Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O jornalista que soube traduzir o economês

O corpo do jornalista Joelmir Beting foi cremado na tarde de ontem [quinta, 29/11] no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, em uma cerimônia reservada a familiares e amigos mais próximos. Beting, de 75 anos, morreu à 0h55m de ontem em consequência de um acidente vascular encefálico hemorrágico (AVE) ocorrido no domingo no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Joelmir estava internado desde 22 de outubro devido a uma doença autoimune que tinha nos rins.

O corpo foi velado até o começo da tarde no Cemitério do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Durante o velório, Lucila Beting, viúva do jornalista, falou sobre o casamento, que completaria 50 anos em abril.

– Ele foi um maridão. Só me deu alegrias. Procurava adivinhar as coisas que eu queria e me encheu de tranquilidade. Foi um bom pai, um bom provedor, meu companheiro de fé.

Filho de Beting, o também jornalista Mauro Beting leu uma carta em homenagem ao pai, ao vivo, na rádio Bandeirantes. Nela, Mauro diz que Joelmir foi “O melhor pai que um jornalista pode ser. O melhor jornalista que um filho pode ter como pai”.

Alckmin foi ao velório

Autoridades também manifestaram pesar pela morte do jornalista. O governador de São Paulo Geraldo Alckmin chegou ao velório por volta das 10h para prestar suas homenagens e afirmou que Joelmir Beting tinha duas virtudes singulares: o bom humor e a capacidade de traduzir o economês para a vida prática das pessoas.

– Dizem que o estado de permanente bom humor é uma das melhores provas de inteligência. Era uma pessoa bem humorada, com bordões inteligentes, um humor fino.

O economista e ex-ministro da Fazenda Delfim Netto também esteve no velório:

– Eu aprendi muito com ele. Em matéria de comunicação, era absolutamente imbatível.

A presidente Dilma Rousseff destacou, em nota, que Beting conseguiu realizar uma das missões primordiais do jornalismo: explicar as notícias mais complexas de uma forma simples. “Beting aliava um conhecimento profundo da economia brasileira com uma comunicação didática. Usava comparações de uso corrente para fazer com que todo brasileiro pudesse compreender e formar sua própria opinião sobre os fatos”, afirmou a presidente.

A nota de Dilma diz ainda que o jornalista “abriu caminhos para um jornalismo econômico sob o ponto de vista do cidadão, não de autoridades, nem de corporações”.

Já a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas, lamentou a morte de Beting, que, segundo ela, foi um de seus “mestres na trajetória do jornalismo”.

De boia-fria a jornalista

Nascido em 21 de dezembro de 1936 em Tambaú, Joelmir se formou em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Um salto para quem, aos sete anos, foi boia-fria no interior de São Paulo.

Antes mesmo de concluir a graduação,em 1962, já havia enveredado pelo jornalismo. Em 1957, começou a trabalhar nos jornais “O Esporte” e “Diário Popular”, ambos em São Paulo, fazendo matérias sobre futebol, e na rádio Panamericana (atual Jovem Pan).

Ao concluir o curso de sociologia, decidiu investir no jornalismo econômico. Começou revisando estudos de viabilidade econômica em uma consultoria de São Paulo. Em 1966, foi para a editoria de automóveis do jornal “Folha de S. Paulo”. Dois anos depois, foi para a editoria de economia, onde chegou a ser editor.

Em janeiro de 1970, passou a publicar uma coluna diária. Em 1991, levou sua coluna para o “Estado de S.Paulo”, onde foi publicada até o fim de 2003. Sua coluna também foi publicada pelo jornal O Globo, entre 1979 e 2003.

Pioneiro em conferir simplicidade aos textos jornalísticos, foi um dos primeiros nomes a fazer comentários diários sobre economia na televisão.

Na TV, passou pela Gazeta, Record e Bandeirantes. Teve passagem longa pela TV Globo, onde trabalhou de 1985 até 2003. Após deixar a TV Globo, voltou para a Bandeirantes em março de 2004, onde permaneceu até ser internado.