Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo

FORMADOR DE OPINIÃO

Carlos Heitor Cony

Palavras, palavras, palavras

‘Em 1998, estava na França e fiz parte da numerosa tribo de palpiteiros que comentavam as partidas daquela Copa do Mundo. Não fiz exceção à regra, afinal, era o meu oficio.

Estranhei, contudo, o número daquilo que costumam chamar de ‘formadores de opinião’.

Eram tantos a formar opinião que não sobrava ninguém para ter sua opinião formada por um deles -eu, inclusive.

Este ano, estou do outro lado da cerca, e mais uma vez me admiro com a poluição que domina as TVs, rádios, jornais, revistas e internet.

Além dos profissionais, há os ex-jogadores que também dão palpites; eles conhecem melhor o assunto, embora nem sempre conheçam a gramática. Mas não é isso o que se espera deles.

São, de longe, os melhores, pois sabem como as coisas se passam no campo, identificam melhor uma falta, um impedimento, uma falha do juiz, uma burrice cometida por um atacante, a bobeada fatal de um zagueiro.

Mesmo assim, acho que há exagero de comentários. Falo isso por mim: concordo imediatamente com as opiniões que coincidem com as minhas e considero asnático qualquer comentário que não aprovo. Uns pelos outros, acho que todos somos assim, queremos ouvir o que pensamos. Dificilmente mudamos de opinião por conta de argumentos contrários.

Mas que há poluição opinativa, sobretudo em tempos de Copa do Mundo, há. E chega a ser cansativa. Impossível acompanhar o que a mídia despeja em cima de nós.

Evidente que este comentário é o de um ouvinte, um simples espectador. Na Copa da França, fiz parte da alegre banda que explicava por A mais B por que o Brasil poderia ter ganho o pentacampeonato.

Não convenci ninguém, nem mesmo a mim.’

 

REFORMA

Folha lança domingo pacote de novidades

‘A partir do próximo domingo, a Folha circulará com uma série de novidades, tanto visuais como no conteúdo. A reforma gráfica e editorial que estreia no dia 23 abrange o jornal como um todo, da Primeira Página aos suplementos semanais. Novos cadernos, novas seções, novos colunistas serão incorporados ao jornal.

Entre as novidades está o caderno Ilustríssima, que circulará aos domingos, em substituição ao caderno Mais!, que se extingue depois de 18 anos.

Dedicado à alta cultura, aos assuntos científicos e a reportagens de maior fôlego, o Ilustríssima pretende se destacar pela narrativa de qualidade, desprovida dos jargões acadêmicos.

O caderno reunirá ensaios, textos de ficção, dramaturgia, poesia e quadrinhos, entre outras novidades. O Ilustríssima será editado pelo jornalista e tradutor Paulo Werneck, 32, que já trabalhou em editoras como a Cosac Naify e a Companhia das Letras.

‘O caderno aposta na convivência de gerações, de linguagens e pontos de vista divergentes para produzir um jornalismo cultural que seja crítico, reflexivo e de leitura prazerosa’, diz Werneck.

Totalmente novo, o projeto visual do caderno foi elaborado pelas designers Renata Buono e Laura Salaberry, da editoria de Arte da Folha, e contará com a participação de artistas especialmente convidados.

Outras novidades

Entre as novidades da Folha, há outros lançamentos. Um deles é o caderno Tec, que circulará às quartas-feiras, em substituição ao Informática.

Voltado para o mundo virtual tecnológico, o caderno pretende fazer uma cobertura extensiva de redes sociais, novos games, tendências de mercado e negócios, além de realizar entrevistas e perfis com personagens da área.

O Tec, editado pelo jornalista Rodolfo Lucena, terá novos colunistas e dará atenção especial a testes de novos produtos e indicações de compras.

A partir do dia 6 de junho, os leitores da Folha que moram na capital paulista ganharão uma nova revista dominical. Ela substitui a Revista da Folha, extinta recentemente. Chama-se São Paulo e trará reportagens sobre a cidade e um extenso roteiro gastronômico e cultural -com bares, restaurantes, cinema, teatro, shows, exposições e programação infantil e GLS. As dicas serão distintas das publicadas às sextas no Guia da Folha.

Além disso, a revista São Paulo incorpora o que havia de melhor no Vitrine, o suplemento de consumo, já extinto. Liquidações, tendências, produtos novos e críticas de lojas voltam ao jornal, remodelados.

São Paulo, editada pela jornalista Beatriz Peres, subordinada a Cleusa Turra, diretora do núcleo de Revistas do jornal, trará reportagens sobre tendências da cidade, urbanismo, arquitetura, trânsito, meio ambiente, cultura e personagens da vida paulistana. Terá ainda novos colunistas e um projeto gráfico inteiramente novo, a cargo da designer Lillian Kim.

