Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

‘NatGeo’ faz mostra e livro com trabalho de fotojornalistas

Stephanie Sinclair é fotojornalista de conflitos da National Geographic, uma das poucas mulheres entre os 60 fotógrafos freelancers da revista. Na última década, ela viajou pelo Iêmen, Índia, Afeganistão, Nepal e Etiópia documentando a vida de meninas – algumas com apenas seis anos – que são oferecidas para homens mais velhos como noivas, geralmente para pagar a dívida da família. Stephanie sempre imagina como teria sido sua infância se vivesse num lugar assim, em vez de Miami, onde seus pais lhe ensinaram a ser livre e confiante. “A maior parte das meninas que fotografei casou-se entre oito e 13 anos. Eu me identifiquei com a inocência dessa idade e fiquei furiosa que ninguém as estivesse protegendo”, desabafou ela, que também trabalha como freelancer para as revistas New York Times Magazine, Time e Newsweek.

Algumas fotos de Stephanie integram a mostra “Mulheres de Visão: Fotógrafas da National Geographic em Ação”, no Museu National Geographic, em Washington. Nela, é possível ver o trabalho de 11 fotojornalistas – Lynsey Addario, Kitra Cahana, Jodi Cobb, Diane Cook, Carolyn Drake, Lynn Johnson, Beverly Joubert, Erika Larsen, Maggie Steber, Amy Toensing e da própria Stephanie – publicado na última década pela revista sobre diversos temas, como vida selvagem, guerra e justiça social. A exposição também virou um livro.

De acordo com a curadora, Elizabeth Krist, não é necessariamente fácil identificar se uma foto foi tirada por uma mulher ou um homem, mas o gênero desempenha um papel significativo em como uma pauta é documentada, especialmente em relação a questões específicas como assédio sexual e casamento de meninas. “Eu acho que as mulheres ainda são sub-representadas, e eu acho que isso é especialmente verdadeiro se você olhar para os países em desenvolvimento. As mulheres são mais propensas a cobrir questões que são importantes para as mulheres e a ter acesso a essas questões”, opinou.

Acesso facilitado

Na opinião da fotógrafa Jodi Cobb, uma das apenas quatro mulheres que fazem parte do quadro fixo da National Geographic, muitos aspectos do fotojornalismo mudaram ao longo dos anos. Ainda assim, ela – que trabalha para a revista há duas décadas – acredita que o número de profissionais mulheres em grandes publicações não é suficiente. Quando começou sua carreira nos anos 70, Jodi era a única mulher na equipe do Wilmington News Journal e se lembra de ter que batalhar para provar que podia fazer parte de um cenário dominado por homens.

Foi somente 10 anos depois, quando estava a trabalho na Arábia Saudita para a National Geographic, que a fotógrafa percebeu as vantagens de ser mulher. Ela documentou o papel da mulher na sociedade saudita – o que não poderia ter sido feito por um homem. “Essa experiência foi um ponto de virada para mim e sobre como eu via o meu trabalho. Eu comecei a ficar mais confiante de que havia uma audiência receptiva para temas que afetam as mulheres”.

Ser mulher também facilitou o acesso de Kitra Cahana a jovens para uma série sobre o cérebro dos adolescentes. Ela trabalhou na pauta por quase quatro meses, fazendo uma imersão em uma escola – apenas seis anos depois de ter se graduado. Kitra, hoje com 22 anos, teve seu primeiro trabalho publicado no New York Times com apenas 17 anos.

O perigo de estar na linha de frente

Há, entretanto, desvantagens de ser mulher em áreas de conflito. Além de Jodi, outras mulheres cujo trabalho está na mostra já vivenciaram os riscos de estar na linha de frente. Lynsey Addario, por exemplo, tem mais de uma década de experiência no Oriente Médio e já foi sequestrada duas vezes, primeiro em 2004 e depois em 2011 – junto com outros três jornalistas do New York Times que ficaram reféns na Líbia por forças pró-Kadafi. Durante os seis dias no cativeiro, ela foi ameaçada e sexualmente violentada. Quando estava no Afeganistão, Stephanie teve que demitir seu motorista, que insistia em caçoar dela com a burca e em levá-la a lugares contra a sua vontade.