Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Razão de briga com Gabo ‘vai para o túmulo’, diz Vargas Llosa

O motivo da briga que separou os prêmios Nobel de Literatura latino-americanos Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa vai para o túmulo com eles, disse nesta quinta-feira o escritor peruano.

A discórdia ocorreu em 1976, durante um encontro de escritores no México, quando Vargas Llosa deu um soco certeiro no colombiano García Márquez, deixando o olho esquerdo dele roxo e encerrando a amizade de uma década.

A razão da disputa tem sido um enigma para a imprensa e até mesmo para os biógrafos dos dois ganhadores do Prêmio Nobel. Nesta quinta-feira, Vargas Llosa disse na Venezuela, onde os dois se conheceram, que levará o segredo para o túmulo.

“É um pacto entre García Márquez e eu. Ele respeitou isso até a sua morte e vou fazer o mesmo”, disse Vargas Llosa respondendo à pergunta em busca de uma pista sobre o mistério após a morte, na semana passada, do colombiano que revolucionou a literatura. “Vamos deixar nossos biógrafos, se merecemos isso, investigar o assunto”, disse o autor de “Conversa na Catedral” em uma entrevista coletiva, depois da abertura de um fórum “pela liberdade econômica”, de que ele participa em Caracas.

Testemunhas disseram anonimamente, durante anos, que García Márquez foi atingido por Vargas Llosa “pelo que ele fez para Patricia”, a mulher do peruano. Uma teoria diz que o autor de “Cem anos de solidão” poderia ter sugerido a Patricia Llosa que se separasse do seu marido por uma suposta infidelidade dele.

Outra mais complicada garante que Patricia, para se vingar do marido, deu a entender que tinha um relacionamento com Gabo. Aquela briga entre eles ficou registrada em uma foto do fotógrafo Rodrigo Moya, na qual García Márquez aparece com o olho esquerdo roxo, mas sorrindo.

Antes, em 1971, Vargas Llosa havia publicado uma análise da obra do colombiano intitulada “García Márquez: história de um deicídio”. Apesar da briga, Vargas Llosa lamentou a morte de Gabo, mas lembrou que aconteceu com García Márquez o que todo escritor gostaria que acontecesse: “que sua obra sobreviva”.

García Márquez morreu em 17 de abril aos 87 anos em sua casa na Cidade do México, onde viveu a metade da sua vida. O Nobel colombiano também se desentendeu com a norte-americana Susan Sontag e o mexicano Octavio Paz depois que os dois condenaram a sua “desonestidade intelectual” por ser amigo do líder cubano Fidel Castro.