Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Sargento divulga fotos “reais” de Dzhokhar Tsarnaev

Após a Rolling Stone trazer em sua capa Dzhokhar Tsarnaev, de 19 anos, suspeito pelo atentado à bomba na Maratona de Boston, no lugar das habituais celebridades e estrelas do rock’n’roll, novas fotografias divulgadas pelo sargento Sean Murphy, fotógrafo tático da polícia de Massachusetts, mostram um jovem bem menos glamourizado.

As fotos tiradas pelo sargento no dia 19/4 captam a imagem de Tsarnaev saindo do barco onde ficou escondido durante horas, cercado por agentes do FBI fortemente armados. Uma das imagens mostra ele no barco com um laser de um atirador de elite na testa, nariz ensanguentado e mão sujas de sangue em sinal de rendição. Em outra, ele está no chão recebendo assistência médica emergencial. As imagens, publicadas pela revista Boston, contrastam com a foto escolhida pela Rolling Stone. Segundo Murphy, que acompanhou a equipe da Swat – polícia de elite dos EUA – quando Tsarnaev era capturado, esse é o rosto verdadeiro do terrorismo e não o divulgado pela Rolling Stone.

Murphy divulgou uma sequência de fotos oficiaiscomo expressão da sua raiva e fúria em relação ao modo como a Rolling Stone mostrou o suspeito. A divulgação das imagens não foi autorizada e o sargento foi suspenso de suas tarefas e enfrenta uma investigação. “A verdade é que glamourizar a cara do terror não é apenas insultar os familiares dos que foram mortos, mas também pode ser um incentivo a alguém inclinado a fazer algo para ter seu rosto na capa da Rolling Stone”, disse Murphy, acrescentando que a capa da revista fez reviver a dor nas vítimas. “O que a Rolling Stone fez foi errado. Este garato é ruim. Este é o verdadeiro homem-bomba”, declarou. Segundo John Wolfson, editor da Boston, as fotos mostram o quão magoado está o sargento – que trabalha na polícia há 25 anos. A revista afirmou que publicará mais fotos em setembro.

O poder da imagem

A capa polêmica da Rolling Stone gerou uma grande repercussão negativae a crítica de Murphy coloca mais lenha na fogueira e reforça o poder do contexto visual. O prefeito de Boston, Thomas Menino, chegou a afirmar que a revista estava dando “a um terrorista tratamento de celebridade”. As redes de farmácia Walgreens e CVS recusaram-se a vender a edição com Tsarnaev na capa.

O conselho editorial do New York Times, por sua vez, acredita que ele não não foi transformado em uma celebridade de rock simplesmente por estar na capa da Rolling Stone – especialmente porque a foto já havia aparecido em diversos lugares importantes, incluindo a capa do próprio NYTimes, sem nenhuma polêmica. A revista Time, por exemplo, já publicou várias capas de Adolf Hitler nos anos de guerra. Menos de um mês depois dos ataques do 11/9, a Time também publicou uma foto de Osama bin Laden.

Para David Carr, jornalista do NYTimes, o que gerou controvérsia não foi quem estava na foto, mas como e onde. Carr escreveu que não foi a imagem de Tsarnaev que deu início à fúria, mas o contexto. A foto do jovem dividia espaço com manchetes para matérias sobre o rapper Jay Z e o cantor Willie Nelson, o que alguns acreditam que sugeria que a revista estava dando status de estrela a alguém acusado de terrorismo. Outros alegaram que a Rolling Stone usou a imagem para vender revistas, o que, de fato, fez. “Editorialmente, a capa foi uma vitória”, comentou Carr.

Além da capa

Parte da confusão resulta de uma má compreensão da revista e da sua capa. Desde o começo, a Rolling Stone tem o jornalismo como parte de sua missão e a matéria sobre Tsarnaev cumpriu o papel de explicar como um jovem aparentemente comum decidiu, segundo acusações federais, atacar inocentes para chamar atenção para um tema religioso. Há valor cívico e jornalístico em descobrir mais sobre essa pessoa, e se a capa chama a atenção para a matéria, isso é algo bom. Claro que houve motivos editoriais e comerciais na escolha da foto, como acontece em quase tudo que é publicado. “As pessoas que leram além da capa descobriram que o garoto bonitinho parece ter sentimentos profundos e feios em seu coração. Assim como não se pode julgar um livro ou revista por sua capa, a criança por trás da aparência confiante era, ao que parece, uma grande confusão”.