Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Seis exemplos do poder do jornalismo na sociedade

O papel crucial do jornalismo dentro da democracia é, muitas vezes, esquecido entre os debates partidários e a natureza confusa dos negócios. Mas qualquer um que pare para examinar exemplos recentes de sucesso jornalístico e de seus impactos ficará impressionado com a função vital da imprensa.

Apesar da Internet ajudar como uma ferramenta investigativa ou como uma plataforma para entrar em contato com o público, é necessário um repórter profissional para apurar uma história. Além do mais, transformar informação crua em um saber digestível para o consumo público é um trabalho difícil e criativo. E, é claro, precisa-se de vontade das autoridades para agir e formular respostas concretas após essas investigações.

Abaixo estão os finalistas do Prêmio Goldsmith de Reportagem Investigativa de 2013. São seis exemplos de como reportagens podem ajudar a eliminar corrupção, criar boas leis e mudar o jeito que vivemos para melhor.

Enquanto muitos veículos jornalísticos se esforçam para sobreviver financeiramente, existem poucas dúvidas de que os problemas sociais seriam esquecidos se não fossem por jornalistas inteligentes, persistentes e corajosos. O prêmio é coordenado pelo Centro Joan Shorenstein sobre a Imprensa, Política e Políticas Públicas de Harvard.

>> “Traindo nossas crianças”, do Atlanta Journal-Constitution

A série de reportagens de um ano sobre irregularidades nos testes padrão das escolas norte-americanas revelou que a pressão por notas altas levou professores e administradores de instituições de ensino de todo o país a trapacearem. As reportagens, baseadas na análise sem precedente de milhares de resultados de provas, suscitaram um debate nacional sobre os efeitos a longo prazo da lei americana que iniciou os testes nacionais.

Impacto: Três anos de cobertura intensa do jornal, seguida por uma investigação estatal, foram necessários para que autoridades reconhecessem que o sistema havia criado o pior caso de trapaça nos testes escolares dos EUA. As reportagens fizeram diversas escolas do país reavaliarem seus resultados. Investigações foram iniciadas em outras cidades.

>> “A iEconomia”, do New York Times

A série de reportagens revelou as duras condições em que trabalhadores chineses das fábricas da Apple vivem e trabalham; seus baixos salários e a alta rotatividade nas fábricas da empresa, os caminhos trilhados pela Apple para reduzir seus impostos e a conclusão de que os produtos da companhia não poderiam ser manufaturados nos EUA.

Impacto: Como resultado direto, mais de um milhão de trabalhadores da Apple na China conseguiram um aumento de 25%. Suas condições de trabalho melhoraram após as fábricas serem inspecionadas pela primeira vez. A Apple triplicou sua equipe de “responsabilidade social”, reavaliou como trabalhar com os fabricantes e pediu que competidores ajudassem a diminuir a jornada de trabalho na China. A empresa identificou publicamente seus fornecedores e anunciou que iria investir 100 milhões de dólares na fabricação de computadores nos EUA. Outras companhias como a HP e a Intel começaram a repensar suas relações com fornecedores internacionais. O Congresso americano abriu uma investigação sobre as táticas das empresas de tecnologia para reduzir seus impostos.

>> “Brincando com Fogo”, do Chicago Tribune

A série de reportagens investigativas mostrou como é enganosa a campanha de décadas das indústrias químicas e de tabaco que trouxe produtos retardadores de incêndio tóxico para a casa de milhares de americanos, apesar de não funcionarem conforme o prometido.

Impacto: Como resultado da investigação, o Senado dos EUA ressuscitou a legislação sobre produtos tóxicos e o estado da Califórnia reformulou as regras responsáveis pela presença de químicos perigosos em móveis vendidos por todo o país. A investigação do jornal gerou duas audiências no Senado e na Califórnia, o encerramento de um grupo de indústrias do produto e a suspensão da venda de colchões para bebês que continham o produto.

>> “A vergonha dos escoteiros”, do Los Angeles Times

O jornal tornou públicos milhares de arquivos documentando o abuso sexual de escoteiros por seus líderes, resultando em reformas pela garantia de proteção infantil.

Impacto: Alguns dias após as reportagens, mais de 100 mil pessoas se debruçaram sobre o arquivo de mais de cinco mil casos de abuso. A Associação de Escoteiros da América lançou uma análise dos arquivos, com a promessa de reportar a autoridade casos ainda não públicos. A associação também se desculpou com as vítimas e ofereceu pagar por suas terapias. Um pediatra foi forçado a desistir de sua licença médica após admitir molestar dois escoteiros.

>> “Wal-Mart no exterior”, do New York Times

Nestas reportagens, o diário mostrou que a conquista do mercado mexicano pelo Wal-Mart não só foi baseada em corrupção, como também revelou que seus executivos temiam pela exposição de suas práticas e tentaram mantê-las secretas.

Impacto: Como resultado, o Departamento de Justiça e a Comissão de Segurança de Comércio estão investigando as violações da lei federal antisuborno. As revelações suspenderam o crescimento de um movimento para abrandar a aplicação das leis anticorrupção. No México, autoridades estão investigando o Wal-Mart, o maior empregador privado do país, por corrupção. A companhia apressadamente notificou as autoridades federais sobre sua situação no México e reabriu uma investigação própria. Em novembro, o Wal-Mart anunciou que estava examinando violações em três outros países: China, Índia e Brasil. Em meio a processos e protestos, a rede varejista também reformulou radicalmente seus protocolos de investigação e vários funcionários ligados ao escândalo saíram da empresa. Até o final do ano, a investigação já havia custado quase 100 milhões de dólares aos cofres do Wal-Mart.

>> “Investigação de integridade estatal”, uma parceria entre o Center for Public Integrity, Global Integrity, Public Radio International e Investigative News Network

A investigação é uma análise sem precedentes das leis e práticas dos estados americanos para deter corrupção e promover transparência.

Impacto: A cobertura do projeto e suas reações foram massivas, e suas conclusões tiveram destaque em diversos veículos em todo o país, gerando iniciativas estaduais. Três estados aprovaram leis que melhoram o acesso a documentos e outros cinco propuseram leis que aumentam a transparência governamental. Ao menos sete outros estados iniciaram campanhas por reformas.