”, já que o que conta numa Poética, da qual a Lava Jato é apenas mais um exemplar, é a verossimilhança, que a história seja crível, que o público acredite na história. E nesse quesito a dramaturgia tem sido muito bem amarrada desde o início.

Alguns achavam (talvez ainda achem) que os redatores paranaenses não estariam dispostos a ir tão longe no thriller, na exibição das cenas. Talvez tenham acreditado, como uma certa senhora e um de seus justos auxiliares, que valores “republicanos” imperassem nas transmissões. Tudo isso desapareceu, como vimos, nos eletrizantes últimos capítulos da novela, em que alguns dos maiores empresários do país foram presos e, agora, em que o mítico José Dirceu foi parar atrás das grades, novamente. Quem desafia o dinheiro, desafia uma biografia. Desafia até a própria narrativa, que muda o enredo no meio da novela, de um “cartel de empreiteiras para financiar partidos políticos”, agora sabemos que se trata de um “Mensalão II”. Bom, quem se importa com esses detalhes, não é mesmo? Melhor repetir um grande sucesso de audiência do que emplacar algo original, não é? Como toda novela, o que importa é o último capítulo e, nesse sentido temos certeza de que teremos boas imagens, e também belas fotos para a revista de fofocas que muitos confundem com jornalismo. O sucesso, os aplausos, são garantidos, não tenho dúvida.

É verdade que ainda não sabemos quando os redatores pretendem colocar no ar, mas tudo indica que não demorará muito. Afinal, como num bom suspense, o encadeamento do tempo é a grande chave da trama.

Quem viver, verá! Certamente será um espetáculo daqueles em que ninguém sairá imune. À direita ou à esquerda da trama.

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Vinicius B. Vicenzi é doutorando em Filosofia