Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Brasil ocupa quarto lugar em relatório do CPJ

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) alertou para o aumento preocupante do número de jornalistas mortos e presos em todo o mundo no ano passado, atribuindo a tendência a leis repressivas, intolerância dos governos em relação a dissidentes e impunidade total para assassinos que estão colocando em risco o jornalismo independente em muitos países.

Na pesquisa anual “Ataque à Imprensa”, divulgada na semana passada, o CPJ concluiu que 70 jornalistas foram mortos por conta de seu trabalho em 2012, o que representa um aumento de 43% comparado ao ano anterior, e que mais de 35 jornalistas desapareceram. Segundo o grupo, 232 jornalistas foram presos em 2012, 53 a mais do que no ano anterior – e ainda o número mais alto desde que a pesquisa começou a ser feita, em 1990. “É um ano triste para a liberdade de imprensa”, disse Robert Mahoney, vice-diretor do CPJ. “Do México à Síria, da Rússia ao Paquistão, jornalistas nas linhas de frente estão enfrentando a violência e a repressão como nunca antes”.

Cultura da impunidade

Para Mahoney, o assassinato de jornalistas no Paquistão, Somália e Brasil destacou-se no ano passado, refletindo o que classificou como uma cultura da impunidade fortalecida que dá aos assassinos a confiança de que não serão responsabilizados. “Não há maior ameaça ao jornalismo investigativo do que a impunidade”, afirmou. Ainda de acordo com a pesquisa, 28 jornalistas foram mortos na Síria no ano passado, tornando o país o mais perigoso para os profissionais do setor. A Somália vem em segundo lugar, com 12 jornalistas mortos, seguido pelo Paquistão, com sete. O Brasil ficou em quarto lugar na lista dos países mais letais para jornalistas.

Houve um aumento repentino da violência contra jornalistas brasileiros (com quatro assassinatos relacionados diretamente ao exercício da profissão em 2012) e agravamento da impunidade. Também foi observado que o governo não apoia a liberdade de imprensa em fóruns internacionais. Segundo o CPJ, seis dos sete jornalistas mortos nos últimos dois anos haviam divulgado notícias a respeito de corrupção oficial ou crime e, com exceção de um deles, todos trabalhavam no interior. “O sistema judiciário brasileiro não conseguiu acompanhar o ritmo”, afirmou Karen Phillips, no site do CPJ. O repórter John Otis alertou para os riscos enfrentados pelos blogueiros no Brasil – no ano passado, o assassinato de Décio Sá, jornalista e blogueiro mais influente do Maranhão, ganhou grande destaque mundial.

Países em risco

Pela primeira vez foi elaborada, na pesquisa do CPJ, uma lista de “países em risco” com tendências preocupantes. Além do Paquistão, Somália e Brasil, aparecem na lista Equador, Turquia e Rússia, pelo uso de leis restritivas para silenciar dissidentes. Turquia, Vietnã, Irã e Síria também foram citados por conta da prisão de jornalistas.

Ciberataques a jornalistas e organizações de mídia aumentaram significativamente ao longo dos últimos anos, com o mais comum sendo o ataque “negação de serviço”, que interrompe o serviço por sobrecarga de informações no sistema. Exemplos recentes disso foram os ataques chineses ao New York Times e Wall Street Journal, assim como em organizações menores ou jornalistas na África e Oriente Médio. Confira aqui a pesquisa.

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