Friday, 03 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Jornais nos EUA acusados de cumplicidade com o governo

Organizações de notícias americanas enfrentam acusações de cumplicidade depois de vir à tona a informação de que teriam cedido à pressão do governo de Barack Obama para não revelar a existência de uma base secreta de aviões não-tripulados (“drones”) na Arábia Saudita.

Em meio a uma nova investigação sobre o sigilo da administração Obama sobre seu programa de assassinatos seletivos por aviões não-tripulados, analistas da mídia e especialistas em segurança nacional disseram que a revelação de que alguns jornais teriam cooperado com o segredo sobre a base de “drones” reabriu o debate sobre o equilíbrio entre a liberdade de informação e a segurança nacional.

Há pouco mais de uma semana, após a revelação na rede de TV NBC de um documento vazado do Departamento de Justiça sobre o caso do programa de assassinatos seletivos, o Washington Post afirmou que havia optado, anteriormente, por não publicar a localização da base a pedido do governo devido a preocupações com a segurança nacional. Em seguida, o New York Times publicou uma matéria sobre o programa de “drones” e um editorial explicando os motivos que o levaram a publicar a informação agora – mesmo sabendo de sua existência há um ano. Jack Lule, professor de jornalismo da Universidade Lehigh, na Pensilvânia, descreveu a decisão inicial de não publicar a localização da base como “vergonhosa e covarde”. “Acho que a razão real [para o sigilo] foi que o governo não quis envergonhar os sauditas – e a mídia americana foi covarde ao ser cúmplice disso”, afirmou.

Resistência

A administração Obama resistiu aos esforços para abrir seu programa à investigação pública. Um documento com o conselho legal da Casa Branca sobre o programa, incluindo o assassinato do cidadão americano Anwar al-Awlaki, foi sonegado da população e do Congresso, apesar das diversas solicitações para torná-lo público.

Na opinião de Lule, ao não publicar a localização da base quando tinha a informação, o New York Times falhou em sua responsabilidade com o público. “Temos dois parceiros no sigilo do programa: o governo e a mídia”, comentou.

Jane Kirtley, professora de ética e legislação de mídia da Universidade de Minnesota, relembrou que o Washington Post tem um longo histórico de consultar o governo sobre matérias que considera ter implicações de segurança. Na sua opinião, o padrão deveria ser publicar a informação. Parte do problema, diz Jane, é que o termo “segurança nacional” pode ser usado como pretexto para conter revelações embaraçosas ou dados que o governo não quer que caiam no domínio público. Por isso é vital que as organizações de mídia expliquem aos leitores o motivo da decisão tomada.