Mudanças

O suplemento Equilíbrio, que circula às quintas, passará a ser publicado às terças, também com novidades. Por essa razão, deixará de circular excepcionalmente nesta semana.

Desde a primeira semana de abril, as redações da Folha e da Folha Online foram unificadas e passaram a trabalhar em sinergia, sob o mesmo comando. A unificação permite que as duas plataformas noticiosas (o papel e a tela) passem a conversar de maneira mais orgânica, em benefício dos leitores.

No próximo domingo, o jornal também passará a circular com novo visual. Será a estreia da reforma gráfica, que vem sendo gestada desde setembro do ano passado, sob a coordenação da designer Eliane Stephan, que trabalha em colaboração com a editoria de Arte da Folha.

A reforma, a maior desde que a Folha passou a ser totalmente impressa em cores, em 1996, tornará o jornal mais fácil de ler e dará ao produto uma identidade visual mais homogênea.

‘Será um passo importante na direção de um jornalismo mais conciso e ao mesmo tempo mais agradável, que atenda melhor às necessidades do leitor’, disse Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha.’

 

Alcino Leite Neto

+mais! (1992 – 2010)

‘Quando o Mais! foi lançado, em 16 de fevereiro de 1992, uma das brincadeiras que mais ouvi, dentro e fora da Redação, indagava: ‘O caderno chama-se Mais! ou chama-se ‘Menos’?’.

A reclamação, a princípio, fazia sentido.

O veículo foi criado para reunir num só lugar dois produtos bem-sucedidos do jornal: ‘Ciência’ e ‘Letras’. Também agregava assuntos da Ilustrada, que deixou de circular aos domingos, e uma seção que existia em Mundo, chamada ‘Multimídia Especial’.

A criação do número 1, sob o comando de seu talentoso primeiro editor, Marcos Augusto Gonçalves, foi uma aventura que dificilmente esquecerei.

Como fazer caber em suas 18 páginas parte do conteúdo habitual de todos aqueles cadernos suprimidos, mas sobretudo realizar uma ‘renovação do jornalismo cultural brasileiro’, como o Mais! fora anunciado nas páginas do jornal?

Em oposição ao espírito acadêmico e literário que predominava nos cadernos culturais semanais da época, este foi erguido sobre o seguinte tripé: mais jornalismo, mais atenção aos temas atuais e mais intervenção polêmica no debate sociocultural (e mesmo político) brasileiro.

Na conta do jornalismo, praticamente todos os principais repórteres do jornal escreveram matérias de envergadura para o Mais!. O empenho dos editores Adriano Schwartz e Marcos Flamínio Peres fez adensar essa estratégia, que culminou nos anos recentes nas premiadas reportagens de Mário Magalhães e Joel Silva (‘Os anti-heróis – O submundo da cana’, 24/8/2008) e Raphael Gomide (‘O Infiltrado -PM por dentro’, 18/5/2008).

O caderno também cuidou de levar para o jornalismo cultural sofisticado os princípios que norteiam o ‘Manual da Redação’ da Folha, inclusive no que diz respeito aos modelos de edição do jornal, com uso intensivo de recursos didáticos, mapas, gráficos e estatísticas.

Futurismo

A preocupação com trazer temas atuais à pauta, por sua vez, foi um modo de evitar a tendência ao passadismo e à museificação, que continuam sendo verdadeiras pragas do jornalismo cultural. Com isso, o semanário abriu-se a assuntos muito variados e heterodoxos, às vezes futuristas.

Foi o primeiro espaço da grande imprensa a levar a sério a internet, quando a web ainda era apenas uma fantasia (17/7/ 1994, em reportagem visionária de Maria Ercilia). Abro a edição de 9/4/2000, e vejo que o assunto de capa (‘O livro morreu! Viva o e-livro!’) traz uma reportagem minuciosa sobre as experiências com livros eletrônicos -dez anos antes do Kindle e do iPad.

Deixar o caderno bem próximo da atualidade exigia um trabalho imenso. Para começar, era fundamental ao editor e à equipe ter um sentimento acentuado de pertencimento à sua época. Precisávamos também ser tremendamente ágeis, porque não interessava ao Mais! a atualidade abstrata, mas o que havia acontecido na última semana. Recordo que, inúmeras vezes, edições já prontas foram substituídas por outras, na última hora, para trazer à capa um assunto mais quente e mais relevante no momento vivido pelo leitor.

Com isso, a partir de exemplos concretos e no calor dos acontecimentos, os principais debates do final do século 20 e do início do século 21 foram abordados: o fim do comunismo, a crise da esquerda, a globalização, o multiculturalismo, as políticas afirmativas, o colapso da psicanálise, a neurociência, a bioética, a entrada na era digital, o terrorismo e a política securitária pós-11 de Setembro, o neoconservadorismo etc. etc.

