Saturday, 05 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Cobertura do ‘WSJ’ sofreu censura, sugere livro sobre Murdoch

Um livro sobre Rupert Murdoch que será lançado na próxima semana nos EUA sugere que repórteres do Wall Street Journal teriam ficado frustrados durante a cobertura do escândalo dos grampos telefônicos do tabloide News of the World porque teriam sido impedidos de reportar livremente sobre o tema. Os dois títulos – o News of the World foi extinto em 2011 – pertenciam à News Corp, presidida por Murdoch.

Segundo o jornalista Joe Pompeo, do site Capital New York – que leu trechos de Murdoch's world: the last of the old media empires (O mundo de Murdoch: o último dos antigos impérios de mídia, na tradução livre), escrito pelo jornalista David Folkenflik –, o livro conta como jornalistas do Journal “falaram a colegas” sobre matérias que teriam sido vetadas ou perdido informações e contexto, ou “acabaram presas no purgatório burocrático”. Folkenflik é correspondente de mídia da NPR e disse não ter recebido nenhuma cooperação da News Corp para escrever o livro.

O News of the World teve suas operações encerradas em meio às acusações de que teria grampeado caixas de mensagens dos telefones de milhares de pessoas, entre famosos e anônimos. De acordo com Murdoch's world, Robert Thomson, que era chefe de redação do Journal e hoje ocupa o cargo de chefe-executivo da News Corp, teria tentado evitar a publicação de um artigo supostamente danoso à empresa.

Discrepâncias

Em julho de 2011, o Guardian revelou que jornalistas no News of the World teriam acessado ilegalmente mensagens de voz de Milly Dowler, adolescente desaparecida e assassinada em 2002. O caso de Milly ganhou grande repercussão nacional. Uma equipe do Journal trabalhava em um furo sobre discrepâncias em diferentes versões de um artigo do News of the World sobre a menina, que havia sido publicado alguns meses antes. Uma versão inicial do artigo incluía “citações detalhadas” de mensagens de voz. Os repórteres do Journal descobriram também que um editor do tabloide havia destacado uma equipe de nove jornalistas para fazer uma apuração com base em uma mensagem obtida do celular de Milly. As informações contrariavam a versão da News Corporation de que a prática dos grampos ilegais seria limitada a apenas um repórter.

Folkenflik escreve que Thomson tentou, mais de uma vez, “eliminar a matéria”. Repórteres e editores do Journal começaram a suspeitar que o chefe de redação estava, intencionalmente, tentando estabelecer padrões de qualidade impossivelmente altos para que o texto acabasse não sendo publicado. A matéria acabou sendo publicada em agosto de 2011, mas as revelações sobre o News of the World perderam força: foram parar no nono parágrafo.