Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Drama da ABC enfurece liberais americanos

The Path to 9/11 (O caminho para o 11/9, tradução livre), docudrama exibido pela rede americana ABC no quinto aniversário dos atentados terroristas de 2001 nos EUA, causou controvérsia nas últimas semanas no país. Impulsionada por blogueiros, a polêmica sobre a minissérie de seis horas de duração – e orçamento de US$ 40 milhões – levou especialistas em terrorismo e importantes figuras políticas a se manifestarem, acusando-a de parcialidade e falhas na história contada.

Anunciado pela emissora como uma “transmissão histórica”, o programa dramatiza supostos erros operacionais e de inteligência nos governos Clinton e Bush que teriam permitido os ataques em 11 de setembro de 2001. O roteiro foi amplamente baseado em registros públicos, entre eles o relatório feito pela comissão independente que investigou os atentados.

Após distribuição de parte do docudrama para críticos, na semana passada, alguns espectadores começaram a acusar a série de parcialidade na representação da busca da administração Clinton por Osama bin Laden. O ex-presidente, pontuaram eles, é apresentado como distraído demais com o escândalo Monica Lewinsky para se importar o suficiente com o terrorista. A então secretária de Estado Madeleine Albright era mostrada dando dicas para o governo paquistanês sobre um futuro ataque americano, o que teria dado chance para que bin Laden fugisse.

Protestos

Clinton mostrou-se furioso com a minissérie, que também seria distribuída em escolas do país para ser usada como material de estudo. Carta assinada pelo chefe da Fundação Clinton e por um advogado do ex-presidente acusou o programa de ser uma “versão falsificada da história” e que “será mal interpretada por milhões de americanos”. “O conteúdo deste drama é falho e a ABC tem o dever de corrigir todos os erros ou tirar o programa completo do ar”, dizia o texto.

Entre os críticos da série, Richard Clarke, ex-assessor de contraterrorismo da Casa Branca, disse ter ficado chocado com uma cena em que funcionários do governo Clinton simplesmente desligavam o telefone enquanto um agente no campo de ataque esperava na linha por ordens. “Isso está a 180 graus do que aconteceu”, diz ele. “Então eu acho que teria que descrever [a cena] como profundamente falha”.

O grupo liberal Center for American Progress Action Fund afirmou, na semana passada, que havia recolhido 25 mil pedidos para que a ABC corrigisse ou cancelasse a série. “O programa culpa o governo Clinton pelos ataques de 11 de setembro enquanto ignora diversos erros e falhas do governo Bush”, declarou a organização.

Mudanças

Diante de tantos protestos, a ABC não viu outra alternativa a não ser fazer modificações à minissérie. Depois de muita discussão, a emissora exibiu versão editada da primeira parte, na noite de domingo (10/9). O tom acusatório de uma cena em que o conselheiro de Segurança Nacional de Clinton, Samuel Berger, negava-se a ordenar a morte de bin Laden foi diminuído. Outras cenas foram cortadas e algumas referências ao caso Monica Lewinsky foram eliminadas. Os executivos da ABC decidiram também mudar os créditos, que diziam que o filme era “baseado” no relatório do 11/9, para “baseado em parte” no relatório.

Em declaração, a emissora afirmou que a minissérie é “uma dramatização, não um documentário, baseada em uma gama de fontes, incluindo o relatório do 11/9, outros materiais publicados e entrevistas pessoais”, completando que “os eventos que levaram ao 11/9 levantaram, originalmente, grande debate. Desta forma, não é uma surpresa que um filme sobre estes eventos reviva este debate. Os ataques foram um momento importante em nossa história e não deveriam ser esquecidos”. Com informações de Jesse McKinley [The New York Times, 6/9/06], Ian Bishop [New York Post, 7/9/06], Scott Collins [Los Angeles Times, 7/9/06] e Reuters [11/9/06].