A ambição de intervir no debate sociocultural e político brasileiro também excitava muito os que participavam do caderno. Um dos ‘momentos culminantes’ desse esforço jornalístico foi o debate desencadeado pelo economista José Luis Fiori, em reportagem de Fernando de Barros e Silva (de 3/7/1994), sobre a influência das diretrizes neoliberais do Consenso de Washington no plano de governo do então candidato presidencial Fernando Henrique Cardoso. Foi uma gigantesca polêmica, e o próprio FHC interrompeu a campanha para redigir uma longa réplica à reportagem.

Liberdade

À parte o tripé que associava jornalismo, atualidade e intervenção, o Mais! tinha outra base editorial, nos bastidores: mais irreverência, mais reflexão e mais liberdade. Das irreverências, dou apenas um exemplo (há vários).

Dezenas de pessoas cancelaram sua assinatura do jornal no dia seguinte à publicação de uma antologia de poemas dedicados à vagina.

Para piorar, a edição (20/7/ 1997) estampava na capa o quadro ‘A Origem do Mundo’, de Courbet -o ‘close’ pictórico de uma genitália-, numa disposição gráfica arrojada e elegante, criada por Renata Buono, a designer que sempre esteve por trás da excelência visual do caderno.

Outra atitude foi a de nunca considerar o leitor um néscio e sempre acreditar que ele se interessa pelas reflexões mais complexas e mais ousadas. A editoria evitou a todo custo cair no anti-intelectualismo ou na aversão às ‘vanguardas’ das artes e do pensamento -ressentimentos que atingem com frequência o meio jornalístico.

Assim, abriu-se à colaboração inestimável de um numeroso elenco de professores, intelectuais, escritores, dramaturgos, cineastas e artistas plásticos, entre outros profissionais, do Brasil e do exterior, dos mais diferentes matizes políticos e das mais diversas correntes culturais. Sem eles, teria sido apenas um caderno cultural qualquer.

Foi a tradição editorial da Folha de um jornalismo polifônico, aberto e tolerante -tradição erguida na luta contra a ditadura militar- que inspirou e alimentou essa dinâmica colaborativa, multidisciplinar e calcada na liberdade de pensamento.

É esta mesma liberdade, creio, o principal legado do Mais! ao novo e ilustríssimo caderno que o substituirá, a partir do próximo domingo.

ALCINO LEITE NETO foi editor do Mais! de 1994 a 2000.’

 

INTERNET

Murdoch barra reprodução de jornais na web

‘A News Corporation, de Rupert Murdoch, conseguiu impedir que o site Meltwater, que monitora a internet e avisa as empresas quando elas são citadas, reúna o conteúdo do britânico ‘The Sun’.

A News exige pagamento dos agregadores para liberar as notícias.

A versão on-line do ‘Times’ também já havia barrado o Meltwater.

Após o bloqueio, a Meltwater divulgou comunicado em que diz não ter se negado a pagar licença de 10 mil libras para a empresa de Murdoch, e sim se recusou a ceder ao entendimento de que cada cliente que possui deva contribuir com 58 libras ao ano.

O empresário confirmou que está próximo de implementar sistemas de bloqueio nas versões digitais dos seus jornais para impedir a reprodução não autorizada de conteúdo.

De acordo com Murdoch, os agregadores de notícias (como o Google News) deveriam colocar na internet só a manchete dos textos, algumas frases e a opção para que o usuário assine a publicação.’

 

CRIME

Justiça aumenta pena de dois envolvidos

‘O TJ-SP aumentou a pena de dois dos sete envolvidos no sequestro e morte do jornalista Ivandel Machado Godinho Jr., em 2003. Fábio Pavan do Prado e Wilson de Moraes da Silva haviam sido condenados a 12 anos. Após denúncia do Ministério Público, a pena passou a 43 anos e 360 dias-multa. Godinho era dono da In Press Porter Novelli, grande assessoria de comunicação do país.’

 

CAMPANHA

Folha adota para eleição presidencial

‘A Folha passou a usar a vinheta ‘Presidente 40’ desde o domingo passado porque 39 pessoas já ocuparam a Presidência, de acordo com o site oficial do governo federal. O sucessor de Lula será, portanto, o 40º presidente.

A contagem leva em conta os seis integrantes de duas juntas militares que assumiram o poder, em 1930 e 1969.

Júlio Prestes (eleito diretamente em 1930) e Tancredo Neves (eleito indiretamente em 1985) não são incluídos, pois não tomaram posse. A lista não inclui vices que só assumiram o posto nas ausências dos titulares.’

 

TELEVISÃO

Audrey Furlaneto

Jogo de damas

‘‘Uma atriz começa. E permanece sempre inacabada’, define Cleyde Yáconis, 87 anos (90 peças de teatro).

