Wednesday, 22 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

Depois de sete anos, caso dos grampos ainda longe do fim

O escândalo dos grampos telefônicos que abalou o império de mídia do magnata Rupert Murdoch e atingiu o governo britânico começou, silenciosamente, em 2005, quando conselheiros da família real reuniram-se em um escritório do palácio para anunciar suspeitas de interceptação das caixas postais de seus celulares. Sete anos e dezenas de prisões depois, informações de policiais e promotores apontam que a investigação deve continuar por mais tempo, sem um fim óbvio à vista, afirma Ravi Somaiya em artigo no New York Times [17/5/12].

Rebekah Brooks, ex-editora dos tabloides The Sun e News of the World, que se tornou executiva-chefe da unidade britânica de jornais da News Corporation, a News International, e também amiga próxima do primeiro-ministro David Cameron, está entre os que enfrentam acusações criminais. Rebekah, seu marido e quatro ex-colegas foram acusados de prejudicar o andamento da justiça ao ocultar material pertinente às investigações policiais – acusação considerada “injusta” por ela. A ex-executiva deverá comparecer à corte no dia 13/6 e, provavelmente, não será a última pessoa ligada ao caso a enfrentar um processo.

Três operações policiais

Há, atualmente, três operações policiais em curso, segundo a Scotland Yard: a Operação Weeting, que investiga interceptações ilegais de caixas postais, conta com 95 policiais e investigadores envolvidos e já efetuou 22 prisões; a Operação Tuleta, que analisa invasão de computadores, tem oito profissionais na equipe e já realizou três prisões; e a Operação Elveden, que apura pagamentos ilegais de jornalistas a funcionários públicos, tem uma equipe de 29 pessoas e registra 28 prisões. “É difícil dar uma data para um fim”, afirmou um porta-voz da polícia. “Seguimos a evidência e é impossível dizer onde ela levará. É seguro dizer que durará anos”. O orçamento policial para as investigações sobre jornalismo está programado para até 2015 e deve chegar ao equivalente a R$ 130 milhões.

Julgamentos criminais de personagens centrais no escândalo podem trazer novas informações à tona. Entre os que podem ser acusados está Andy Coulson, ex-editor do News of the World que posteriormente se tornou diretor de comunicações de David Cameron. Se ficar provado que funcionários de Murdoch deram dinheiro a funcionários do governo a fim de favorecer interesses de negócios, especialistas acreditam que o empresário pode ser acusado nos EUA sob o Ato Contra Práticas Corruptas Estrangeiras.

Inquérito Leveson

Em paralelo às investigações criminais ocorre o Inquérito Leveson, que já obteve depoimentos de Murdoch, de seu filho, James, e de ex-executivos do grupo. De acordo com John Toker, porta-voz do inquérito, que foi criado para avaliar os padrões éticos da imprensa britânica, os trabalhos continuarão em julho, com depoimentos de políticos dos governos passado e atual. Nas próximas semanas, será a vez do ministro da Cultura, Jeremy Hunt, acusado de ajudar executivos de Murdoch na operação de oferta para comprar a empresa de TV por satélite BSkyB. Hunt era o responsável pela decisão final da compra.

Não está claro se Cameron e o ministro da Fazenda, George Osborne, também darão evidências de seus relacionamentos com a família Murdoch e executivos do grupo. Ambos enfrentam acusações de participação em jantares e festas, incluindo um encontro no iate de Murdoch na Grécia, no qual o primeiro-ministro estava presente e que pode ter influenciado no acordo da BSkyB.

O relatório do Inquérito Leveson será divulgado em outubro e sua segunda parte, focada no escândalo dos grampos, começará depois da conclusão dos procedimentos criminais. Enquanto isso, foram abertas mais de 100 ações civis com acusação de escuta ilegal. Muitos acordos foram feitos a um custo não revelado, mas especula-se que seja de milhões de dólares em danos e taxas legais. Segundo a polícia, há mais de 800 vítimas de grampos. O juiz responsável pelos casos, Geoffrey Vos, estabeleceu a data de julgamento para 18/2/13 para qualquer caso que não tiver sido resolvido fora da corte.