Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Os benefícios da apuração de dados coletiva

O crowdsourcing – obtenção de dados, informações ou ideias de um grupo de pessoas – pode trazer facilmente quantidades imensas de informação que de outra maneira não chegariam. Na esteira das bombas da maratona de Boston, vídeos e fotos de aplicativos móveis, obtidos a partir de crowdsourcing, contribuíram para as imagens disponíveis. Foi uma foto tirada com um iPhone que proporcionou a imagem mais nítida de um dos suspeitos. No entanto, o mesmo evento também mostrou os inconvenientes de se confiar em informações obtidas a partir de crowdsourcing sem verificação: pessoas inocentes foram identificadas como suspeitas dias depois das bombas.

Mas o crowdsourcing não está perto do fim e as pessoas irão continuar a especular e investigar notícias de última hora. Por isso, é fundamental que os jornalistas saibam quando e para que finalidades esse tipo de obtenção de informações é apropriado. Um bom trabalho jornalístico com crowdsourcing leva em consideração a validade, a qualidade e a propriedade das informações que os jornalistas estão acessando. Se for usado de maneira eficiente, é uma maneira única de envolver audiências e coletar informações que transmitam um quadro mais abrangente do que está acontecendo no mundo.

Por exemplo, uma equipe de dados da rádio pública WYNC, de Nova York, juntou-se ao Radiolab, da Rádio Pública Nacional, para criar o projeto Cicada Tracker [Rastreador de cigarras], que usa monitores de solo para prever o reaparecimento de cigarras após o ciclo de 17 anos de vida. Os monitores são colocados a uns 20 cm de profundidade e detectam mudanças na temperatura do solo. As cigarras começarão a emergir quando a leitura indicar uma temperatura constante de 18º.

“Há um espaço para falsas verdades”

“O que nós queríamos saber era ‘É possível distribuir simples sensores e pequenos controladores de microscópios para um bando de gente que irá participar e depois compartilhar os dados num relatório de volta para nós?’”, conta John Keefe, editor sênior de informação de mídia na WNYC. “E estamos mostrando que é possível.” Atualmente, há 125 monitores de solo no mapa interativo da WNYC e a equipe de Keefe examinou cuidadosamente as leituras de mais de 600 sensores enviadas por participantes da Costa Leste. “É um bom protótipo para mostrar o tipo de coisa que é possível fazer; podemos coletar dados que não estão sendo coletados, ou estão sendo coletados mas não estão disponíveis”, diz Keefe. “E se fosse o caso de algo mais crucial, como, digamos, poluição sonora, ou poluição do ar, ou algum tipo de químico no ar, talvez mesmo radiação?”

A União das Liberdades Civis de Nova York (NYCLU) acredita que esteja rastreando uma informação crucial e que tenha tido sucesso com o aplicativo Stop and Frisk Watch. Ele foi lançado no dia 6 de junho do ano passado e até meados de fevereiro haviam sido feitos mais de 30 mil downloads.De lá para cá, foi baixado mais 30 mil vezes. O aplicativo permite que os usuários documentem suas experiências de “parar e registrar” [stop and frisk], fazendo pequenos vídeos que são automaticamente enviados para a equipe na NYCLU. Quando as gravações terminam, os usuários recebem imediatamente uma pesquisa sucinta que lhes pede mais informações sobre o incidente, mas isso é facultativo. Jennifer Carnig, diretora de comunicações da NYCLU, diz que há formas semelhantes para os jornalistas capitalizarem esta amplamente disseminada tecnologia móvel.

“Quando todo mundo carrega consigo uma câmera de vídeo o tempo todo, o potencial não tem limite”, afirma ela. “Mas é claro que há uma desvantagem porque, quando todo mundo entrega o material, é difícil saber em cima da hora aquilo que é válido; há um espaço potencial para falsas verdades.” Com tantos dados disponíveis, é importante pensar sobre que tipo de “controles e contrapesos” poderiam ser usados para garantir que aquilo que é apresentado seja o mais preciso possível, diz Jennifer.

Fuçar e descobrir o que é verdade

No New York Times, conta Lexi Mainland, editora de mídias sociais, a obtenção de informações por crowdsourcing – seja comentários de leitores, fotos ou informação adicional – é supervisionada por uma cuidadosa avaliação editorial. As vantagens dessa abordagem podem ser vistas na cobertura que o NYT fez das bombas de Boston. Lexi trabalhou em conjunto com repórteres e editores para criar um gráfico interativo, baseado numa única estrutura congelada das imagens de vigilância da linha de chegada – a que capturou o momento exato da explosão da primeira bomba a partir da perspectiva daqueles que estavam lá.

Segundo a editora, os repórteres e editores do Times tentaram identificar o maior número de pessoas possível na imagem da estrutura congelada. Em seguida, ela publicou uma mensagem no blog The Ledepedindo a ajuda dos leitores. Quatro das 19 mensagens do gráfico interativo final vieram dos esforços de crowdsourcing de Lexi. O crowdsourcing “não só abre uma janela para uma matéria que, de outra maneira, não teríamos, como também promove uuma ligação mais profunda entre nós e as pessoas que consomem o nosso jornalismo”, diz ela.

Mas só por ser fácil de conseguir, nem sempre significa que é a resposta, acrescenta Lexi. Ela acredita que deve ser creditada tanta consideração ao crowdsourcing quanto a qualquer outra forma de coleta de dados. “Acho que hoje, mais do que nunca, as organizações de mídia deveriam estar intervindo para fazer o que sabem fazer melhor, que é fuçar e descobrir o que é verdade e o que há de concreto e desvendar uma história de verdade numa massa de informações”, diz.

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Katie Akagi e Stephanie Linning são alunos da Escola de Jornalismo da Universidade da Columbia