Ela estende a Fernanda Montenegro, 80 (mais de 60 espetáculos), o que diz ser seu ofício: nunca estar pronta. ‘Que nunca fiquemos prontas! Assim continuamos procurando.’

Na procura, as duas se cruzaram várias vezes. Nos anos 50, trabalharam juntas em teleteatros dirigidos por Antunes Filho. Chegaram a encenar os mesmos textos em palcos diferentes e figuraram em elencos das mesmas novelas da Globo.

Mas só agora, 50 anos depois das atuações na TV Tupi, voltam a dividir a cena. Estrelas de ‘Passione’, novela para a faixa das 21h que a Globo estreia amanhã, Fernanda e Cleyde veem na televisão a ‘possibilidade de convívio’ e o caminho para o trabalho de qualidade dentro da ‘indústria pesada’.

Ambas costumam trabalhar nas novelas assinadas por Silvio de Abreu, autor de ‘Passione’. Para Cleyde, os textos do novelista oferecem ‘menos riscos de equívocos’. Fernanda avalia o trabalho como ‘um velho e bom melodrama’.

‘Meu papel é muito interessante. A personagem é humilhada todo minuto e ainda culpada de tudo’, diz Fernanda.

Quanto à elaboração do texto em cena, as atrizes tecem elogios uma à outra. ‘Cleyde é uma mulher com um repertório deslumbrante, totalmente realizada: pela qualidade da artista que é, pela dedicação quase religiosa ao teatro e pelo talento enorme’, diz Fernanda.

Cleyde segue o mote e enaltece a amiga: ‘Fernanda tem uma carreira consolidada com pesquisas, procuras, aperfeiçoamentos. Um trajeto, sabe? É sólida porque é construída’.

Ela completa: ‘Nós temos afinidades. Minha carreira também foi construída. Sei que, se nós duas não nos encontrássemos, a vida nos aproximaria. Pela mesma maneira de encarar a profissão’.

As duas atrizes atenderam a pedido da Folha para falar sobre o reencontro na televisão, a profissão e as aflições do amor, da solidão e de envelhecer.’

 

Atrizes citam Silvio de Abreu como motivo para retorno à TV

‘Na tarde de uma terça-feira, ela surge em um camarim da novela ‘Passione’ de peruca branca cacheada e expressão austera. ‘Sejamos rápidas’, diz à repórter. ‘Não explique nada, apenas faça as perguntas.’

Enquanto o cabeleireiro remove a peruca, Cleyde Yáconis, 87, diz que ‘envelhecer é viver’.

‘Outro dia estava no estacionamento de um shopping com a irmã, procurando uma vaga -sim, eu guio-, quando ela apontou: ‘Olha aí uma vaga’. ‘Não, essa aí é para idoso’, eu respondi.’

A atriz cai na risada. ‘Não é maravilhoso? Eu ria tanto! Sou eu! Estou viva! É a prova de que estou bem. Por enquanto, não há nada que a idade me impeça de fazer’, afirma.

Apesar da vitalidade, Cleyde sente algumas mudanças:

‘Parece que meu tempo mudou. Faço as mesmas coisas, mas talvez demore mais um pouco. É nisso que eu sinto mais a quarta idade, porque já não é a terceira. Estou com 87! Tem problemas, mas é preciso bom humor’.

Em parte, é a vontade de manter o bom humor que leva Cleyde de volta à televisão. Também foi fundamental o fato de o convite vir para uma trama de Silvio de Abreu, com quem, diz ela, ‘corre-se menos riscos de equívocos’.

‘Fazer coisa ruim é triste.’ E a televisão anda muito ruim? ‘Nem me pergunte. Faço muito pouco e vejo menos ainda.’

Se faz novela agora é porque ‘é divertido’: ‘Quando você usa a TV, é bom. Sempre tem um aprendizado. Por exemplo, estou contracenando com a Fernanda. É uma oportunidade que não se perde, além de ser gostoso reencontrar a amiga’.

O tempo sem angústia

Cleyde diz não se lembrar de ter dividido com Fernanda Montenegro alguns dos teleteatros dirigidos por Antunes Filho. Seu vasto currículo permite a confusão: a atriz, irmã de Cacilda Becker, fez 90 peças.

‘O teatro é a síntese da humanidade, reflete o que acontece no mundo: as evoluções, a moral, a ética, a política cultural, tudo isso. É um templo sagrado e, se para, é porque o mundo parou’, diz.

E é por tê-lo como espaço sagrado que a atriz se diz ‘muito magoada’ com a situação atual das artes cênicas.

‘Quando eu comecei, fazíamos dez sessões por semana. Hoje são dez sessões por mês’, lamenta ela, que, como Fernanda, não vê com bons olhos a dependência das leis de incentivo.

