Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A ‘cleptocracia’ de Lorde Black

Em relatório de 523 páginas, o comitê especial que investiga as falcatruas cometidas por Lorde Black e David Radler na Hollinger International, companhia de mídia em que ocupavam, até o ano passado, os cargos de CEO e COO, respectivamente, concluiu que eles instituíram uma verdadeira ‘cleptocracia corporativa’. Em outras palavras, tudo indica que eles roubaram a empresa de forma clara e sistemática, desviando para os bolsos próprios os cerca de US$ 400 milhões que a Hollinger deu de lucro nos últimos sete anos e deixando os outros acionistas a ver navios. O relatório ressalta ainda que os outros diretores foram negligentes em combater a corrupção praticada por Black e Radler. Os acionistas da Hollinger tentam fazer com que os executivos corruptos da empresa devolvam US$ 1,25 bilhão.

Como mostra Geraldine Fabrikant, do New York Times [1/9/04], Black e Radler encontraram diversas maneiras de se apropriar indevidamente do dinheiro da companhia. O primeiro, por exemplo, colocou na conta da Hollinger os US$ 250 mil que gastou para viajar de férias a Bora Bora com o avião da empresa. Além disso, arranjou um cargo fantasma para sua mulher, Barbara Black, com salário anual de US$ 1,1 milhão. Por diversas vezes, Black fez a Hollinger vender jornais para ele a preços muito abaixo do valor real. O Mammoth Times, um diário californiano, por exemplo, foi arrebatado por US$ 1 pelo ex-CEO, quando havia oferta concorrente de US$ 1,25 milhão. Radler agia de forma semelhante. Também empregou parentes e fez doações a instituições de caridade em seu nome, mas com dinheiro da Hollinger.

Em comunicado, a Ravelston Corporation, holding através da qual Black mantém controle acionário sobre a Hollinger, disse que o relatório ‘mistura alegações exageradas com absolutas mentiras’. ‘O comitê especial desperdiçou mais de US$ 25 milhões em dinheiro de acionistas numa investigação fútil de 14 meses, que paralisou a Hollinger International, erodiu o valor de suas ações, e perseguiu e difamou os homens e mulheres que criaram o valor que agora depredam’.