Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Tabloide britânico de olho no mercado americano

Um dos principais veículos para onde correu o público americano atrás de fofocas sobre as vítimas do sequestro em Cleveland não era americano, mas sim britânico: o Mail Online, site do tabloide Daily Mail. O caso – três mulheres que reapareceram depois de 10 anos mantidas em cativeiro – parecia feito para a fórmula do tabloide, que hoje é o terceiro site de jornal mais visitado no mundo. Em março, o Mail Online atraiu 46,4 milhões de visitantes únicos, incluindo 17,2 milhões nos EUA, segundo a comScore. “Eles certamente são um site a ser acompanhado”, diz Bonnie Fuller, ex-editor das revistas Cosmopolitan e US Weekly que agora edita o site de fofocas HollywoodLife.com. “Eles realmente cobrem o lado marginal das celebridades”.

Como outros sites de jornais britânicos, incluindo o tradicional The Guardian, o Mail Online está cada vez mais focado no território americano. Em 2011, o Daily Mail começou a cobrir celebridades em Los Angeles. Um ano depois, expandiu para Nova York ao abrir um escritório em Manhattan, contratando em sua maioria jornalistas britânicos. Atualmente, em torno de 80 pessoas trabalham nos EUA, segundo George Simpson, porta-voz do jornal. Na cobertura dos sequestros de Cleveland, as matérias focaram em detalhes como os bolos que o sequestrador oferecia a cada vítima no aniversário de sua captura, além das plantas da casa que servia de cativeiro para as três jovens.

Matérias e fotos sem créditos

Além de suas características agressividade e popularidade, o Mail Online também tem outros hábitos dos tabloides que enfurecem alguns rivais na mídia americana. O Daily News e oNew York Times, por exemplo, acusam o site de copiar matérias sem dar o devido crédito. Uma agência de fotos da Flórida que vende imagens de celebridades processou o jornal britânico, alegando que ele publicou fotografias sem permissão.

Alguns analistas que são geralmente positivos sobre o crescimento do Mail Online preocupam-se, no entanto, com suas práticas jornalísticas. “Eles terão que adquirir, bem rapidamente, fontes de conteúdo distintas”, diz David Reynolds, analista do banco de investimentos Jefferies. Segundo George Simpson, o Mail Online está apenas tentando competir com outras editoras digitais, como o Huffington Post, para quem “agregação é um modo de vida” e que “teve que se adaptar a um novo modelo de apuração”. Para o porta-voz, durante coberturas com muitos acontecimentos de última hora, pode ser difícil determinar quem é o legítimo detentor dos direitos autorais. “Mas buscamos pagá-lo rapidamente e de maneira justa”, justificou.

Como um grande competidor na guerra dos tabloides britânicos, o Daily Mail tem um longo histórico de tirar conteúdo de outros jornais. Um ex-repórter que não quis se identificar conta que, quando começou a trabalhar no jornal, tinha que reescrever artigos publicados em outros veículos. Richard Samson, advogado doNew York Times, afirma que o diário americano acusou oDaily Mail de plágio em diversas ocasiões e eles responderam removendo a matéria do site ou fazendo alterações nela.

A grande questão sobre o Mail Online permanece se, como outros sites populares, ele pode atrair o tipo de receita que precisa para sustentar a operação americana e se anunciantes gostariam de ver sua marca ao lado de matérias sensacionalistas. Segundo Reynolds, a versão americana do site do Daily Mail, que tem seus próprios anúncios e conteúdo, gera apenas US$ 7,2 milhões (em torno de R$ 14 milhões) em receita anual. Alex DeGroote, analista de mídia da Panmure, Gordon & Company, disse que, embora o Mail Online ainda não seja rentável, seu crescimento ajudou o valor das ações do grupo a subir 80% no ano passado.