‘Politicamente, tem essa esmola, com chapéu na mão… Quando produzi, fiz com meu dinheiro. Foram oito espetáculos. Parei porque não quero enlouquecer.’ E reclama da ausência de plateia: ‘A evasão do público é uma tristeza’.

Mas nem isso, diz a atriz, é motivo de angústia. Cleyde não teve filhos, nem pensou em tê-los quando esteve casada com Stênio Garcia (por 11 anos).

‘Não os teria apenas para satisfazer a ideia de que a mulher deve procriar’. Vive com a ‘irmã Preta’, que cuidou dos filhos e netos de Cacilda Becker. ‘Ela agora é minha babá!’, diz.

Outra companhia são as duas cadelas na chácara onde vive, a 30 km de São Paulo.

‘Não posso ter angústia. Alguém pode ter ansiedade com 200 roseiras? Alguém pode sofrer com árvore, passarinho, cachorro? Tenho árvore e animal, o suficiente para não ter angústia.’’

 

 

 

‘Desde que você não entregue a alma [à TV] (…), é uma expressão de cultura industrializada e eletrônica’, diz Fernanda Montenegro

‘Ela surge pontual, às 22h, no hotel vizinho à sua casa, em Ipanema, zona sul do Rio. Elegante, ajeita o lenço no pescoço e diz em tom grave: ‘Meus amores, me desculpem a hora. Estou gravando desde cedo’.

Pouco depois, Fernanda Montenegro volta a falar da aflição com as horas que passam: ‘Os tempos mudaram. Tudo ficou sem tempo’.

Ela tem 80 anos, mas quando a repórter lhe pergunta o que é envelhecer, faz uma pausa, olha para as mãos no colo:

‘Não sei, não sei. Há dias em que estou muito velha. Há dias em que estou uma adolescente. Há dias em que os pés doem, os artelhos doem muito’.

‘É claro que tenho que usar óculos nessa idade, mas tem muita gente moça que usa, não tem? Talvez eu esteja, não sei, parece que não, perdendo a audição perfeita. Mas tem gente moça que não ouve bem.’

Continua: ‘Há uma gama de falências na dita velhice que tem gente que não é velha e tem. Por enquanto, me sinto inteira’.

Fernanda começa a gravar a novela ‘Passione’, de Silvio de Abreu, de manhã e conclui as cenas à noite. ‘Quero que você escreva isso: a televisão é uma indústria pesada’, diz, enfática.

‘Ela tem importância no setor produtivo do país. Com seu melhor e com seu pior. É um mercado violento. E, desde que você não entregue a alma, que entregue seu trabalho com qualidade, é uma expressão de cultura industrializada e eletrônica.’

Fernanda estava distante das novelas desde ‘Belíssima’ (05), também de Silvio de Abreu, novelista que considera autor de qualidade, ao lado de Gilberto Braga, Benedito Rui Barbosa, Manoel Carlos, Aguinaldo Silva e João Emanuel Carneiro.

Fora desta lista e de minisséries como ‘Hoje é Dia de Maria’ e ‘Agosto’, diz que ‘há uma crise de dramaturgia na televisão’. ‘Tem muito lixo.’

Sem tempos mortos

Quando os tempos eram outros, Fernanda passava períodos só na TV -como de 1951 a 1953. Só depois, relembra, fez teatro. A diferença, explica, é que naquela época encenavam-se peças inteiras na TV. ‘Foram mais de 400 teleteatros’, diz.

Não há, no entanto, algo que ela chama de ‘como era verde meu vale’ no discurso. ‘A dinâmica de hoje requer rapidez. Não acho que seja bom, mas é o que é. São os tempos do não pensar, só executar. O teatro é um artesanato muito caro.’

‘Não pode ser enlatado, não é um produto que você compra e põe para funcionar a hora que quiser, como um DVD. Houve uma mudança na inquietação cultural do país. O teatro foi se afunilando ficando totalmente dependente do erário público.’

Viúva há um ano e oito meses -seu marido, o ator e diretor Fernando Torres, morreu em 2008-, a atriz discorre sobre a solidão: ‘Às vezes ela invade violentamente a gente. E às vezes, não sei onde ela está’.

Fala também sobre o amor: ‘Não sei defini-lo, me sinto constrangida. É tão importante o amor que é melhor não definir, entende?’- e pede à repórter para voltar ao outro tema.

‘A tragédia é quando se morre jovem. Você paga um preço para viver que é ficar velho’, diz Fernanda.

‘É melhor ficar velho e ir tocando, como se a velhice não existisse. Não é ignorá-la. É encará-la, respeitá-la e não denegri-la. [Leva as mãos ao rosto] Ah! Que loucura é a vida’, e ri.’

