Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Rupert Murdoch chama atenção com postagens sinceras no Twitter

A conta de Twitter do magnata de mídia Rupert Murdoch é frequentemente acompanhada com curiosidade, principalmente pela imprensa. Murdoch não teme expor seu posicionamento político e não poupa críticas a quem acha que merece. A maioria de seus tuítes carrega conteúdo sobre política e assuntos internacionais.

Curiosamente, antes da era das mídias sociais, o empresário mantinha-se firmemente discreto, tomando o cuidado de não expor seus pontos de vista publicamente – ao mesmo tempo em que desequilibrava eleições através de endossos editoriais em seus diversos jornais espalhados pelo mundo.

“Ele deixava claro para seus editores quais políticos mereciam apoio e quais não mereciam”, diz um ex-executivo da News Corporation. “Mas a menos que fosse o momento de dar seu aval, tais conversas permaneciam privadas”. Pelo visto, não mais.

Influência no Twitter e nos jornais

Quando o político republicano Mitt Romney cogitou se candidatar à presidência dos Estados Unidos (mudando de ideia logo depois), Murdoch foi direto em um tuíte: “Vamos ser claros. Conheço e considero Mitt Romney uma pessoa muito legal. Mas ele já teve sua chance e pareceu carecer de visão para este país”. Ao mesmo tempo, o Wall Street Journal – publicado pela Dow Jones, que pertence à News Corp – apenas confirmou formalmente em editorial o que seu executivo já havia apresentado: “Romney é um homem de caráter pessoal admirável, mas seu perfil político é, bem, inconsistente”.

Quando um artigo de primeira página do New York Times apontou a confluência entre as observações de Murdoch no Twitter e a política editorial do Wall Street Journal, implicando que não se trata de coincidências, Murdoch foi ao Twitter novamente e rebateu: “O NYTimes errou, como de costume, sobre mim, Romney, etc. Eu tenho tanta influência sobre o WSJournal quanto Sulzberger tem sobre o Times. Ou seja: nenhuma!”.

Os observadores de Murdoch enxergam as manifestações em seu Twitter e nas páginas editoriais de seus jornais como simbióticas. A rede social não apenas fornece um canal direto para o magnata desabafar suas opiniões, como também serviria como um alerta para os editores de Murdoch.

Figura humanizada

Ed Pilkington, chefe de reportagem da edição americana do britânico The Guardian, comentou que, para um homem como Murdoch, alguém que se acostumou a fazer tudo do seu jeito ao longo de décadas, a interação entre o Twitter e seus jornais certamente deve ser atraente. Mas alertou que também carrega perigos em potencial.

Em artigo para o Washington Post, Philip Bump – colunista de política no site The Fix – disse que ninguém é ingênuo e que todos compreendem que a influência de Murdoch se estende para além dos seus mais de 550 mil seguidores no Twitter. Mas Bump também enxerga Murdoch de maneira mais humanizada e diz que, assim como todos nós, ele apresenta opiniões risivelmente equivocadas no microblog.

Esta visão humanizada do grande magnata ficou bastante evidente quando Murdoch publicou um tuíte que não queria dizer absolutamente nada: “Po”. Provavelmente foi um lapso de digitação, mas rendeu piadas entre os internautas, que retuitaram a mensagem mais de mil vezes, muitos tentando “adivinhar” o que ele queria dizer –estaria Murdoch falando do personagem dos Teletubbies? Ou buscando pornografia? Ou prestes a mandar um recado para o Papa? (“Pope” em inglês). Brincou-se, inclusive, que Murdoch tinha o hábito de tuitar sob efeito de álcool.

 

 

Margaret Simons, diretora do Centro para a Promoção do Jornalismo na Universidade de Melbourne, na Austrália, acha que o Twitter não tem sido bom para Murdoch. “Ele revelou algo que aqueles mais próximos a ele sempre souberam: que suas políticas pessoais, e seu modo de intervir na política, são bastante rudimentares. E agora todo mundo enxerga: Rupert Murdoch não é o pensador mais profundo do mundo”, disse ela.

Com seriedade ou não, o fato é que, talvez sem perceber, Murdoch parece estar levando toda sua influência editorial à grande rede.