Sunday, 05 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Emissora de TV não pode agir como partido político

Na terça-feira (23/8) o Jornal da Band abriu novamente espaço para o general Augusto Heleno falar aos telespectadores. Ele foi apresentado como “especialista em assunto militares” convidado para comentar a guerra na Líbia. Há bem pouco tempo, em numa série de reportagens sobre a Amazônia, lá estava o general Heleno sendo entrevistado como “especialista em questão indígena e de fronteiras”.

Ao que tudo indica, a Band parece disposta a usar este militar da reserva como um verdadeiro canivete suíço. Sorvete novo no mercado? Com a palavra, o general Heleno. Disputa de Miss Universo? Comentários do general Heleno.

No filme Courage Under Fire, há uma cena memorável em que o tenente-coronel Nathaniel Serling (Denzel Washington) é interpelado num bar por um jornalista. O interlocutor aponta para a TV e diz a Serling que o general Norman Sharzkof parece estar em todo lugar após a Guerra do Golfo. Na TV está sendo veiculada uma matéria com o comandante da campanha militar vitoriosa que expulsou as tropas de Saddam Hussein do Kwait. Na época, Sharzkof chegou a ser candidato a presidência dos EUA.

O general Heleno não venceu nenhuma guerra. Mesmo assim, tem tido tanto espaço na TV Bandeirantes quanto Sharzkof teve nas TVs norte-americanas na década de 1990. O que a Band realmente pretende? Construir uma imagem pública do general, criar as condições indispensáveis de visibilidade para que ele possa ser candidato nas próximas eleições? Se este for o caso, a Justiça Eleitoral deveria começar a prestar mais atenção nas atividades da Band. Retransmissora de TV não é e não pode agir como partido político, nem fazer propaganda eleitoral fora de época.

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[Fábio de Oliveira Ribeiro é advogado, Osasco, SP]