 

Clarice Cardoso

Semana reúne 12 finais de temporada

‘Bem-aventurados os fãs brasileiros de ‘Lost’, porque deles é a menor espera. Ao menos eles descobrirão (quase) todos os mistérios da ilha apenas dois dias após os americanos.

Até domingo que vem, quando acaba o programa nos EUA, as temporadas de ao menos outras 12 séries chegarão ao fim. Hoje, o pontapé inicial será dado por ‘Desperate Housewives’ e ‘Brothers & Sisters’ (veja quadro nesta página).

Os brasileiros que veem a primeira desvendarão o passado de Angie (Drea de Matteo) em 17 dias, mas só ficarão sabendo o destino do senador McCallister (Rob Lowe) na segunda dentro de, no mínimo, dois meses e meio.

É que ‘Desperate’, como ‘Grey’s Anatomy’, teve a estreia dos capítulos inéditos adiantada em 2009. Sorte dos fãs de Meredith Grey (Ellen Pompeo), que vão se despedir da médica depois de 11 dias.’

 

Mônica Bergamo

As marcas roxas de Aline

‘A atriz Alinne Moraes, 27, passou a semana confinada nos estúdios da TV Globo, gravando os últimos capítulos da novela ‘Viver a Vida’. Em um dos intervalos, ela conversou com o repórter Jairo Marques, coordenador-assistente da Agência Folha. Cadeirante, ele é também autor do blog ‘Assim Como Você’, da Folha Online.

FOLHA- Havia uma expectativa de que a sua personagem, Luciana, voltaria a andar.

ALINNE MORAES – As pessoas precisam entender que, se ela voltasse a andar, a gente iria frustrar milhares de pessoas com deficiência porque elas perderiam a identificação com a alegria e a forma de encarar a vida da personagem. Os cadeirantes são felizes, namoram, trabalham, curtem a vida, têm família. Só precisam de condições para fazer tudo isso.

FOLHA – As semelhanças dos gestos das mãos, dos ombros, caracterizados por você, impressionaram pela semelhança com os de um tetraplégico. Como foi seu aprendizado?

ALINNE – O Jayme [Monjardim, diretor da novela] colocou para trabalhar comigo fisioterapeutas, terapeutas e médicos. Mas só quando conheci a Flávia Cintra [jornalista que inspirou Manoel Carlos] tive consciência de que cada pessoa com deficiência tem restrições físicas e maneiras de agir diferentes. Fui várias vezes à casa dela, em SP. Ela me ensinou tudo: como pentear os cabelos, como tomar banho, como tocar a cadeira de rodas. Ficamos extremamente ligadas. Mas teve um momento em que tive de romper o cordão umbilical e encontrar a Luciana. Ela era modelo, vaidosa, agitada. Tive de levar isso em consideração para compor os gestos.

FOLHA – Teve reflexos emocionais na sua vida fazendo a personagem?

ALINNE – Não sabia que seria tão difícil, tão denso. Quando a Luciana sofreu o acidente, fiquei semanas gravando cenas sobre uma prancha de imobilização, em hospitais, parada numa cama. Era angustiante, doloroso. Cheguei a ficar deprimida, com partes do corpo roxas. Sou hiperativa e gravar com aqueles aparelhos todos no meu corpo [oxigênio, controlador de batimentos cardíacos] me deixava tensa. Fiquei nervosa e exausta com um monte de gente me tocando o tempo todo, com o elenco ao redor me dando força, com a dependência para fazer qualquer coisa. Não me deixavam sozinha nunca, tinham dó de mim naquela situação. E eu me sentia o Incrível Hulk, pronta para explodir (risos). Me relataram as mesmas sensações que um cadeirante sofre após um trauma.

FOLHA – Mudou a sua forma de ver um cadeirante?

ALINNE – Totalmente. Depois que você experimenta um processo de superação, entende que o mundo paralisou, que a cabeça de algumas pessoas também está paralisada por não enxergarem que é preciso ter acesso para todos, respeito às diferenças. Essa porta da acessibilidade tem de ser aberta com urgência. Há milhares de adolescentes, de jovens vivendo em cadeiras de rodas que não podem sair de casa porque a calçada é ruim, porque não há transporte de qualidade, porque não há rampas. Mas acredito que isso começou a mudar. As barreiras mais difíceis enfrentadas por um deficiente, porém, são as de atitude, de aceitação. Essas vão demorar mais para serem quebradas.

FOLHA – A sua personagem acabou ganhando mais destaque do que a Helena, da Taís Araújo.

ALINNE – Desde o começo a própria Taís me disse que a Luciana seria uma personagem incrível, que teria muita repercussão. E vibrou comigo. Somos amigas. Ela viu primeiro do que eu que o papel era sensacional. Eu tinha medo de que fosse só sofrimento, tristeza. Não imaginei que a Luciana seria tão feliz, que conquistaria tanto as pessoas. Errei completamente.

