Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

CBS afirma ter segurado reportagem polêmica

Enquanto na Grã-Bretanha se discute a autenticidade das fotos de soldados britânicos torturando um iraquiano, publicadas no Daily Mirror, a polêmica da hora nos EUA é sobre datas. A CBS News disse que segurou por duas semanas a matéria em que denunciava, por meio de fotos, as torturas sofridas por iraquianos detidos por tropas da coalizão. O atraso em levar a polêmica ao ar deu-se por meio de um pedido pessoal de um militar. O general Richard B. Myers ligou para o âncora Dan Rather oito dias antes da data prevista para transmissão, pedindo mais tempo, disse Jeff Fager, produtor-executivo de 60 Minutes II.

Myers justificou o pedido afirmando que os reféns americanos em poder dos iraquianos correriam perigo ainda maior com a exibição das imagens. Fager disse ter segurado a reportagem o máximo possível para uma matéria quente. Segundo David Bauder [AP, 3/5/04], a revista The New Yorker estava se preparando para publicar uma reportagem detalhada sobre os supostos abusos. Foi aí que a CBS finalmente decidiu levar ao ar sua história. Ao final do programa, Rather revelou aos espectadores o atraso de duas semanas.

Enquanto isso, no Nightline

Na ABC, o Nightline de sexta-feira, 30/4, teve altos índices de audiência, registrando o recorde do programa para o mês de maio desde 2002: 30% mais telespectadores naquela noite do que no resto da semana e 22% a mais que na sexta-feira anterior. Em média, cerca de 4,5% dos aparelhos de TV nos grandes mercados americanos estavam sintonizando o polêmico programa, em que o âncora Ted Koppel fez um tributo aos soldados americanos mortos na guerra, lendo seus nomes e exibindo suas fotos.

De acordo com Lisa de Moraes [The Washington Post, 4/5], o que torna os números ainda mais impressionantes é o fato de Nightline ter tido tanta audiência mesmo sendo boicotado pelo Sinclair Broadcast Group, rede de transmissão que tirou o programa do ar para seis mercados importantes do país. Executivos do Sinclair resolveram bloquear a transmissão do programa da ABC por considerá-lo de tino político, indiretamente antiguerra.

Golpe com a mesma arma

Após o sucesso da ABC, a Fox News anunciou que também fará sua própria homenagem, tentando puxar pelo ponto fraco do programa de Ted Koppel. O apresentador Chris Wallace afirmou que o programa de seu colega errou ao omitir as causas das mortes de cada soldado.

‘Acredito quando Ted diz que a ABC não teve intenções políticas ou de alavancar o índice de audiência’, afirma Wallace. ‘Mas ao se analisar todos os fatores, acabou parecendo o contrário’.

Assim, às 10h da manhã de domingo, o Fox News Sunday listou as ‘conquistas das tropas americanas, como a captura de Saddam Hussein e a reconstrução da infraestrutura iraquiana’, nas palavras do âncora. ‘Não estamos dizendo que a missão dos EUA seja um sucesso incontestável ou que não haja sérios questionamentos’, disse Wallace. ‘Mas apenas listar os nomes de soldados mortos sem o contexto é como citar nomes de vítimas do Dia D sem falar o que a invasão conquistou’. Com informações de David Hinckley [New York Daily News, 6/5].