Friday, 03 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Com cautela, revista amplia liberdade de imprensa

Comandados pela mulher definida, em perfis publicados na imprensa, como ‘a mais perigosa da China’, 50 jovens jornalistas produzem a revista econômica considerada leitura obrigatória na capital do país, Pequim. Caijing, com circulação quinzenal de 80 mil cópias, investiga casos de corrupção governamental e fraude corporativa.

A força por trás da ousadia é a ‘perigosa’ Hu Shuli, de 52 anos, que, no passado, escrevia propaganda para o Diário dos Trabalhadores, publicação do Partido Comunista. A mudança de trabalho veio em 1998, e desde então ela tenta ampliar cada vez mais as fronteiras do jornalismo chinês.

A revista pertence a uma entidade estatal ligada – ainda que de maneira frouxa – à bolsa de valores do país. Isso significa que a publicação deve tomar cuidado para não irritar líderes governamentais e censores quando investiga corrupção dentro e fora do governo. ‘Caijing é bem vista ao esticar os limites’, afirma Perry Link, professor de estudos asiáticos da universidade de Princeton, EUA. ‘Mas deve ser cuidadosa, pois a flexibilidade que tem possui rédeas’, completa ele.

O fato é que o governo ainda possui amplo controle sobre a mídia nacional; artigos costumam ser censurados e publicações errantes, fechadas. A revista de Hu conseguiu driblar a censura aprendendo o que é jornalisticamente permitido, e quando é a hora de parar. ‘Sei como medir os limites’, diz a editora. Ela conta que pode chegar até a linha máxima de permissividade – e até esticá-la um pouco –, mas nunca a ultrapassa.

Mas não é só o know how de Hu o responsável pela agressividade da Caijing. ‘Enquanto a liberdade de imprensa é bastante restrita na China, o governo – talvez com a esperança de desenvolver um sistema de mercado capitalista aberto e forte – tem dado às publicações de negócios maior liberdade de ação’, explica David Barboza, em artigo para o New York Times [19/4/05].

Mesmo com esta abertura, ainda há certos tabus e proibições explícitas de assuntos determinados pelo governo; quando algum deles é abordado, as autoridades fazem questão de relembrar aos jornalistas da revista quais são os reais limites da liberdade de imprensa. Analistas de mídia afirmam que, ainda assim, Caijing conseguiu se tornar uma das primeiras publicações de peso na China a seguir práticas do jornalismo ocidental.