FOLHA – A realidade financeira da Luciana contrastou com a da maioria dos deficientes no Brasil.

ALINNE – Por mais que ela tenha vivido uma realidade Pollyanna, ela mostrou que é possível sair de casa, mostrou que existem equipamentos que podem melhorar a qualidade de vida das pessoas. Pouca gente sabia que cadeirante poderia andar de bicicleta, a handbike, que tinha táxi acessível, que tem tecnologia para facilitar o dia a dia. A busca de informações na Globo por objetos que Luciana usava bateu recorde de ligações.

FOLHA – O ibope da novela não decolou como esperado.

ALINNE – A gente se sente realizada pela repercussão que o trabalho teve, pela emoção que causou nas nossas famílias e em nós mesmos, pela história da Luciana, que é inédita em uma novela. Todo mundo fala pra gente sobre as conquistas que ‘Viver a Vida’ levou para os deficientes. Demos um grande passo para a inclusão no país.

FOLHA – A Luciana foi seu personagem mais importante?

ALINNE – Com certeza. Tive um crescimento pessoal muito grande, no meu entendimento sobre a vida, na generosidade para levar o cotidiano. Aprendi a valorizar coisas simples que a gente deixa passar batido. É emocionante quando eu vejo uma criança com uma borboleta colada nas costas da cadeira de rodas, imitando a ‘Luciana’.

‘Fiquei semanas gravando cenas sobre uma prancha de imobilização, em hospitais, parada numa cama. Cheguei a ficar deprimida, com partes do corpo roxas’

ALINNE MORAES, atriz

‘Se ela [Luciana] voltasse a andar, a gente iria frustrar milhares de pessoas com deficiência porque elas perderiam a identificação com a alegria e a forma de encarar a vida da personagem’

IDEM

‘Quando me ligaram para dizer que a novela abordaria o tema, eu pensei: ‘Meu Deus, isso vai mudar o Brasil!’. Quando conheci o Maneco, vi em seus olhos o que estava prestes a acontecer’

FLÁVIA CINTRA, jornalista

A verdadeira Luciana

Inspiradora de Manoel Carlos, autor de ‘Viver a Vida’, na composição da personagem Luciana, a jornalista santista Flávia Cintra, 37, passou os últimos meses ‘ensinando’ a atriz Alinne Moraes a viver em cadeira de rodas. A partir de hoje, ela será uma das primeiras repórteres cadeirantes de uma grande rede de televisão. Flávia trabalhará no ‘Fantástico’. Tetraplégica há vinte anos, depois de um acidente de carro, ela ganhou destaque na mídia quando, como a Luciana da novela, ficou grávida de gêmeos. Abaixo, um resumo da entrevista que ela concedeu à Folha.

FOLHA – Como surgiu o convite?

FLÁVIA CINTRA – Fui convidada para participar de uma reportagem do ‘Fantástico’ sobre os recursos utilizados pela Luciana na novela que facilitam a vida dos tetraplégicos. Eu disse à produtora que o programa deveria fazer mais reportagens sobre o tema, que não poderia parar na ficção. Ela disse que a decisão era do diretor. Reagi pedindo um horário com ele. O Luiz Nascimento me recebeu, me ouviu atentamente e me pediu que enviasse sugestões. Nem sonhava em me tornar repórter. Uma semana depois, ele me ligou com a proposta.

FOLHA – Fará apenas reportagens sobre deficiência?

FLÁVIA – Posso trabalhar qualquer pauta. A presença de uma repórter cadeirante num programa como o ‘Fantástico’, ainda que apresentando reportagens sobre outros assuntos, é mais do que suficiente para transmitir essa mensagem. É uma conquista muito importante no aspecto coletivo. Tenho consciência da responsabilidade. Não temo críticas, mas é claro que ficarei feliz se sentir que fui aceita.

FOLHA – Como vai tirar a atenção do público da cadeira de rodas?

FLÁVIA – Em geral, há um estranhamento diante de um cadeirante. Eu compreendo. Quem não tem deficiência também saiu perdendo com a falta de participação dos deficientes na sociedade. Deixou-se de aprender com a diferença e de experimentar formas positivas de se relacionar. Aí a tendência é subestimar ou superestimar. Mas me coloco como igual: não sou ‘cadeirante jornalista’, sou uma profissional que, por acaso, está numa cadeira de rodas.

FOLHA – Qual é a sensação de ser a inspiração da principal personagem de uma novela?

