Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A homepage de sites de notícias morreu?

Editores nostálgicos do jornal impresso (e mesmo alguns editores que só trabalharam com mídia digital) encontram, ainda, um pouco de conforto com a homepage de seus sites. Num jornal online, a página inicial pode parecer um dos únicos lugares em que as decisões editoriais são visíveis numa rápida olhadela (ao contrário dos jornais, onde a mão do editor é evidente em todas as páginas). À medida que as agendas editoriais se tornaram mais complicadas – com mais preocupações, como tuítes, mensagens compartilhadas e cliques em matérias individuais – continua havendo uma surpreendente quantidade de energia gasta na página inicial. Porém, à medida que cada vez mais tráfego tem origem em mecanismos de busca e redes sociais, a página inicial como lugar de entrada para o conteúdo de um site fica cada vez mais obsoleta.

Algumas estatísticas: no ano passado, o Nieman Lab divulgou em detalhe quanto tráfego vinha para os principais sites de notícias “pela porta lateral” – ou seja, páginas de artigos. Menos da metade das visitas feitas ao NYTimes.com começou na página inicial. Mais da metade das visitas feitas ao site Buzzfeed vêm de mecanismos de busca e redes sociais. Somente 12% das visitas feitas ao jornal The Atlantic começam na homepage.

Painel de uma marca

Zach Seward, um dos editores da publicação de negócios Quartz, disse que orienta colaboradores a escreverem como seu seus leitores tivessem pouco ou nenhum conhecimento do contexto e não viessem da página inicial. “Nós dizemos às pessoas que escrevem para o Quartz que assumam que qualquer post enviado começa com uma audiência zero. Ele tem que conquistar sua própria audiência na rede social. Isso é um desafio, mas é divertido e produz um material de primeira, do qual os leitores gostam”, afirma.

Provavelmente, isso é ainda mais relevante para uma empresa iniciante como a Quartz, ainda construindo uma audiência, mas, considerando as estatísticas sobre a origem dos visitantes, é um bom conselho que outros autores e editores prestem atenção. Seward continuou: “Ficamos encantados se as pessoas nos visitam pela porta da frente, digitando Qz.com, mas sabemos que quase todo mundo vem pela porta de trás. O próprio design do site reflete isso: a homepage conduz você à nossa matéria principal e se parece com qualquer outra página de artigo.

A tentativa mais interessante de tornar as páginas de artigos páginas iniciais em homepages próprias foi feita pelo Gawker em 2011. Os leitores (e outros jornalistas) disseram que detestavam, mas isso não afastou visitantes. “A primeira página é nossa oportunidade de afirmar a marca. E também é uma maneira de mostrar inteligência, bom gosto e – podem rir – até beleza”, escreveu, na época, Nick Denton, diretor-presidente do Gawker.

É esse realmente o futuro da página inicial. É um painel de uma marca, e não uma maneira de canalizar o tráfego. Deixou de ser algo como a página A1 de um jornal impresso e tornou-se uma espécie de capa de revista, proporcionando uma brincadeira e uma dica do projeto editorial, mas não um caminho direto às matérias propriamente ditas. Para a maioria dos leitores, que vêm pela porta lateral e depois voltam para a URL ou clicam no logotipo da publicação, a página inicial moderna praticamente só transmite o objetivo daquele veículo. Mas ainda assim, é válido. Só não é tão importante como modelo de negócios ou projeto editorial. E quanto mais cedo os editores souberem lidar com isso, melhor. Informações de Ann Friedman [Columbia Journalism Review, 17/1/13].