FLÁVIA – Sou eternamente grata ao Manoel Carlos e ainda parece que estou sonhando. Quando me ligaram da Globo para dizer que a novela abordaria o tema, eu pensei: ‘Meu Deus, isso vai mudar o Brasil!’. Quando conheci o Maneco, vi em seus olhos o que estava prestes a acontecer. Ele é a pessoa maior que já conheci na vida. A Luciana deu forma a um sonho que parecia impossível.

FOLHA – As oficinas com a Alinne Moraes funcionaram bem?

FLÁVIA – Nossos encontros sempre foram intensos. Ela não se limitou a copiar movimentos possíveis. Ela mergulhou nas emoções de cada fase desse processo. Vimos filmes, fotos, conversamos sobre cada sentimento, cada pensamento relacionado a preconceito, comportamento, sexualidade, dificuldades e possibilidades.

FOLHA – O ibope não foi o que se esperava. O público não gostou de ver uma cadeirante?

FLÁVIA – Os resultados são visíveis nas ruas. O olhar das pessoas mudou diante de um cadeirante. Projetos estão sendo patrocinados, convênios estão sendo firmados, o tema ganhou força nas plataformas políticas, a publicidade acordou para o assunto. É o ‘efeito Luciana’. A novela nos economizou pelo menos dez anos de trabalho.

FOLHA – A Luciana era rica, contava com equipamentos de alta tecnologia. Você teve a mesma realidade?

FLÁVIA – Não, especialmente no início. Morava em Santos na época do acidente, não tinha carro e vinha de ambulância a SP para me reabilitar na AACD. Mas foi importante que Luciana tivesse condições, pois assim a novela mostrou inúmeros recursos que a maioria não tinha conhecimento nem da existência. O acesso a esses recursos dependem muito mais da informação prévia e da criatividade de cada pessoa para adaptá-los à sua realidade. Mas o importante foi mostrar a evolução emocional, psicológica da Luciana, suas conquistas, seu reencontro consigo mesma, com a família, com o mundo. Esse processo é humano e está presente em todas as faixas sociais. Ela mostrou que os cadeirantes podem ter uma vida com alegrias e tristezas, dificuldades e soluções, descobertas, amor, filhos, realização pessoal, afetiva e profissional.’

 

Amyr Klink

‘Globo Mar’ introduz tema com respeito

‘Neófito e desinteressado espectador de estreias televisivas, cheguei -bem impressionado- ao final dos quatro primeiros episódios de ‘Globo Mar’ (quintas, às 23h45; classificação não informada).

Para começar, foi boa escolha a de Mariana Ferrão e Ernesto Paglia como apresentadores.

Para um tema tão vasto e rico, tão singrado de especialistas, uma boa dose de humildade e respeito da parte de quem o introduz fez muito bem -como também fez o bom humor, sem excessos.

A ideia de convidados especiais, conhecidos do público, creio, é desnecessária. São justamente os desconhecidos autênticos que tornam interessante a vida no mar.

Péssima escolha foi o horário. Tarde como se houvesse medo de incomodar a audiência, desperta e crítica. Cedo demais para noctívagos profissionais ou navegadores insones.

Serviu para testar o público que, ao que parece, foi bom. Os temas cotidianos, escondidos do dia-a-dia de quem fica em terra, ajudarão a série. E também a nossa curiosidade pelo meio imprevisível, pelo que não conhecemos, pelo ganha-pão arriscado ou por tudo que sabemos que não faríamos.

Tentativas passadas de falar das coisas do mar, na televisão, falharam. Talvez porque nasceram empanturradas de adjetivos e exageros… tubarões assassinos, ondas descomunais -essas expressões do jornalismo que, no mar, não existem.

Talvez porque omitiram coisas simples e grandes de gente que não tem plateia e que, para continuar viva, não pode errar.

Falharam por tentar dramatizar o que é apenas difícil, vício incorrigível da nossa TV.

O assunto mar, por esse nosso lado do Atlântico, é particularmente ilustrado. A nossa história não americana, as cores da nossa pele , a diversidade de tipos de embarcações, a jangada de Piúba, um Zé Peixe usando em alto mar o corpo de 80 anos… há muito do que falar, e pautas não faltarão.

Os oceanos doces e os sólidos. Ou clima, indústria, moda, soberania, técnica, migração, música, fome, sede, guerra.

Quase tudo pode ser puro assunto de mar.

O duro, como se viu, vai ser captar as cenas. Continuidade, que até uma película como ‘Titanic’ não conseguiu; assistentes e jornalistas encharcados; atrasos e vendavais. Esses são alguns dos desafios, e é boa a ideia de não os esconder.

Competência e meios para espalhar uma série consistente -quem dera uma sucessora da lendária ‘Thalassa’ francesa- os atuais envolvidos têm. E audiência não faltará. Que não falte o engenho nem a arte.

AMYR KLINK é navegador, economista e autor de ‘Linha-d’Água’, entre outros livros.’

 

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